Publicamos um artigo sobre #TeoriasConspiratorias da #ExtremaDireita na pandemia.
Analisamos como Bolsonaro transformou teorias conspiratorias sobre vacinas em discurso oficial do Estado e em políticas públicas, no primeiro ano da pandemia.
Segue o fio 🧵
Analisamos as narrativas mobilizadas por Bolsonaro e seus apoiadores, entre março e dezembro de 2020. Entre essas narrativas, se sobressai a mobilização do medo de uma "conspiração comunista". Ao longo do tempo isso foi se alterando (±)
Mapeamos dois momentos no compartilhamento de teorias conspiratórias, rumores e fake news. De março a junho, o foco foi a origem do vírus culpando a China pela pandemia. O conjunto de narrativas mobilizam a categoria de "vírus chinês" (+)
De julho a dezembro, passaram a circular narrativas sobre o processo de desenvolvimento das vacinas, aí a China aparece novamente especialmente em ataques contra o imunizante da Sinovac. Aí o foco das teorias conspiratórias passou a ser a “vacina chinesa” ou a “vachina” (+)
Epidemias e momentos críticos são favoráveis ao surgimento de teorias conspiratórias, vide o caso das teorias sobre o surgimento do HIV/AIDS. No caso de “ficções políticas”, a literatura sobre o tema aponta os casos emblemáticos do assassinato de JFK e o 11 de setembro (+)
Mas vivemos um fenômeno novo. Além da dimensão da pandemia, vivemos o que Gabriele Cosentino e outros autores chamam de “globalização das teorias conspiratórias”. Quer um exemplo? (+)
Trump, Bolsonaro e seus apoiadores compartilharam as mesmas conspirações sobre pandemia, comunismo e posições anti-China. No artigo discutimos as diferenças entre os dois países e as consequências disso, que incluem a criação de inimigos internos: a mídia, os governadores (+)
Voltando à mobilização do medo: utilizamos Becker e Cohen com a “sociologia do desvio" pra compreender como essas narrativas exploram “pânico moral” na formulação de posições anti-vacina. Lembra do pênis da Fiocruz? Atriz pornô citada na CPI? Maconha? Isso é pânico moral (+)
Ruth Wodack trata da mobilização do medo e pânico nos pós 11/09. Ela descreve 4 formas de legitimação disso: 1) o uso da autoridade, 2) o valor moral, 3) o uso de “evidências” e 4) a "mythopoesis" - que é qdo pequenos fragmentos de discursos se juntam em estruturas narrativas (+)
A partir de Wodack, classificamos as estruturas narrativas anti-vacinas em circulação no Brasil em 4 tipos. Assim, os “riscos” da “vacina chinesa" estariam relacionados a: 1. Autoritarismo, vigilância e comunismo 2. Sexualização, mutação genética e experimentos científicos
(+)
3. Risco de outras doenças (autismo, demência, câncer, e aqui homossexualidade é, por vezes, tida como doença, alguém lembra da fala do presidente sobre “virar” gay depois de tomar a vacina?) 4. Aborto, controle populacional e genocídio (+)
O artigo traz ainda uma discussão sobre neoliberalismo e negacionismo a partir da dicotomia saúde x economia. Como já escrevi em outro artigo, negacionismo não é apenas usar chapéu de papel alumínio. Qdo o “mercado” toma o lugar da "ciência", isso é uma forma de negacionismo (+)
Ficou longo o fio, mas como o artigo está em inglês, achei que valeria a pena resumir. Foi mais de um ano de pesquisa em equipe. Pra quem quiser ler o artigo é Politics of fear: Far-right conspiracy theories on COVID-19, vou deixar o link. Por favor, ajudem a compartilhar 🙏 👇
O artigo foi publicado pela revista Global Discourse, da Universidade de Bristol. Ficamos honrad@s de estar no mesmo volume que uma das nossas principais referências pra esse estudo que é a Ruth Wodak, que assina um artigo sobre a pandemia. Link aqui: isabelakalil.com/conspiracy-the…
Quando enviamos o texto para os editores, ainda não tinha sido publicado o artigo do @GCasaroes e do @davidmagalhaes sobre alt-science, por isso não fizemos referência neste artigo. Mas com certeza estará nos próximos estudos sobre o tema
Esqueci de falar que não teríamos conseguido analisar todo esse material sem o esforço das agências de checagem. Consultamos o levantamento de várias agências e portais. No final acabamos nos concentrando nos levantamentos da @agencialupa@aosfatos e @Boatosorg
Algumas pessoas passaram a me seguir agora e pediram referências das minhas pesquisas sobre extrema direita:
Comecei pesquisar extrema direita (protestos de rua e mobilização na internet) nos Estados Unidos, em 2011 (+)
Passei a acompanhar jovens bolsonaristas em 2011. Não concordo com as análises de que a direita contemporânea nasceu em 2013. Nesse texto analiso o que considero ser chave que é o Plano Nacional de Direitos Humanos (+) epoca.globo.com/isabela-kalil/…
A pesquisa sobre os 16 perfis dos eleitores de Bolsonaro é a síntese de vários anos de etnografia a partir da noção de caleidoscópio: cada segmento de apoiador tem uma imagem diferente de Bolsonaro bit.ly/16perfis (+)
Resumo sobre o discurso de Bolsonaro pra ONU: 1. Evoca a verdade (o mundo mente) 2. Equipara vírus e desemprego 3. Ataca imprensa por ter defendido o isolamento social na pandemia 4. Infla o auxílio emergencial de 100 para 1000 dólares 5. Investimento em tecnologia
6. Destaca Brasil na produção de alimentos para o mundo durante a pandemia 7. Se diz vítima de uma campanha desinformação Brasil sobre a Amazônia e o Pantanal ("impatriotas") 8. Brasil seria líder na preservação ambiental 9. Mundo dependeria do Brasil para se alimentar
10. Florestas úmidas não pegariam fogo e indígenas seriam responsáveis pelo fogo de área desmatadas 11. Culpa Venezuela pelo derramamento de óleo 12. Brasil como referência humanitária 13. Abandono de posição "protecionista" na economia 14. Reforma tributária e administrativa
David Graeber nos deixou hoje. Seu trabalho marca minha trajetória de forma dupla: acadêmica e política. Em 2011, fui estudar nos EUA, em Nova Iorque, e a coisa mais importante que aprendi foi na rua e não na sala de aula. Graeber foi um dos idealizadores do Occupy Wall Street +
No Occupy Wall Street fiz minha primeira pesquisa sobre o Twitter e protestos de rua. A experiência mudou minha forma de ver a política, a academia e a antropologia. Passei a admirar os professores que, assim como Graeber, davam aula na rua. Essa era a academia que eu queria +
Com o tempo, vi o Occupy perder sua força e entendi que a potência das ruas pode tomar outros caminhos inesperados e se tornar algo conservador. Movimentos como o Occupy foram a primavera, e, no fundo, minha agenda de pesquisa é entender como a primavera se torna inverno +
Minha contribuição em fio sobre o caso da menina de 10 anos (e sobre Paulo Guedes/Damares Alves):
Sou pesquisadora do Observatório de Gênero @sxpolitics que atuou no caso e acompanho a atuação de grupos cristãos de direita, entre outros grupos bolsonaristas, há alguns anos 1/13
Nas análises, ainda é comum a separação do governo entre as "pautas morais" e o "projeto econômico" - como se fossem coisas separadas. Ou ainda a ideia de que as "pautas morais" sejam mera distração (cortina de fumaça) para encobertar aquilo que realmente importa (economia) 2/13
As chamadas "pautas morais" (leia-se questões de gênero, raça e sexualidade) não são e nunca foram mera distração: 1) pq são a própria base da reprodução de desigualdades 2) pq o projeto de Guedes é co-dependente do projeto da Damares. Explico pq: 3/13
Jornalistas não cobrirem mais o Palácio da Alvorada me lembra uma peça do Brecht, qdo o mendigo fala do imperador e seu exército:
"Ele marchava no deserto e os soldados diziam:
Ta Li, é muito longe! Vamos voltar! E o chefe sempre respondia: Não! Nós vamos conquistar o país! (+)
E continuaram marchando no deserto. Passava dia, passava noite, eles iam marchando e foram se afundando na areia. Um dia afundaram as botas, continuaram marchando. Continuaram marchando só com os joelhos!
Até que um dia veio um furacão e carregou um camelo!
Outra vez encontraram um oásis. Era um paraíso. ... Um dia eles viram morrer todos os cavalos, depois foi a vez das mulheres. Morreram todas.
ATUALIZAÇÃO: O FIO! A pesquisa que fiz sobre os perfis bolsonaristas apresenta variações em torno da figura do "cidadão de bem", que tem as raízes de sua construção em uma subjetividade classe média - que não vai correr riscos de pegar coronavírus em aglomerações públicas (segue)
Analisando a base bolsonarista nos últimos dias, há uma mudança importante com o fortalecimento da figura do "patriota", que se alimenta mais por um imaginário de intervenção militar do que pela lógica anticorrupção - caso do "cidadão de bem" (segue)
Os "patriotas" formam um grupo menor comparado com as variações do "cidadão de bem", mas representam a ala mais radical e anti-democrática e mais propensa a acreditar em teorias antisistema e conspiratórias (segue)