Cena inacreditável: Renan impede que Mandetta leia em público a carta pessoal que escreveu a Bolsonaro sobre a pandemia. O ex-ministro aceitou entregar uma cópia à comissão. Mas Renan evitou o impacto da leitura na frente de uma câmera.
internautas aqui dizendo que ler a carta seria "eleitoreiro". Mandetta narra divergências com Bolsonaro, que por fim o demitiu. A carta é - supostamente, pelo que foi sugerido - mais uma prova dos choques. É elemento da investigação e parte da narrativa da testemunha.
impedir que a testemunha apresente em público um elemento da sua narrativa prejudica a própria testemunha, que queria mostrar documento sobre sua versão dos fatos. Se queriam impedir que o depoimento de Mandetta não fosse "eleitoreiro" era simples. Era só não convidá-lo.
coube ao jornalismo (furo de @Ana_Flor ) fazer o serviço que a CPI não fez e há pouco trouxe a público a íntegra da carta >
1-diz que o INPE não tem acesso a imagens-radar. O INPE já tem acesso, de graça, a imagens-radar do satélite Sentinel-1, de alta qualidade, disponibilizadas pela agência espacial europeia: noticias.uol.com.br/colunas/rubens…
2-diz que o Brasil usa sistemas "japoneses, europeus". Os dois sistemas de monitoramento da Amazônia, Deter e PRODES, são do brasileiro INPE. Utilizam imagens também de um satélite sino-brasileiro, o CBERS, e espera colocar no ar em breve o Amazônia-1, brasileiro.
Mourão disse que retirar 3.500 garimpeiros da terra Yanomami é “complexo”. Há 23 anos, sem tecnologia, o Ibama e a PF retiraram 8.000 garimpeiros da terra nambikwara Sararé (por acaso eu estava lá e acompanhei). Nos anos 90, a PF retirou milhares de garimpeiros dos Yanomami.
chamava-se Operação Selva Livre, explodiu dezenas e dezenas de pistas de pouso clandestinas dentro da TI Yanomami. Essas ações ajudaram a melhorar a imagem e a credibilidade do Brasil. Vinte anos depois, com satélites, o Brasil perdeu o jeito, não sabe fazer. “É complexo.”
esses fatos foram amplamente cobertos pela imprensa. Na ocasião as Forças Armadas davam apoio aos órgãos civis. Na época a estimativa era de 10.000 garimpeiros, quase o triplo de hoje, segundo a conta de Mourão:
(1/3) “A ideia é que o índio se integre cada vez mais e seja dono de sua terra indígena.” Bolsonaro, como aqui já comentado, se refere ao falecido projeto da "emancipação indígena" que a ditadura militar elaborou mas não conseguiu executar porque a sociedade civil reagiu em 1978.
(2/3) o projeto da ditadura permitiria a venda de terras indígenas. Era quase cópia da Lei Dawes, de 1887, dos EUA, que levou à destruição das reservas indígenas norte-americanas. Quando a lei caiu em desuso (1934), os indígenas já haviam perdido 90 dos seus 138 milhões de acres.
(3/3) líderes indígenas podem ser pressionados, enganados, ameaçados, subornados a se desfazer das suas terras. Nos EUA, gerações que vieram depois já não tinham mais acesso às terras de seus ancestrais. A venda das terras indígenas era feita em leilões e anunciada em cartazes:
O país se torna "uma terrível ditadura tecnocrata-militar, com ditadores variáveis". Isso vai durar até que um civil "democrata e culto, vá ao poder", fará a tropa voltar aos quartéis. Quem escreveu isso em 1978, um "comunista"? Não, o próprio general golpista Mourão Filho:
"Militares supõem ser a repressão violenta e extralegal o único método contra a subversão. Não se dão conta de que eles próprios estão fazendo a subversão. Neste país não se prende, sequestra-se. Não há habeas corpus."
Os poderes do presidente general são exagerados e a Constituição por ele criada "anula quase por completo do Legislativo". Há um endeusamento histérico do homem, o que torna "um odioso autocrata". A suposta "eleição direta" é apenas um engodo.
Bolsonaro e alguns generais dizem que não houve golpe militar em 1964 porque o Congresso depôs Jango no dia 2/4 e empossou Castello no dia 11/4. A narrativa esconde toda a extensa rebelião militar liderada pelos generais antes da decisão do Congresso:
Em 20/2/64, Castello, chefe do Estado Maior do Exército, escreveu ao tenente-coronel Hélio Ibiapina: “Cresce a convicção de que se deve reagir ativamente, com iniciativa, no caso do sempre desejado golpe estatal”.
A 20/3, Castello distribui aos oficiais uma circular reservada na qual diz que as Forças Armadas não servirão ao governo “para empreendimentos antidemocráticos” e não existem para “defender programas de Governo”. A carta foi considerada o atestado de óbito do governo Jango.
Bolsonaro disse hoje que indígenas são como animais em zoológico. Helio Jaguaribe falou algo semelhante há 24 anos. Chamava as terras indígenas de "jardim antropológico" e defendeu "acabar com o índio" até o ano 2000. Generais do Exército aplaudiram: www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/8/30/…
As afirmações de Jaguaribe (morto em setembro) geraram uma intensa reação contrária. O antropólogo Gilberto Velho chamou de "barbaridade". O líder indígena Marcos Terena classificou de "limpeza étnica": www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/8/31/…