Este gráfico não é prova de que o isolamento/lockdown funciona. E este não é um tuite anti-isolamento.
É que para comunicarmos para uma população bombardeada por fake news e narrativas, não podemos usar as mesmas armas.
Temos que ser coerentes com métodos, não com pautas.
Fio.
Apesar de concordar com o distanciamento social como medida extremamente plausível (não sabe o que é isso? pesquise antes de comentar o fio), gráficos que mostram um desfecho que sucede alguma medida são provavelmente falsos. Neste caso, há risco de falácia ecológica.
Isso porque em uma comunidade (bairro, cidade, país), muitas coisas podem acontecer que justifiquem esse resultado, entre elas “nada”.
- Como assim nada?
Esse gráfico pode ser apenas uma coincidência. “E se há essa chance, desculpa, mas não serve como argumento”, disse a ciência
Para não cair nessas falácias, o legal é que nem precisa conhecer as falácias.
É só pensar “o que aconteceria se um negacionista me mostrasse um gráfico exatamente igual a esse, só que mostrando que ivermectina funcionou na África?”. Pois é. É uma palavra contra a outra.
A verdade nunca é tão apelativa quanto a mentira, que não tem as amarras da realidade.
Sabemos que a fábrica de fake news jogadora de xadrez 4D não tem nenhum escrúpulo em usar dados manipulados e de metodologia fraca.
Analistas de ciência não podem fazer o mesmo.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
O médico leigo é uma vítima de um sistema alimentado por várias frentes, inclusive por nós.
Ele causa dano e também é culpado, mas é tão ignorante a ponto de não saber de quê.
Quer entender mais? Então segue o fio em que proponho algumas causas para a iliteracia médica.
1. Sistema de ensino mecanicista.
- O estudante de Medicina passa seis anos decorando o máximo de informações mecanicistas possível: o funcionamento de enzimas e como esse sistema disfuncionante pode causar doenças.
- O sistema desvaloriza a Medicina Baseada em Evidências.
1.2 Um resumo sobre o pensamento mecanicista, ainda preponderante em nossas universidades, e raciocínio clínico baseado em evidências vem de um antigo tweet meu.
Para os leigos: a única terapia comprovada presente nesta prescrição (além dos sintomáticos e dos remédios de uso contínuo) é a dexametasona. Mas ela está em uma dose 15 vezes maior que a preconizada. Por que? Deve ter aprendido em áudios do zap.
Há medicamentos nesta prescrição com potencial de causar hemorragias, infecções bacterianas secundárias, falência de órgãos produtores de hormônios, hepatites, entre outras.
Se você é leigo e não sabe qual lado seguir porque vê que os "médicos não estão se entendendo", esse fio é pra você entender melhor por quê não existe tratamento precoce para COVID.
Desbancando os argumentos da turma que tá te enganando desde o começo.
1. "O Dr Fulano prescreve, o Dr Sicrano usou quando ficou doente. Os médicos portugueses escreveram uma carta".
Mesmo que seja verdade e que Fulano e Sicrano não sejam charlatões, a eminência de um médico ou grupo nunca vence as evidências científicas por uma série de fatores.
2. O motivo pelo qual você deve parar de se importar com o que médicos pensam e começar a confiar nas evidências:
- Pessoas são incapazes de perceber nuances estatísticas. Sem comparar grupos, um médico pode pensar que está fazendo bem, quando, na verdade, está causando dano.
Recebo mais uma vez o site ivmmeta.
O compartilhamento dizia: "o Dr. Fulano, maior infectologista do Ceará, diz que há uma chance em 18 trilhões que a ivermectine não funcione"
Quando um médico compartilha isso, ele está assinando atestado de "médico leigo". Entenda.
É engraçado que as coisas andam em círculos. Três meses atrás isso já foi motivo de postagem minha. De lá pra cá, nada mudou - a não ser a mentira, que cresceu.
Vamos desmascarar esta mentira.
A primeira, e maior, mentira está logo no quadro inicial: "há apenas uma chance em 18 trilhões de que não funcione"
Engraçado é pensar como alguns se deixam ludibriar e continuam defendendo o indefensável mesmo após uma mentira tão baixa.
Começou o R1 de Cardiologia?
Então escuta aqui alguns conselhos de um preceptor do Dante Pazzanese (SP) pra você aproveitar melhor esses dois pesados anos.
1. Acostume-se a encontrar ECGs nos lugares mais inesperados da sua casa, como na geladeira.
2. Crie uma rotina de estudos que permita o aprendizado sistemático (e não por osmose) desde o primeiro ano, mesmo que este seja mais pesado na maioria das instituições.
Como aprender sistematicamente?
3. Forme as bases mecanicistas do conhecimento e, para isso, você precisará da ajuda do Braunwald.
Lembre-se: você não é mais um R2 de clínica que quer passar na prova de residência. Agora, o conhecimento é pra vida, então #BraunwaldSIM
Ingredientes da Mentira "perfeita" do Tratamento Precoce que o Brasil encontrou e dá um show no combate à COVID.
1. Crie uma narrativa política: faça as pessoas pensarem que todos os que apontam a mentira são de um certo espectro político e atuam por afinidade a esse espectro.
2. Aproveite que, há anos, o ensino médico brasileiro está em crise: a formação mecanicista e paternalista das universidades destoa do crescimento da Medicina Baseada em Evidências.
Os críticos não reconhecem o avanço que a MBE nos trouxe na própria COVID, com a dexametasona.
2.2 O argumento mais utilizado pela turma que acha que pode lidar com a vida dos outros em modo free style é de que "a ciência demora".
Durante este ano, comprovaram a dexametasona e criaram/testaram vacinas.
A ciência só não tem obrigação de comprovar a sua crença, só isso.