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Bolsonaro e alguns generais dizem que não houve golpe militar em 1964 porque o Congresso depôs Jango no dia 2/4 e empossou Castello no dia 11/4. A narrativa esconde toda a extensa rebelião militar liderada pelos generais antes da decisão do Congresso:
Em 20/2/64, Castello, chefe do Estado Maior do Exército, escreveu ao tenente-coronel Hélio Ibiapina: “Cresce a convicção de que se deve reagir ativamente, com iniciativa, no caso do sempre desejado golpe estatal”.
A 20/3, Castello distribui aos oficiais uma circular reservada na qual diz que as Forças Armadas não servirão ao governo “para empreendimentos antidemocráticos” e não existem para “defender programas de Governo”. A carta foi considerada o atestado de óbito do governo Jango.
Em 30/3, o secretário de Estado dos EUA Dean Rusk diz ao presidente Lyndon Johnson que “a crise vai chegar ao auge nos próximos um ou dois dias”. Pediu autorização para enviar uma frota naval para costa brasileira. “Esta é uma oportunidade que pode não vir a se repetir.”
Em 31/3, “Jornal do Brasil” traz artigo do jornalista Carlos Castello Branco com o título: “Minas desencadeia luta contra Jango”. O jornal “Correio da Manhã” circula com o editoral “Basta”, no qual pondera: “A Nação não admite nem golpe nem contragolpe”.
Nas primeiras horas de 31/3, o general Olympio Mourão Filho, comandante militar de Juiz de Fora (MG), escreve em seu diário: “Não estou sentindo nada, e no entanto dentro de poucas horas deflagrarei um movimento que poderá ser vencido”
Às 5h00 do dia 31/3, Mourão telefona para o deputado conspirador Armando Falcão para dizer que começará a mexer suas tropas em direção ao Rio. Falcão alerta o general Castello Branco, que só queria deflagrar o movimento dias depois
m 31/3, Castello avisa o comandante do II Exército em SP, Amaury Kruel, que Mourão começou a movimentar suas tropas. Castello e Kruel eram amigos e “dias antes tinham conversado e acertaram que agiriam juntos”
Mourão Filho desencadeia a Operação Popeye, com objetivo de chegar ao Rio, onde estava Jango. Castello liga para o general Guedes e ouve: “Partimos. Deflagramos a Revolução!” No final da tarde de 31/3, a tropa de Juiz de Fora havia avançado 25 km.
Às 9h00 de 31/3, o aeroporto de Brasília é fechado para pousos e decolagens civis. Em hora indeterminada de 31/3, o general Carlos Guedes encontrou-se com o vice-cônsul americano no Rio e pediu “blindados, armamentos leves e pesados, munições, combustível"
Após as 10h00 da manhã do dia 31/3, quando chegou ao seu gabinete no Ministério da Guerra, Castello despacha mensagens cifradas para aglutinar forças em diversos Estados da Federação contra Jango.
Por volta das 22h00 de 31/3, general Amaury Kruel telefona para Jango impondo condições para controlar a tropa, como demitir auxiliares e recuar de leis criadas nos últimos dias, incluindo o decreto da reforma agrária. Jango diz não. “General, eu não abandono meus amigos.”
Em 31/3, segundo Darcy Ribeiro, Jango fez vários telefonemas a comandantes militares para solicitar fidelidade, mas eles “tergiversavam e tiravam o corpo fora, deixando o governo cair”.
Darcy Ribeiro e outros colaboradores pedem a Jango que resista ao golpe, mas o presidente não quer. Tempos depois, Jango diria a Darcy que uma reação armada sua poderia ter causado 1 milhão de mortes no Brasil.
Na noite de 31/3, o general Amaury Kruel anuncia a adesão à rebelião militar, num telefonema para o general conspirador Costa e Silva. “Minhas tropas estão deixando os quartéis”, avisou.
Uma bateria que compunha o suposto “dispositivo” militar de Jango era comandada por ninguém menos que o capitão Carlos Brilhante Ustra. Na manhã de 31/3, ele conspirou e chegou a causar um engarrafamento na avenida Brasil para retardar a reação das tropas ao golpe.
Redigido na manhã do 1/4 por Golbery do Couto e Silva e assinada por Castello e Costa e Silva, um certo “Manifesto dos Generais da Guanabara” acusou Jango de estar dominado por “ostensivo conluio com notórios elementos comunistas”.
No dia 1/4, o I Exército se rendeu e foi dito que Costa e Silva seria ministro da Guerra. Às 17h45, Castello foi ao forte de Copacabana e acabou “homenageado” com uma salva de 24 tiros de canhão.
No dia 1/4, o IV Exército no Nordeste se rebelou e Miguel Arraes, governador, foi cercado. Kruel movimentou-se pelo interior de SP. No Rio Grande do Sul, entroncamentos ferroviários foram bloqueados por rebeldes golpistas.
Segundo as memórias de Darcy, em reunião com Jango em Brasília Leonel Brizola conclama todos aliados para uma guerra radical. O general Ladário contestou, dizendo que só sabia comandar a guerra militar. “Jango decidiu: ‘Não vou resistir. Não há condições’.”
fontes dos tuítes: “Castello” (Lira Neto), “A ditadura envergonhada” (Elio Gaspari), “João Goulart” (Jorge Ferreira), “Confissões” (Darcy Ribeiro), “Brasil: de Getúlio a Castello” (Thomas Skidmore)
Só depois de todo esse processo rápido e armado é que Jango joga a toalha e viaja, às 22h30 do dia 1/4, para o RS. Sua deposição é votada no Congresso às 2h00 do dia 2/4. Inverter a cronologia e dizer que os militares só chegaram depois do Congresso se chama "ajeitar a História".
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