Bom dia. Decidi dar umas dicas para os lulistas fanáticos que aparece por aqui. Não são "lições", mas toques. Venho percebendo o pêndulo maníaco-depressivo que os acomete há alguns anos. Lá vai:
1) Do que trata esse pêndulo emocional que citei na introdução? Trata-se de falta de equilíbrio para se posicionar frente às adversidades e oportunidades abertas. Com Lula na jogada, os fanáticos acreditam que estamos próximos do Paraíso; sem Lula, próximos do inferno
2) Ora, do ponto de vista político, a história tem a forma de uma elipse: ela parece retornar, mas, na verdade, "volta" em outro patamar de disputa. Na prática, uma força política instiga a outra, de maneira que a vitória parcial recebe logo adiante uma resposta.
3) Lulistas fanáticos não se dão ao direito de imaginar que uma vitória de Lula pode não ser "pura", mas fruto de negociações com quem eles consideram adversários ou inimigos. Também não toleram acreditar que as vitórias são provisórias. No fundo, há certo fatalismo que os guia
4) Esse tipo de postura gera um alerta permanente: críticas à figura de Lula são classificadas como ataque e inimigos e precisam ser rebatidas imediatamente. Essa prática alucinada consome muita energia para a autoafirmação e destrói qualquer foco estratégico
5) Aqui, salto para uma segunda situação que gostaria de explorar: a ausência de sabedoria política. Sábio não significa informado ou com conhecimento pleno. Sábio tem relação com bom senso, com prudência. Uma pessoa que tem muito conhecimento pode se perder entre as alternativas
6) Uma pessoa pode buscar uma informação, mas sem conhecimento não sabe qual a orientação que gerou tal informação. Se perde entre as linhas editoriais de veículos de imprensa distintos. Já o conhecimento de teorias e escolas de pensamento pode revelar o que gerou uma informação
7) Acontece que você pode ter uma vasta gama de conhecimentos que podem se tornar "cultura inútil", justamente porque ou ela gera um viés de confirmação (não gera leitura crítica nunca, mas apenas reprise) ou faz com que a pessoa se perca
8) A inteligência (ou sabedoria) é escolha. Vem do latim (inter + elegere). Entre várias opções, eu escolho uma. De onde vem o alimento para a escolha? Dos valores morais, das crenças, da sabedoria. E é aí que o fanatismo quica na área.
9) O lulista fanático se repete. É previsível. Porque ele repete o pêndulo de sempre: ou absolutamente otimista e o dono do mundo OU absolutamente pessimista e perseguido por uma conspiração irresistível.
10) Ingressamos, então, na tragédia de Pedro e o Lobo. Muitas vezes, o perigo é real. Mas, Pedro simulou tantas vezes que o lobo estava por perto que chega uma hora que ninguém acredita no seu alerta. Justamente porque falta equilíbrio na leitura do exagerado
11) Há várias causas para essa conduta fanática. Uma delas é o estresse pós-traumático da sequência golpista: queda de Dilma, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro. Os lulistas fanáticos perderam a capacidade de reagir, a capacidade de resiliência. Desmoronaram.
12) Mas, há, ainda, um forte rebaixamento da formação política nos últimos anos. Basta retomar os documentos originais produzidos pelo PT e os discursos atuais: a mudança foi radical. Não foi um "aggiornamento", mas uma mudança de quase 180 graus.
13) Do socialismo dos anos 1980, o lulismo foi para o social-liberalismo, ou seja, a inclusão social pelo consumo tendo como foco a expansão do mercado de trabalho, não a inclusão pela política ou pelo direito. O foco passou a ser o mercado, mas com cuidado com o social
14) Essa mudança gerou uma alteração profunda no papel da militância no processo de tomada de decisão política do PT: de organismos de base muito atuantes para agitação política para valorização do(s) líder(es). Assim, se insinua um movimento de culto à personalidade
15) Lembremos: o idólatra não acredita na sua capacidade de atingir seus objetivos e sonhos e transfere para alguém que considera poderoso essa tarefa de realização. Trata-se de uma transferência política. O ídolo passa a ser parte da vida do idólatra: sua derrota é também sua
16) Com o movimento de idolatria política, a ação coletiva vai minguando e o poder absoluta do ídolo vai se legitimando progressivamente. A partir daí, o círculo se fecha e o movimento pendular ganha impulso: o termômetro para saber se estamos bem ou não é a projeção do líder
17) Chego ao final: é hora do fanatismo ser substituído pela responsabilidade política. O fanático joga a responsabilidade para o ídolo. E se queixa do mundo. O sujeito político, ao contrário, toma para si a reflexão crítica e a ação. Não transfere para outro. (FIM)
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Prometi um fio a respeito dos dados apresentados pela pesquisa INFÂNCIA E PANDEMIA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE desenvolvida pela Faculdade de Educação da UFMG. Lá vai:
1) A pesquisa foi coordenada por Isabel de Oliveira e Silva, Iza Rodrigues da Luz e Levindo Diniz Carvalho, pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Infantil e Infância (NEPEI) da UFMG. Buscou compreender as formas pelas quais as crianças vivenciam a pandemia
2) Foram mais de 2 mil crianças de 8 a 12 anos de idade contatadas para responder um questionário de 21 questões e, depois, pouco mais de 30 delas selecionadas para uma entrevista em profundidade
Bom dia. Quero explicitar minha profunda discordância com uma frágil ideia que é postada regularmente nas redes sociais que o governo atual tem um projeto. Parte desse projeto seria a promoção de mortes. Não há o menor sentido nessa observação. Vamos a um mini fio
1) Primeiro: parece doer na alma de certo segmento do campo progressista admitir que perdemos em 2018 para um dos mais incompetentes políticos que já nasceu em solo brasileiro. Para superar esse trauma, criam uma sombra de gigante
2) Não. Bolsonaro não tem projeto algum. Se analisarmos a composição instável de seu governo, perceberemos que ele isolou politicamente o atual ministro da defesa. Ou seja: rachou o campo militar. Os seus ministros "ideológicos" estão caindo de maduro, um a um.
Bom dia. Ontem eu estava realmente irritado e desanimado com tanta notícia ruim em nosso país e total falta de engajamento nosso, cidadãos brasileiros. Acordei muito cedo neste domingo da ressurreição ou Domingo de Páscoa, e fui ler um livro que ganhei do Rogério de Campos
1) Um livro divertidíssimo. Rogério é diretor editorial da Veneta e foi o responsável pela chegada dos quadrinhos europeus ao Brasil na década de 1980 e dos livros anarquistas e vanguardistas da editora Conrad. Esse “O Livro dos Santos”, lançado em 2012, parece obra de ficção.
2) São pequenas histórias de 250 santos distribuídos em mais de 300 páginas, em edição de luxo, com capa dura. Acontece que as histórias de cada santo são tão inusitadas que fui consultar na internet para saber se eram reais. E... são !!!
Bom dia. Recebi pedidos para analisar a entrevista do Lula ao "companheiro" Reinaldo. Farei um breve fio a respeito nesse dia marcado pela religiosidade. Vamos lá:
1) Ontem, Lula deu mais uma demonstração de como é realmente difícil segurá-lo. Sua fala foi precisa para os objetivos que parecem presidir sua caminhada para 2022. Foi nítido que procurava demonstrar que não há nenhuma liderança política no Brasil com a estatura de estadista
2) Citou ligação telefônica para Obama (não apenas uma), citou que ele e Bush criaram o G20, acionou mais uma vez o G20 para discutir a pandemia e instituir a vacina como bem da humanidade, deitou e rolou.
Soube, agora, da morte de Rogério Leibovitz, por Covid. Foi um dos meus amigos de infância mais marcantes. Era um espírito livre, inteligente e provocador.
Lembro do dia em que ele entrou em casa pelo muro - algo que eu fazia porque era pequeno - e quebrou alguns "elementos vazados" (uma espécie de tijolo ornamental com buracos para a brisa passar por eles e as casas ficarem arejadas).
Ficou tão desconcertado que abriu a geladeira para pegar água. O problema é que abriu com tanta força- no desespero em que se encontrava - que deixou cair duas dúzias de ovos no chão. Ele não era desastrado, mas essa cena ficou grudada na minha memória, assim como as gargalhadas.
Bom dia. Concluí minhas escutas para saber o que foi essa reforma descabelada de Bolsonaro. Foram muitos analistas, interlocutores de militares e deputados do Centrão que ouvi. Lá vai fio:
1) Bolsonaro está isolado. A reforma ministerial repercutiu negativamente porque foi meramente reativa ao “esfarelamento” político em curso. Tudo começou com o manifesto que foi publicado no final de março. Nele, duas assinaturas fundamentais: dois banqueiros
2) As assinaturas dos banqueiros Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles (Itaú) acenderam a luz vermelha no meio político porque significava o desembarque do alto empresariado do apoio ao governo federal