Thread by @louverture1984

Sobre o Hamas ser legítimo, ou não, para mim parece óbvio.

Quem confere a legitimidade do Hamas enquanto partido é o povo palestino. Parte significativa dele apoia o Hamas. A legitimidade tá aí.

Pode se alegar que há discurso no Hamas que promovem o fim de Israel e anti-semitismo. Mas consideremos que o Likud também promove o fim da Palestina e o sentimento anti-árabe.

Entretanto, só o Hamas é representado como terrorista.

Ainda que desde 2008 o partido tenha se posicionado a favor da solução dos dois Estados, ainda hoje impera a versão de que o Hamas é contra o Estado de Israel. A cobertura de boa parte da imprensa segue o mesmo tom desde os anos 1990 (mesmo que o maior atentado político...

...da história de Israel tenha sido cometido por um jovem sionista de extrema-direita).

"Mas você é contra ou a favor do Hamas?"

O Hamas é um movimento que emergiu na esteira do neoliberalismo, ancorado no fundamentalismo religioso.

Quando os partidos e movimentos seculares nacionalistas e/ou de esquerda da Palestina foram perseguidos e descreditados, o Hamas recebeu auxílio (inclusive financeiro) de Israel. E diante da Primeira Intifada, o que se viu foi uma revolta de massas sem liderança definida...

Aí que o Hamas pôde prosperar. Encontrou uma massa de revoltosos sem organização e instrumentalizou eles para a luta armada (em especial após o fracasso de Oslo). Luta armada que envolvia, sim, terrorismo contra alvos civis.

A luta terrorista, contudo, é bom lembrar, não era somente tática de grupos palestinos, seculares ou muçulmanos. Inclusive foram os israelenses os pioneiros nessas táticas na região.

haaretz.com/israel-news/.p…

Mas o Hamas é, acima de tudo, um movimento conservador, construído com base no trabalho religioso de clérigos e militantes. Ao mesmo tempo, talvez seja o movimento mais engajado na libertação palestina hoje.

A minha posição nessa história toda é irrelevante, mas a luta pela libertação da Palestina e contra a colonização e a etnocracia israelense tem meu total apoio.

O fato do Hamas encabeçar essa luta não deveria minimizar as forças de esquerda que, minoritárias, existem e resistem.

Contudo, como em boa parte do mundo, a fragmentação das esquerdas dificulta a construção de plataformas mínimas para unidade na luta. Em março desse ano elas amargaram um resultado medíocre nas eleições

arabnews.com/node/1834581

Inclusive o papel de Israel no enfraquecimento desses partidos não pode ser subestimado.

Vários generais israelenses afirmam que investir no Hamas foi exatamente para enfraquecer partidos de esquerda como a FPLP, que chegou a ser a segunda maior força política da Palestina.

Enfim, encerro o fio pedindo para que se complexifique as narrativas. Reduzir a Palestina ao Hamas é exatamente o discurso do Likud, que cada vez mais quer ser reduzido à Israel (especialmente quando não conseguem maioria no parlamento).

É um discurso que favorece um dos partidos mais reacionários e colonialista do mundo e que é o maior operador do Apartheid na região. Por isso a importância de olhar de forma crítica para ele e reconhecer as muitas lutas dos palestinos pela libertação.

Com (e sem) o Hamas.