Fico meio sem jeito de fazer longas threads aqui, porque a coisa acaba tendo um tom pedante e professoral, mas talvez seja importante correr esse risco para explicar que há um ponto possível de convergência entre os que discordam sobre o que aconteceu em 1964.
Esse ponto de convergência se chama DIH (Direito Internacional Humanitário). Também é conhecido no meio militar como Dica (Direito Internacional dos Conflitos Armados), ou você também encontra como simplesmente Direito da Guerra. O que é isso?
É um corpo de normas internacionais criadas no século 19 e aperfeiçoadas ao longo do tempo para regular a forma como as guerras podem e não podem ser travadas. Inicialmente, tratava apenas de guerras internacionais. A partir dos anos 70, passou a ser aplicável também internamente
É essa aplicação aos conflitos internos que interessa no caso brasileiro. A ditadura foi uma guerra civil. Não há muita dúvida sobre isso quando olhamos para o caso da Guerrilha do Araguaia – grupo armado organizado, com comando definido, estrutura hierarquizada e
... e capacidade de manter operações de perfil militar, de maneira sustentada, contra um Exército regular. Pois bem, havendo um conflito interno (guerra civil) reconhecido como tal, aplicam-se às normas da guerra. E o que elas dizem?
Fundamentalmente, elas proíbem torturas, execuções sumárias, desaparecimentos forçados e execuções extrajudiciais. Ou seja, são regras que estabelecem um limite mínimo de humanidade e honra para os combatentes engajados num conflito.
Qual é a porta de saída digna para o Exército? É reconhecer que à luz desse ramo do direito aplicável na guerra, as Forças Armadas cometeram crimes. É dizer que esses crimes são condenáveis e não correspondem ao padrão de profissionalismo almejado pelos militares brasileiros.
Essa é a única maneira de tentar reabilitar as Forças Armadas em democracia. Não importa se o discurso corresponderia ou não à realidade, em sua totalidade. É uma saída maquiavélica, no sentido original do termo, para sanar o impasse.
Esse reconhecimento não implica necessariamente em responsabilização dos envolvidos, pois o Supremo já afirmou e reafirmou a validade da Lei de Anistia. Seria, portanto, uma jogada política para uma reconciliação nacional.
Dessa forma, os "excessos" seriam admitidos e ficariam estanques no passado. O restante das Forças Armadas seguiria então seu curso, readmitida como parte integrante e indispensável da vida nacional em democracia republicana.
Não estou dizendo uma novidade total. Pelo contrário, esse é o mais clássico caminho seguido por países que tentam se reunificar depois de uma guerra civil – com maior ou menor responsabilização dos envolvidos.
O problema é que o Brasil se deixou imobilizar por um tudo ou nada. Do ponto de vista ético e moral, a ditadura foi um desastre completo. Mas não basta dizer isso se você não constrói caminhos para uma superação do problema hoje.
A política é a arte de buscar os caminhos possíveis, que podem nem sempre ser os caminhos ideias. O que falta entre civis e militares é gente capaz de empreender essas saídas de verdade, gente que queira trabalhar na coisa e andar pra frente.
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Carlos Alberto Franco França será, então, o novo chanceler do Brasil. É descrito por um colega de Itamaraty como “pessoa querida na instituição, hábil no trato e preparado”, além de ser de “absoluta confiança do presidente”.
Novo chanceler passou anos trabalhando no cerimonial do Itamaraty. Fora do Brasil, trabalhou principalmente em temas de relação energética Brasil-Bolivia, que pode voltar à pauta no governo Arce.
De 2015 a 2017, afastado temporariamente do serviço público, foi diretor de Assuntos Corporativos e Negócios Estrangeiros da AG SA, subsidiária da Andrade Gutierrez.
TVs brasileiras deviam veicular massivamente campanhas educativas sobre como lavar as mãos corretamente, quais as máscaras que realmente funcionam, como usá-las. Esse mesmo conteúdo deveria estar sendo bombardeado nas redes, em anúncios pagos pela Fiesp, por empresas privadas ...
Se a sociedade brasileira como um todo não se mobilizar, não adianta. Bolsonaro é uma parte gigantesca do problema, nas não é tudo. A sobrevivência depende em grande medida de atos individuais, que precisam sem ensinados, difundidos, martelados exaustivamente.
Distribuição de máscara e de álcool gel, entregas de sabonete em comunidades carentes, cestas básicas, botijões de gás, marmitas, o diabo. Toda pessoas que não estiver fazendo uma contribuição mensal para algum projeto efetivo, está sendo, hoje, parte do problema, não da solução.
Se não houvesse uma pandemia, teríamos de inventá-la? Se não fosse a covid-19, estaríamos experienciando a mesma sensação apocalíptica em relação a algum outro evento, como as mudanças climáticas ou ao colapso da democracia, como o mesmo temor e ansiedade?
Para além da realidade que se impõe – e, claro, a pandemia é real –, somos parte de uma geração abduzida por um compromisso atávico com a escatologia, no sentido da reflexão exaustiva e indignada sobre o fim, o término, a extinção da própria experiência na Terra?
Essas perguntas não são a negação da realidade que estamos experimentando, mas são uma tentativa de pensar na maneira como nós processamos as experiências extremas que estamos vivendo, cada um a seu modo.
O prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), é um caso a ser investigado. No início de março, foi contra o lockdown: "Não dá para ficar fechado" por causa das "perdas de arrecadação" no município. Agora, anunciou o colapso total do sistema de saúde do município. 1/4
Em 5 de março: "A taxa de ocupação de UTIs é baixíssima, temos só duas pessoas intubadas, uma há mais de 20 dias e a outra intubada ontem”. Nove dias depois: "Não tem mais vaga na UTI de São Sebastião e não temos mais médicos intensivistas para atender a essa grande demanda." 2/4
Em 5 de março: "Não dá para ficar fechado." Nove dias depois: dos 20 internados na UTI, 11 estão intubados. As vagas de emergência zeraram. Dos 53 pacientes, 15 eram crianças. 3/4
Quero contar uma história. O dia 11 de maio de 2017 foi uma 5ª. Como repórter especial do @NexoJornal, acompanhei o depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro no caso do tríplex. Saí da redação com o dia amanhecendo, depois de analisar as cinco horas de depoimento. 1/14
Hoje revisitei o texto escrito naquela madrugada. O depoimento não foi ao vivo. A 13ª Vara só liberou os vídeos depois do fim da conversa entre Moro e Lula. Por isso, atravessei a noite trabalhando. É importante rever a cobertura, à luz das críticas feitas à imprensa hoje. 2/14
Meu texto é público, obviamente, e está disponível para leitura no link abaixo. Cada um pode ler e tirar suas conclusões. A minha é a seguinte: não lembro de ter produzido um relato mais equilibrado sobre política brasileira em toda a minha vida. 3/14 nexojornal.com.br/expresso/2017/…
Minutos depois do discurso de Lula, Bolsonaro, grande antagonista político nas projeções para 2022, se pronuncia no Planalto. Presidente diz que criou o "maior programa social do mundo" e se antecipou na compra por vacinas, o que contraria relato dos próprio laboratórios.
Bolsonaro enaltece vacinas, não minimiza pandemia, não critica a China, não fala em mimimi, não chama brasileiros de maricas e alerta para o fato de que vacinados também podem contrair o vírus. Discurso do presidente bascula radicalmente. Fala em apoiar "vizinhos na Am do Sul".
Bolsonaro troca "atendimento precoce" por "atendimento imediato". Recomenda coquetel de remédios cuja eficácia não é comprovada e cita amostragem informal de funcionários públicos que teriam se salvado graças a produtos como a cloroquina.