Uma situação muito comum em empresas é a testagem de contactantes de pacientes de COVID para liberar ou isolar seus funcionários.
Uma empresa decidiu testar todos os funcionários após 1 deles positivar para COVID. Essa estratégia os protege? Fio sobre testagem de contactantes.
Imagine que em uma empresa com 101 funcionários, 01 deles ficou sintomático, foi afastado, coletou PCR que foi positivo.
"Seguindo todos os protocolos de segurança", o chefe decidiu fazer testagem em massa e ordenou que os 100 funcionários fizessem também um PCR.
Atualmente, o Rt do Brasil (em média, isso varia de estado para estado) está em 1,12. Isso significa que cada 100 pessoas com COVID atualmente contaminam outras 112. Ou, arredondando, cada pessoa com COVID contamina 1 outra.
Em média.
Para ilustrar, digamos que esse funcionário contaminado contaminou outras 2 (acima da média) no trabalho - aquelas que sentavam nas mesas vizinhas.
Significa que em uma população de 100 pessoas (funcionários que sobraram), há 2% de prevalência de COVID.
Esses funcionários contaminados podem permanecer assintomáticos durante todo o curso da doença, contaminando outras pessoas no escritório sem que se perceba. A não ser que sejam isolados. E é aí que entra o racional (ou seria "o irracional"?) de fazer testagem em massa.
O que aconteceria com essa testagem em massa? Vamos relembrar o perfil de acurácia do RT-PCR:
- Sensibilidade (capacidade de detectar positivos entre doentes): 70%
- Especificidade (capacidade de detectar negativos entre sadios): 95%.
Esses dados são úteis? Sozinhos, não.
Não é à toa que a maioria dos leigos não sabe que testes podem ser falso-positivos e falso-negativos. Até os médicos possuem dificuldade em fazer a análise correta dos exames.
Eles acreditam que sensibilidade e especificidade são tudo o que se precisa saber de um teste.
Bem, se a sensibilidade é a capacidade de detectar doenças entre quem tem a doença e especificidade a capacidade de detectar ausência de doença em sadios, para usar esses dados, eu precisaria saber de antemão quem é doente e quem não é.
E eu não sei. Por isso pedi o exame.
É aí que entra a análise bayesiana de exames. Essa análise parte da probabilidade pré-teste ou da prevalência da doença na população. Sendo assim, veja como fica a testagem em massa desses 100 funcionários (os valores estão arredondados porque não existe meio doente).
Em um gráfico mais ilustrativo, ficaria mais ou menos assim:
Dos 100 funcionários, uma pessoa retornaria ao trabalho e contaminaria mais 1 ou 2 pessoas. Cinco receberiam diagnóstico falso positivo (PCR +, mas sem COVID).
É por isso que a OMS recomenda isolamento de contactantes que tiveram contato próximo (< 1 m) por > 15 minutos ou contato direto sem uso de máscaras.
Isso é o que, de verdade (sem "me engana que eu gosto e preciso voltar ao trabalho"), reduz a taxa de contaminações.
"Já sei o que vou fazer. Vou colher uma sorologia. Se eu for IgG + e IgM - posso retornar. Aliás, não preciso nem usar máscara".
Não, cara pálida. Você só perdeu dinheiro. Sorologia é um péssimo exame para COVID. Seja qual for a situação.
"Ah, mas eu vi na propaganda do laboratório que a sensibilidade e a especificidade da sorologia são de 100%".
Eu sei, mas sinto informar que você foi enganado porque é 100% (nem é) comparado com o PCR, que por sua vez tem uma Sense de 70% e uma Esp de 95%.
"Eu pensava que o PCR era 100% específico". Em termos analíticos, sim, mas o @lucaszanandrez pode nos explicar as razões pelas quais a especificidade cai, na vida real, para em torno de 95%.
A fonte está nesse artigo:
Resumindo, testar os contactantes para definir isolamento:
- Não protege (pessoas com doença podem não ser identificadas);
- Não é financeiramente eficiente;
- Não é uma boa conduta médica (falta conhecimento básico de bioestatística para quem não interpreta isso).
O que deve ser feito? Isolar todos os contactantes que passam por esses critérios da OMS:
- Contato < 1 metro e > 15 minutos com caso provável ou confirmado
- Contato físico direto com caso provável ou confirmado
Observe que "caso provável" deve ser isolado.
Corrigindo a árvore de valor preditivo do teste.
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1. Antoni Bayés de Luna - o maior eletrocardiografista do mundo. Professor emérito da UBA (Universidade Autônoma de Barcelona), é um incansável pesquisador em eletrocardiografia. Nunca caiu na mesmice, nunca aderiu ao Ctrl C + Ctrl V.
Foram dele as descobertas da "nova" terminologia de infarto (parede posterior não existe, só pra você saber), do bloqueio inter-atrial, da síndrome de Bayés, além de importantes consensos sobre onda T.
Este gráfico não é prova de que o isolamento/lockdown funciona. E este não é um tuite anti-isolamento.
É que para comunicarmos para uma população bombardeada por fake news e narrativas, não podemos usar as mesmas armas.
Temos que ser coerentes com métodos, não com pautas.
Fio.
Apesar de concordar com o distanciamento social como medida extremamente plausível (não sabe o que é isso? pesquise antes de comentar o fio), gráficos que mostram um desfecho que sucede alguma medida são provavelmente falsos. Neste caso, há risco de falácia ecológica.
Isso porque em uma comunidade (bairro, cidade, país), muitas coisas podem acontecer que justifiquem esse resultado, entre elas “nada”.
- Como assim nada?
Esse gráfico pode ser apenas uma coincidência. “E se há essa chance, desculpa, mas não serve como argumento”, disse a ciência
O médico leigo é uma vítima de um sistema alimentado por várias frentes, inclusive por nós.
Ele causa dano e também é culpado, mas é tão ignorante a ponto de não saber de quê.
Quer entender mais? Então segue o fio em que proponho algumas causas para a iliteracia médica.
1. Sistema de ensino mecanicista.
- O estudante de Medicina passa seis anos decorando o máximo de informações mecanicistas possível: o funcionamento de enzimas e como esse sistema disfuncionante pode causar doenças.
- O sistema desvaloriza a Medicina Baseada em Evidências.
1.2 Um resumo sobre o pensamento mecanicista, ainda preponderante em nossas universidades, e raciocínio clínico baseado em evidências vem de um antigo tweet meu.
Para os leigos: a única terapia comprovada presente nesta prescrição (além dos sintomáticos e dos remédios de uso contínuo) é a dexametasona. Mas ela está em uma dose 15 vezes maior que a preconizada. Por que? Deve ter aprendido em áudios do zap.
Há medicamentos nesta prescrição com potencial de causar hemorragias, infecções bacterianas secundárias, falência de órgãos produtores de hormônios, hepatites, entre outras.