"Todos achávamos que o transporte se dirigia para alguma fábrica de armamento onde nos usariam para trabalhos forçados. Aparentemente o trem para em algum lugar no meio da linha: ninguém sabe ao certo se ainda estamos na Silésia ou já na
2. "Polônia. O apito estridente da locomotiva causa arrepios, ecoando como um grito de socorro ante o pressentimento daquela massa de gente personificada pela máquina e por esta conduzida rumo a uma grande desgraça. O trem começa a manobrar frente a uma grande estação.
3. "De repente, do amontoado de gente esperando ansiosamente no vagão, surge um grito: "Olha a tabuleta: Auschwitz!" Naquele momento não houve coração que não se abalasse. Todos sabiam o que significava Auschwitz. Esse nome suscitava imagens confusas mas horripilantes
4. "de câmaras de gás, fornos crematórios e execuções em massa. O trem avança lentamente, como que hesitando, como se quisesse dar aos poucos a má notícia à sua desgraçada carga humana: "Auschwitz", Agora a visão já está melhor: a aurora já permite ver a silhueta de um campo
5. "de concentração de colossais dimensões estendendo-se por quilômetros à esquerda e à direita dos trilhos. Múltiplas cercas de arame farpado sem fim, torres de vigia, refletores e longas colunas de figuras humanas aos farrapos, cinzentas no alvorecer, que avançam exaustas
6. "pelas ruas desoladas, totalmente retas, do campo de concentração — sem que ninguém saiba para onde. Aqui e ali se ouve um apito de comando — e ninguém sabe para quê. Em alguns de nós, o terror fica estampado no rosto. Eu pensava estar vendo certo número de cadafalsos
7. "dos quais pendiam pessoas enforcadas. O horror tomava conta de mim, e isto era bom: segundo a segundo e passo a passo precisávamos nos defrontar com o horror.
Finalmente chegamos à estação de desembarque. Lá fora, nenhuma movimentação, ainda. De repente, brados de comando
8. "daquele jeito peculiar — estridente e rude — que de agora em diante ouviríamos sempre de novo em todos os campos de concentração, cujo som é semelhante ao último berro de um homem assassinado, com uma diferença: o som também é rouco e fanhoso, como se saísse da garganta
9. "de um homem que tem que gritar constantemente assim porque está sendo constantemente assassinado...
Abrem-se violentamente as portas do vagão e ele é invadido por um pequeno bando de prisioneiros trajando a roupa listrada típica de reclusos, cabeça raspada,
10. "porém muito bem alimentados. Falam todas as línguas europeias possíveis e irradiam todos uma jovialidade que neste momento e situação só pode mesmo ser grotesca. Como a pessoa que está prestes a se afogar e se agarra a uma palha, assim o meu arraigado otimismo,
11. "que desde então sempre me acomete justamente nas piores situações, se agarra a este fato: nem é tão má a aparência dessa gente, eles estão visivelmente bem-humorados e até rindo; quem diz que não chegarei também à situação relativamente boa e feliz desses prisioneiros?
12. "A psiquiatria conhece o quadro clínico da assim chamada ilusão de indulto: a pessoa condenada à morte, precisamente na hora de sua execução, começa a acreditar que ainda receberá o indulto justamente naquele último instante. Assim também nós nos agarrávamos a esperanças
13. "e acreditávamos até o último instante que não seria nem poderia ser tão ruim."
Viktor Frankl
Esse é testemunho do neurocientista e psiquiatra austríaco, Viktor Frankl (1905-1997), de sua chegada num comboio de trem a Auschwitz
14. (que não sabia que seria o seu destino numa viagem de vários dias com cerca de 1500 judeus a bordo), o terror psicológico da descoberta desse lúgubre destino.
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1. Há décadas, o @opropriolavo destrói as mitologias — esquerdistas e positivistas — do período militar e explica como ambos ajudaram a sufocar as Direitas.
"Ninguém entenderá a história do período militar sem estar consciente de que em 1964 não houve um golpe, porém dois:
2. "o primeiro removeu do poder um governante odiado por toda a população, que foi às ruas aplaudir entusiasticamente a derrubada do trapalhão esquerdista. O segundo, meses depois, traiu a promessa de restauração democrática imediata e iniciou o longo e deprimente processo
3. "de demolição das lideranças políticas conservadoras, substituídas, no poder, por uma elite onipotente de generais e tecnocratas “apolíticos”. A grande ironia das duas décadas de governo militar foi que este, movendo céus e terras para liquidar a esquerda armada,
"Na hierarquia, todo funcionário tende a subir ao seu nível de incompetência. Em qualquer organização em que a experiência seja critério para promoção e incompetência um impedimento, essas regras se aplicam."
Laurence J. Peter
2. No lúdico livro "O Princípio de Peter", de 1969, do psicólogo e professor canadense, Laurence J. Peter (1919-1990), e do dramaturgo e também canadense, Raymond Hull (1919-1985), eles abordam um problema seríssimo e de difícil solução em nossas sociedades:
3. a estagnação de incompetentes pela necessidade de evolução por experiência.
A idéia, cujo primeiro que vi divulgá-la foi o filósofo Olavo de Carvalho, é que numa organização (empresarial, militar, governamental, científica) em que um membro tem que subir na hierarquia
1. A defesa está certa; mas os casos e penas do Giordano Bruno e Galileo Galilei, não foram por esses motivos (e o processo não foi desse jeito) e a metafísica do Spinoza (que de fato era especialista em lentes), é engenhosa, mas, só aplicável para Marilena Chauí escrever livros.
2. O caso do Giordano Bruno, mais de um século antes, o padre Nicolau de Cusa (que depois foi promovido a cardeal pela Igreja!) já havia explicitado a teoria dos vários mundos habitados. No livro do Luigi Firpo, "O Processo de Giordano Bruno", ele explica as acusações da Igreja:
3. Praticar magia e adivinhação; como católico, divulgar heresias sobre a Santíssima Trindade, a natureza de Cristo, a virgindade de Nª Senhora e sobre a Transubstanciação (como se doutrina da Igreja fosse); e acreditar em metempsicose (reencarnar até em animais e plantas).
1. Eid um dos mais profundos e importantes conselhos/esporro/idéia que o @opropriolavo deu num sujeito com espírito de coitado, que reclamava que era difícil estudar porque tinha que trabalhar... Fica a dica:
“Meu filho, o dever que você tem de trabalhar, de se sustentar,
2. "de prover as suas próprias necessidades e da sua família é parte integrante da sua vocação — se você se recusa a fazer isso, você não merece que a gente lhe dirija a palavra, porque você é subumano, você é um ladrão. O sujeito que acha que os outros ou que “a sociedade”
3. "tem a obrigação de sustentá-lo e não ele mesmo e, ainda assim, pensando com essa idéia baixa, nojenta, porca, ele ainda quer ser um escritor, um sujeito desses tem de apanhar […] Não vem com essa história de que você é artista e que não pode fazer isso.
1. Nunca que esses vermizinhos que passam o olho em trechos da Bíblia só para debocharem e escarnecerem, vão entender a galáxia de suas baixezas e ignorâncias abruptas dos eruditos e estudiosos bíblicos.
"O êxodo dos clās hebreus, como enfatizamos, foi mais do que uma libertação
2. "nacional no sentido romântico. O governante egipcio não teve de libertá-los por causa de algum princípio de autodeterminação nacional, mas para deixá-los deslocar sua sujeição para o serviço de Yahweh; ele teve de reconhecer Yahweh como o Deus que emitiu a ordem.
3. "A ordem cósmico-divina do Egito foi suprimida; e a libertação de Israel implicou o reconhecimento da ordem histórica de Yahweh em que o novo Filho de Deus tinha o primeiro lugar. O deus de Moisés não era o Deus apenas de Israel, mas da humanidade; quando Moisés conduziu
1. "— Mas, Sócrates, podes perceber que a maioria dos nomes indica movimento.
— E daí, Crátilo? Contaremos nomes como votos e terá a correção que estar com a maioria? Se mais nomes indicarem um dos dois significados, fará isso deles os verdadeiros?
2. "— Não, isso não é razoável."
Platão
No diálogo "Crátilo", Sócrates (c.469 a.C.-c.399 a.C.) lista que se os primeiros homens que deram nomes às coisas erraram ao não dar um nome condizente com a essência da coisa nomeada, tudo que derivar disso estará errado também,
3. ao que Crátilo (séc. V a.C.) tenta argumentar haver uma verdade por haver uma maioria de ocorrências de nome com movimento.
E vem a refutação do filósofo: não é porque a maioria dos nomes analisados antes eram de um jeito, que isso os torna bons nomes.