O vídeo da sinhá reclamando de não ter uma trabalhadora doméstica nos EUA é didático: a burguesia brasileira odeia direitos sociais (como creche, educação, saúde, garantias trabalhistas) para sempre ter uma mão-de-obra precarizada e barata disponível para os seus caprichos.
Lembrar que isso não é traço individual da dondoca, mas projeto de país que remonta à escravidão. Basta lembrar que na véspera da Abolição, os senhores constrangeram acesso à terra e despejaram imigrantes no país justamente para achatar os salários do nascente trabalho livre.
É o que venho dizendo: o neoliberalismo é uma reatualização do ethos escravocrata na atual quadra do capitalismo. Os liberais arautos da "modernização da economia brasileira" mais parecem antigos senhores que citavam Adam Smith para defender a legitimidade da propriedade escrava.
O vídeo também revela a mediocridade da nossa burguesia, que nem pode ser chamada de elite, como o @silviolual gosta de falar. Em geral aqueles que se apresentam como "bem sucedidos" no Brasil não passam de impostores que cresceram sob a hiperexploração do trabalho alheio.
Ou seja, são pessoas que em uma sociedade mais igual e competitiva, jamais obteriam qualquer tipo de sucesso. Como bons liberais escravocratas, sua "meritocracia" vai até o alpendre da Casa-Grande e desconhece o princípio da igualdade material.
Em termos estruturais, essa é uma das causas de termos uma classe dirigente que mistura canalhice, sociopatia e ignorância em níveis colossais. Não só somos comandados por quem nunca passou fome, para citar Carolina M. de Jesus, mas também por quem desconhece a louça suja na pia.
A @elida_graziane compartilhou vídeo do mestre Darcy que sintetiza o significado dessa classe dominante pervertida, perversa e infecunda.
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O @_makavelijones já fez um vídeo que sintetiza muito do que penso sobre 2013. Mas ainda gostaria de escrever um texto apenas com minhas memórias de Facebook. Essa é uma das que mais gosto: quando os liberais agiram como fascistas e começaram a expulsar os partidos dos atos.
Entre esses liberais, estavam membros de um grupo do movimento estudantil da UnB, criado por um sujeito que hoje circula por aqui como razoável.
Mais convicto, repito a pergunta: qual o modelo de democracia idealizado por esse liberalismo? A vitória do fascismo é a resposta.
É bom lembrar que o grito de "fora partidos" não surgiu do nada nas marchas: ele foi gestado em diversos contextos, especialmente em eleições de DCE, quando chapas da direita liberal surgiam com os grandes lemas do "apartidarismo" e do "rechaço à política".
Lima Barreto, furtos de bicicleta e os inocentes de Botafogo
Negro e suburbano, vivendo o racismo institucionalizado da Primeira República, o escritor Lima Barreto tinha uma relação ácida com os bairros ricos e brancos do Rio de Janeiro. Entre eles, um em especial: Botafogo. 👇🏾
Bairro do mais recente e famoso ladrão de bicicletas do Brasil (o branco Igor Pinheiro), Botafogo expressava o descompasso da nossa modernização, esculpida no concreto urbano. Preto sai (para as periferias), branco fica (no centro e zona sul).👇🏾
Nas obras de Lima, sempre houve a sagacidade de compreender como a urbanização implicou uma articulação entre classe, raça e território, na qual as remoções forçadas e a criminalização dos subúrbios aprofundou o estereótipo do negro como "bandido". Livres sim, mas subcidadãos. 👇🏾
Um país que até pouco mais de um século vivia na escravidão. Um país que há pouco mais de duas décadas contava em minutos quanto demorava para um brasileiro morrer de fome.
Delinquente e sociopata. Você que legitimou isso também o é. Odeiam o Brasil.
Não tem como ver esse tipo de coisa e o sangue não revirar. É isso que o liberalismo brasileiro sempre produziu: criminosos antipovo, ausentes de empatia, que inventam qualquer absurdo teórico para legitimar a miserabilidade alheia. Essa gente merece a lata do lixo sem dó.
O que esse delinquente está falando é nada mais que o racismo permanente de intelectuais colonizados. O europeu, por condições específicas (e ignorando aspectos “básicos” como o imperalismo), é mais resiliente e superior. O brasileiro é o preguiçoso e adepto da luxúria.
Milionário e José Rico, a China e a intelectualidade brasileira
Em meados da década de 80, Milionário e José Rico eram uma das principais duplas do sertanejo brasileiro, gênero que estava em vias de se nacionalizar e virar o grande fenômeno musical do país. 👇🏾
Em 77, lançaram o seu maior sucesso, Estrada da Vida, clássico do cancioneiro nacional, embasado na rancheira mexicana. Com o estouro, em 81, a música e a carreira da dupla inspiraram filme homônimo, de Nelson P. dos Santos. Apesar da bela estréia, o sucesso foi relativo.👇🏾
No entanto, naquele momento, final da Ditadura Militar, o Brasil estava reatando relações com o bloco comunista. Aproveitando isso, a película foi exportada para a URSS, onde participou do Festival Internacional de Filmes de Moscou, e para a China. Aí a coisa fica boa. 👇🏾
Clóvis Moura, Florestan Fernandes e os sentidos do 13 de Maio
Nesta mesma data, em 1888, a escravidão era abolida no Brasil. Perguntas rondam o evento. Qual a participação dos negros? Houve um abandono após a Lei Áurea?
Segue fio para pensar a partir de Clóvis e Florestan:👇🏾
A partir dos anos 50, ambos autores são fundamentais para romper com o modelo culturalista de interpretação do escravismo. Com isso, não só confrontam a visão da singularidade brasileira, "escravidão branda", como articulam uma perspectiva estrutural do fenômeno. 👇🏾
Em suas análises, o imbricamento entre raça e classe é central e os faz convergir em três aspectos.
1. O desenrolar do escravismo no Brasil está conectado ao desenvolvimento do capitalismo mundial. Acumulação no Norte global e escravidão negra são partes do mesmo sistema.👇🏾
Acaba de ser publicado o artigo "Constitucionalismo Negro: elementos de teoria e história constitucional a partir da Revolução Haitiana", na Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito, da Unisinos. 👇🏾
O texto é sistematização de temas que trago na dissertação. Dois são os principais objetivos. Primeiro, servir de pequeno guia introdutório da Rev. Haitiana no constitucionalismo, facilitando a abordagem em sala de aula por professores ainda não familiarizados com o assunto. 👇🏾
O segundo é esboçar uma agenda de pesquisa no direito, em que não só o Haiti seja elemento chave de compreensão do direito moderno, mas também o racismo, a escravidão e o colonialismo. Enfrentar a questão que encerra o artigo: quão negro e africano é o iluminismo?👇🏾