No último dia 25, morreu o cineasta francês Bertrand Tavernier. Ele tinha 79 anos.
Ex-crítico de cinema, Tavernier estreou como diretor de longas em 1974, com o belo O Relojoeiro, no qual já iniciou sua parceria com Philippe Noiret, com o qual trabalharia diversas vezes.
Baseado em livro de Georges Simenon, o filme conta a história de um homem de meia-idade (o relojoeiro do título) que leva uma vida pacífica, desinteressante e desinteressada - e que um dia recebe a notícia de que seu filho matou o segurança de uma fábrica e fugiu com a namorada.
Mas o roteiro não tem interesse no crime em si, mas no que revela sobre a relação entre pai e filho e, principalmente, sobre o conformismo político na França do período. Apolítico (ou seja: conservador), o sujeito aos poucos é despertado pelas possíveis motivações do filho.
Passando a respeitar a determinação do filho de não aceitar que o crime seja classificado como "passional" (que possivelmente reduziria a pena), mas sim como punição a um ex-militar vil, agressor/abusador de mulheres, o relojeiro descobre em si uma força moral/ideológica nova.
Esta transição ecoa também sua relação com o comissário responsável por investigar o crime (vivido por Jean Rochefort) e que com ele se identifica por dividirem dificuldades de comunicação com os filhos - uma metáfora de crise entre gerações e visões políticas.
"Você não pode manter as pessoas sufocadas e se surpreender quando elas começam a quebrar vidraças", diz um amigo esquerdista do protagonista em certo momento de "O Relojoeiro".
E ele está certo.
O Juiz e o Assassino (Le juge et l'assassin, 1976)
O terceiro longa de Bertrand Tavernier se baseia no caso real de um serial killer que aterrorizou o interior da França no fim do século 19, estuprando e matando dezenas de adolescentes até ser preso e executado.
No entanto, Tavernier não se mostra interessado em simplesmente recontar uma tenebrosa história de crimes, mas em usá-la como um comentário sobre a hipocrisia de uma justiça que se mostra punitiva apenas quando lhe convém (e aos poderosos)
Voltando a colaborar com o cineasta, Philippe Noiret aqui interpreta um juiz determinado não exatamente em punir o assassino, mas em usar o caso para alavancar a própria carreira - mesmo que para isto tenha que manipular o sistema e as leis que jurou preservar.
Enganando o insano Bouvier (Michel Galabru) para que este não tenha sua óbvia loucura confirmada, o que o livraria da guilhotina, o juiz ainda demonstra sua hipocrisia ao esconder a jovem (e pobre) amante, mantendo-a em um casebre miserável que adoece a jovem irmã da garota.
Além disso, Tavernier usa o caso Dreyfus como um pano de fundo revelador, demonstrando como o juiz casualmente descarta a possibilidade da inocência do oficial (não duvido que o nome do juiz, Emile, seja uma ironia ao compará-lo a Zola e seu célebre artigo em defesa de Dreyfus).
É interessante também como o filme usa um ex-juiz vivido por Jean-Claude Brialy como contraponto ao protagonista: homossexual e despido do cargo por motivos obscuros (mas certamente motivados por preconceito), o sujeito é o centro moral da história - claro, destinado ao fracasso.
Marcando a primeira colaboração de Isabelle Huppert, então com 23 anos, e Tavernier, O Juiz e o Assassino ofereceu à atriz uma de suas primeiras oportunidades de criar uma personagem memorável, iniciando como uma jovem submissa que se converte em um símbolo de resistência.
Apontando como o exército amparava o antissemitismo e sufocava a classe trabalhadora ao mesmo tempo em que a "Justiça" e o governo protegiam um sistema no qual mais de 2.500 crianças morriam em minas e fábricas de seda, este é um filme cuja militância é sutil, mas poderosa.
E o fato de trazer um assassino que, ex-militar, por muito tempo se safou justamente graças ao uniforme, faz deste longa um manifesto que usa a História do país e a história do criminoso como um comentário bem mais ambicioso do que sua sinopse poderia sugerir.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Bom, até o Estadao, jornal mais tucano do mundo, apontou que o tal site falso de Haddad parecia ter sido criado por uma empresa da campanha de Serra - e o nome do responsável pela empresa é o mesmo de um dos coordenadores das redes de Juliette. Isso me incomoda MUITO. +
E por que me incomoda? Porque Juliette foi vira-voto de Haddad, defendeu Dilma no programa (ao lado de Gil) e, portanto, representa o oposto do que essa pessoa supostamente fez pra prejudicar Haddad eleitoralmente. (Jogo sujo NAO é aceitável só por ser "um trabalho").
Não foi Juliette quem contratou a empresa, mas uma amiga dela que ficou responsável por suas redes quando ela entrou na casa. Então OBVIAMENTE não culpo a rainha pela decisão.
Mas essa decisão tinha que ser repensada considerando tudo.
Li agora a thread comparando a estratégia das redes sociais de @FreireJuliette à de Bolsonaro e devo dizer que é uma das coisas mais estúpidas que vi nos últimos tempos. Não por causa da comparação em si, mas por não ter a mínima compreensão do que levou Bolsonaro a ser eleito.
Aliás, só o fato de não perceber que o momento mais importante da campanha de Bolsonaro - e que mudou a trajetória da eleição - foi a facada (ou "facada", como muitos acreditam), a análise já vai inteira por água abaixo.
Além disso, a ideia de que Bolsonaro criou um personagem para gerar empatia é tão absurda, tão insana, que me pergunto onde a pessoa estava nos últimos anos. O que Bolsonaro fez foi o OPOSTO de buscar expandir sua base - ele se esforçou ao máximo para sedimentá-la.
E minha mãe... eu nem sei expressar a sorte que tive e tenho por ser filho dessa mulher. Viúva aos 27 anos com dois filhos pequenos, decidiu fazer Direito, ralou, montou escritório sozinha, trabalhou feito louca e NUNCA nos deixou sozinhos. Mãe superpresente. Não sei como.
Quando decidi largar a faculdade de Medicina no 7o período, na UFMG, para ESCREVER SOBRE CINEMA NA INTERNET (em 1997, quando isso nem era "profissão"), ela me perguntou "se eu tinha certeza" e em seguida disse que "faça o que vai te fazer feliz, meu filho".
(Aliás, o site começou em 97; eu larguei a faculdade em... 99, acho.)
A família endoidando, dizendo que ela não podia me deixar "jogar o futuro fora" e a danadinha me apoiou sem hesitar.
Na primeira fase de sua carreira política - que numa sociedade civilizada deveria ter sido interrompida ali -, Bolsonaro confessou o desejo pela execução de pelo menos 30 mil pessoas que ele considerava indesejáveis em sua visão de mundo.
Hoje ele atingiu um número 10x maior.
No afã antiesquerdista, no desespero para implementar um neoliberalismo que sabidamente vem aumentando as desigualdades sociais, destruindo o meio-ambiente e arruinando o mundo política, social e economicamente, as elites brasileiras ajudaram a colocar no poder um genocida.
E elas SABIAM que ele era um fascista, um sociopata, um genocida em potencial - ele nem TENTAVA esconder isso. Mas por interesse econômico, estas elites convenceram outras camadas da sociedade a votarem contra os próprios interesses. E aí está o resultado:300 mil mortos. 300 mil.
Já começou a culpar a nova variante. Que em boa parte é responsabilidade dele por não conter a pandemia no país. #BolsonaroGenocida
Canalha mentiroso. Atacou a vacina o tempo inteiro e agora vem falar que apoiou sua prod...
.... não, desculpem. Não dou conta. Não vou ver isso e nem comentar. Esse canalha genocida do @jairbolsonaro não merece qualquer ajuda pra repercutir suas mentiras.
Ele mente sabendo que sabemos que está mentindo. Apenas... não liga. Porque sociopatas são assim.
E não sabe nem ler.
Peço desculpas de antemão; sei que o "eu já sabia!" é chato e que MUITA gente já sabia, mas eu preciso ver um fiozinho com alguns tweets ao longo dos anos. Começando com a primeira vez que citei Moro aqui no twitter: