Já ouviu falar sobre a Ilha das cobras? A 'ilha mais perigosa do mundo'? A jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) é uma serpente que só ocorre na Ilha da Queimada Grande, no litoral de SP. Vamos entender como essa serpente só ocorre nesse local? Como chegaram lá? Segue o fio:
A espécie mais próxima da jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) imagem 1, é a jararaca (Bothrops jararaca) imagem 2. Uma espécie ancestral deu origem a essas duas espécies, por um processo de separação geográfica.
O nível do mar sofreu oscilações nos últimos milhares de anos, isolando a Ilha da Queimada Grande. Uma população dessa espécie ancestral deu origem na Ilha a jararaca-ilhoa, e no continente deu origem a jararaca.
Como esse processo ocorre? Fiz esse esquema outra vez para mostrar para você como uma espécie pode se transformar em outra. Lembre, isso leva muito tempo e é um dos processos que pode acabar originando outra espécie:
Como a jararaca-ilhoa ficou isolada em uma ilha, nesses ambientes a disponibilidade de alimentos é bem diferente do que no continente, e foi ai que a seleção natural agiu em cima dessa população e aos poucos foi acumulando essas diferenças ditas no tweet anterior.
Por exemplo, na ilha não temos mamíferos terrestres, que é a base da alimentação das jararacas do continente, as jararacas da ilha que se alimentavam de aves foram selecionadas, e as características para que isso ocorresse são incríveis:
Jararacas do continente se alimentam basicamente de roedores. Elas picam a presa e soltam, para que o roedor não a machuque. Depois, o veneno faz ação e o roedor morre, e a jararaca do continente vai atrás da presa sentindo seu cheiro.
Como a jararaca-ilhoa se alimenta de aves, ela não pode picar e soltar a presa, por que a ave pode voar e cair morta longe. Com isso, a jararaca-ilhoa desenvolveu um veneno 5x mais potente em aves do que as jararacas do continente, e ela pica a presa e não solta.
Outra diferença para a jararaca do continente, é que as ilhoas desenvolveram hábitos arborícolas. A jararaca do continente quando adulta dificilmente sobe em árvores, já a ilhoa é vista com muita frequência em árvores, principalmente por conta da sua alimentação baseada em aves.
Infelizmente a nossa jararaca-ilhoa está ameaçada de extinção. A serpente que só ocorre nesse ponto em todo o mundo, sofre ameaça principalmente por conta da biopirataria.
As preguiças-gigantes caminhavam pelo Brasil, até que há 10 mil anos foram extintas. Mas sua tocas foram preservadas, inclusive com marcas de garras pelas paredes. Essas tocas pré-históricas encontradas em Rondônia e no RS contam um pouco de como era a vida desses animais.
Temos tocas com mais de 400 metros de comprimento, e os estudos mostram que cerca de 4 toneladas de terra foi escavada por esses animais para conseguir abrir a toca.
Uma amostra de como possivelmente esses animais escavavam as tocas, e ao lado uma inegável marca de garra pré-histórica.
Sabemos da importância da Amazônia, sabemos que sem ela o Brasil não existe. Mas por que mesmo com todos esses argumentos, muitas pessoas defendem o desmatamento e por que isso está tão enraizado?
A Amazônia e a Ditadura Militar no Brasil...
Segue o fio:
A Amazônia nunca foi vista como uma floresta para o governo militar, mas sim como um produto que deveria ser explorado e usado. Foi assim que em 1966 foi criado a SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), que visava levar investimentos para a Amazônia.
E foi assim que começou a se construir a ideia que a exploração e morte da floresta seria algo benéfico. Propagandas da SUDAM (Imagem) chamavam as pessoas para investir e migrar para a Amazônia.
Com isso temos outra questão muito importante aqui, a construção da transamazônica.
No grupo das serpentes temos 4 tipos de dentições diferentes. Cada uma funciona de uma forma e serve para determinada função. Esta imagem exemplifica isso, mas vamos entender melhor?
Segue o fio:
As serpentes SOLENÓGLIFAS são representadas no Brasil pelas jararacas (Bothrops), cascavel (Crotalus) e surucucu (Lachesis).
Elas possuem essas duas presas na frente da boca e servem para inocular peçonha na sua presa;
Essas são as serpentes que falamos que picam. Elas não precisam necessariamente morder, mas sim, só usar esses dois dentes como agulha na sua presa e logo soltar. Elas picam e soltam para evitar que sua caça, como roedores, te machuquem com suas unhas/garras.
Titanoboa cerrejonensis, a maior serpente que já existiu. Chegando aos 13 metros de comprimento, a serpente podia pesar mais de uma tonelada. Este animal viveu há 60 milhões de anos e viviam a maior parte do tempo na água, mas podiam também andar em terras secas. +
Comparação de uma Titanoboa cerrejonensis em relação a um ser humano.
Apesar de não serem tão próximas, a Titanoboa cerrejonensis possuía hábitos que a Sucuri-verde (a maior serpente do Brasil) também possui hoje, como viver maior parte do tempo na água.
Comparação de uma vértebra de uma sucuri (esquerda) e de uma Titanoboa cerrejonensis (direita).
Sucuris chegam no máximo aos 7 metros de comprimento, em casos especiais. A maioria dos fósseis da Titanoboa cerrejonensis são encontrados na Colômbia.
O lobo-guará é o maior canídeo da América do Sul e costuma viver em ambientes abertos, com vegetação rasteira. Um estudo publicado recentemente, tem mostrado que os registros desse animal na Floresta Amazônica tem aumentado consideravelmente, e isso não é um bom sinal (cont)
Isso provavelmente está ligado com desmatamento da floresta, que esta transformando a Amazônia, que em sua maioria é uma floresta densa e fechada, em uma área aberta e com vegetação rasteira, local onde o lobo-guará costuma viver.
Outra questão é que o desmatamento facilita a entrada de espécies pioneiras, como é o caso do fruto-do-lobo (Solanum lycocarpum), que é um dos principais alimentos do lobo-guará.
Hoje é #DiadaConscienciaNegra e quem está no comando dessa publicação é o Matheus. O @matheus_reis8 é divulgador científico e tem muito a ensinar a todos nós. Segue o fio com o relato do Matheus:
Para quem não me conhece, me chamo Matheus Reis, graduando em ciências biológicas e divulgador científico, e mesmo 56% da população brasileira tendo minha cor, sou considerado minoria. No dia em que é comemorado Dia da Consciência Negra, venho trazer um pouco da minha realidade.
Venho de origem humilde, onde todos os membros da nossa família trabalhavam para sustentar a casa, e nas horas vagas entre estudos e trabalho em nossa chácara, assistia grandes ícones como Sérgio Rangel e David Attenborough durante a infância.