1/A renúncia dos comandantes das FFAA no dia seguinte à demissão do ministro da Defesa torna pública a maior crise militar em 36 anos de democracia. A reunião da demissão teve vozes alteradas, ameaças por parte do novo ministro e críticas nominais ao presidente Bolsonaro+
2/As demissões mostram que é latente a resistência de parte das FFAA à intenção de aparelhamento. Generais dizem temer que o presidente use a estrutura das Forças, incentivando os quartéis a recusarem resultado eleitoral em 2022 que não a vitória do bolsonarismo+
3/Não há, na visão desses generais, um risco imediato de autogolpe ou algo do gênero, mas a possibilidade de que o discurso de fraude nas eleições contamine os quartéis e impeça a posse de um oposicionista em 2023. Seria a versão brasileira do 6 de janeiro dos EUA.
4/O novo ministro Braga Neto terá dificuldades em encontrar substitutos que não aparentem ser novos generais Pazuellos, o ex-ministro da Saúde que, em outubro, depois de o presidente ter cancelado a compra de vacinas declarou que “é simples assim: um manda, outro obedece”
5/Com as mudanças nos comandos, Bolsonaro ganhou adversários poderosos. Além do Gen Santos Cruz, defenestrado em 2019, agora outros militares respeitados pelas tropas olham para o presidente como uma ameaça à democracia e à reputação das FFAA.
1/Você acha que teve emoção demais nessa semana com trocas de 6 ministros e 3 comandantes? Pense de novo. Pode haver mudança no Ministério da Economia. A relação de Paulo Guedes com o Centrão está insustentável.+
2/A dois assessores, Guedes afirmou que o Orçamento aprovado pelo Congresso fere a Lei de Responsabilidade Fiscal, abre a possibilidade de impeachment do presidente e que ele, Guedes, não permaneceria para “assinar um crime de responsabilidade” +
3/Guedes nunca enfrentou adversários tão fortes. Ontem, Bolsonaro se reuniu com Arthur Lira e o relator do Orçamento, Márcio Bittar. Eles concederam um corte de R$ 10 bilhões em emendas parlamentares. A equipe de Guedes acha pouco. Quer mais R$ 16 bilhões+
1/A decisão do presidente Bolsonaro de demitir o ministro Defesa e os comandantes das FFAA na semana dos 57 anos do Golpe de 1964 contrata uma crise para o futuro. Hoje, ele não tem respaldo popular, político, empresarial, militar ou externo para tentar ampliar sua autoridade+
2/ Mas as mudanças no topo da hierarquia militar mostram que pode ser uma questão de tempo. A data a se preocupar não é a repetição de um 31 de março de 1964, mas de um 6 de janeiro de 2021, quando trumpista tentaram impedir a confirmação de Biden como presidente dos EUA+
3/A possibilidade de Bolsonaro não aceitar uma derrota eleitoral em 2022 é real. Ele incentivou teorias de conspiração de fraudes nas urnas eletrônicas, mesmo depois da vitória em 2018 (que ele diz ter ocorrido no 1.o turno)+
1/Em entrevista no final do seu 2.o governo, FHC, disse que a força da democracia adolescente do Brasil estava em ninguém mais saber o nome dos generais. Neto e filho de generais e ex-exilado político, FHC sabia do que falava +
2/É autoengano ou ingenuidade enxergar as trocas ministeriais de ontem como um mais-do-mesmo ou um centrão-leva-tudo. O fato que importa é a troca na Defesa, a possível substituição dos comandos das FFAA e as reações internas. Com Bolsonaro, os quarteis viram núcleo de um impasse
3/Com o governo Bolsonaro reaprendemos a necessidade de distinguir quais militares tem compromisso com a democracia e quais tem compromisso apenas com o presidente
1/A substituição do ministro Ernesto Araújo é daqueles enredos de roteiristas ruins, atores canastrões e finais previsíveis. Araújo é o mais medíocre ocupante do posto em duzentos anos, mas aqui vai um spoiler: a sua queda não vai mudar em nada a política externa brasileira+
2/Por 2 anos e 3 meses, Araújo fingiu ser o responsável pela diplomacia, mas foi apenas o laranja de Eduardo Bolsonaro. Não importa quem estiver no Itamaraty, enquanto houver um Bolsonaro no Planalto, a diplomacia será bolsonarista+
3/É cômodo achar que o embate entre Araújo e os senadores é entre a chamada ‘ala ideológica” do governo e o pragmatismo. Na argumentação dos senadores, Araújo foi um entrave nas negociações para encomenda de vacinas contra Covid. Bobagem. Quem foi o entrave foi Bolsonaro+
1/Hannah Arendt escreveu que "mesmo nos tempos mais sombrios temos o direito de esperar alguma luz, e que tal iluminação pode vir menos de teorias e conceitos do que da luz incerta, e muitas vezes fraca, que alguns homens e mulheres,acenderão sob quase todas as circunstâncias"+
2/O texto é do seu livro de ensaios "Homens em Tempos Sombrios". Certamente vivemos no Brasil tempos sombrios. Hoje chegamos a 300 mil mortos por Covid e reação do governo Bolsonaro foi fraudar os números+
3/É reconfortante responsabilizar apenas o presidente, mas ele nunca chegaria a tanto se toda uma sociedade não tivesse se omitido. A conivência das elites política, militar e empresarial com o Bolsonaro cobra um preço em falta de leitos, nos kits vencidos de teste de Covid etc+
Não se fala em outra coisa nos conselhos de administração das empresas, nas lives dos executivos do mercado financeiro e nas rodas de uísque dos deputados: é preciso achar um nome alternativo a Bolsonaro e Lula ou a eleição de 2022 será uma espiral de radicalização+
2/Este nome alternativo representaria um desejo nacional pela moderação e a rejeição natural dos brasileiros aos extremismos. Desde que Lula recuperou os direitos políticos, este raciocínio simplista virou quase unânime. O problema é que a premissa dele parece ser falsa+
3/Cruzamento de dados feito pela @DataPoder mostrou que só 12% dos eleitores rejeitam ao mesmo tempo Lula e Bolsonaro. Dentre esses 12%, 28% dizem pretender votar branco ou nulo+