Para todos os que estão interessados no Haiti hoje: corpos negros têm algo a dizer não só na morte.
É importante questionar como nossa atenção seletiva, em momentos de assassinatos e golpes de estado, faz parte do jogo maior do colonialismo e do racismo. 👇🏾
Trouillot, historiador haitiano, falava que a Revolução Haitiana era uma evento impensável. Impensável não só pelo imaginário racista da época, que rejeitava a possibilidade de escravos reivindicarem em massa sua humanidade, mas impensável também nas narrativas posteriores. 👇🏾
Essas narrativas enfatizavam que um país formado por negros jamais poderia ser soberano e democrático. Tais narrativas apagavam o fato de que a soberania negada não tinha a ver com a "raça" dos haitianos, mas com a continuidade do colonialismo. 👇🏾
Quando pensamos no Haiti somente em momentos como o de hoje, quando pensamos nos negros somente na morte ou dentro de estereótipos raciais (o país do caos social ou o criminoso nato), continuamos negando a reivindicação de soberania, aquela que foi ecoada em 1804.
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O Haiti é aqui: a Minustah e a ascensão do fascismo brasileiro
Com o assassinato de Jovenel Moïse, novamente os olhos mundiais se voltaram para o Haiti e a sua situação de tensão social. Nesse enredo, o Brasil tem um grande papel, que, como boomerang, não ficou só no Caribe. 👇🏾
Em 2004, o líder popular e padre da teologia da libertação, Jean-Bertrand Aristide é alvo de um golpe de estado e sacado do poder a força, assim como havia ocorrido em 1991. Com participação dos EUA, França e UK, ele é sequestrado e enviado para a República Centro-Africana. 👇🏾
Diante dos protestos populares, o Conselho de Segurança das Nações Unidas descreve a situação do Haiti como uma “ameaça à paz e segurança internacionais e à estabilidade do Caribe” e passa a Resolução 1542, criando a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti. 👇🏾
Quando o mundo despertava dos horrores do nazismo, os haitianos ainda pagavam a sua dívida pela Independência. Antes de compartilharmos discursos e representações fáceis sobre o "país catástrofe e obtuso", que tal pensar o que o Haiti revela sobre o imoral da história humana?
Em 1825, em troca do reconhecimento diplomático e sob canhões, a França impôs a dívida da independência. Enviaram notários para contar cada centímetro, cabeça de gado, escravo, ferramenta, propriedade e etc "perdidos" com a Revolução Haitiana. 👇🏾
Isolados e com a economia arrasada pela guerra, o Haiti recorreu a bancos franceses, que impuseram taxas e juros criminosos. O dinheiro saia dos cofres desses bancos direto para o tesouro francês. Ou seja: negros enriqueceram europeus pagando pela sua liberdade e soberania. 👇🏾
O vídeo da sinhá reclamando de não ter uma trabalhadora doméstica nos EUA é didático: a burguesia brasileira odeia direitos sociais (como creche, educação, saúde, garantias trabalhistas) para sempre ter uma mão-de-obra precarizada e barata disponível para os seus caprichos.
Lembrar que isso não é traço individual da dondoca, mas projeto de país que remonta à escravidão. Basta lembrar que na véspera da Abolição, os senhores constrangeram acesso à terra e despejaram imigrantes no país justamente para achatar os salários do nascente trabalho livre.
É o que venho dizendo: o neoliberalismo é uma reatualização do ethos escravocrata na atual quadra do capitalismo. Os liberais arautos da "modernização da economia brasileira" mais parecem antigos senhores que citavam Adam Smith para defender a legitimidade da propriedade escrava.
O @_makavelijones já fez um vídeo que sintetiza muito do que penso sobre 2013. Mas ainda gostaria de escrever um texto apenas com minhas memórias de Facebook. Essa é uma das que mais gosto: quando os liberais agiram como fascistas e começaram a expulsar os partidos dos atos.
Entre esses liberais, estavam membros de um grupo do movimento estudantil da UnB, criado por um sujeito que hoje circula por aqui como razoável.
Mais convicto, repito a pergunta: qual o modelo de democracia idealizado por esse liberalismo? A vitória do fascismo é a resposta.
É bom lembrar que o grito de "fora partidos" não surgiu do nada nas marchas: ele foi gestado em diversos contextos, especialmente em eleições de DCE, quando chapas da direita liberal surgiam com os grandes lemas do "apartidarismo" e do "rechaço à política".
Lima Barreto, furtos de bicicleta e os inocentes de Botafogo
Negro e suburbano, vivendo o racismo institucionalizado da Primeira República, o escritor Lima Barreto tinha uma relação ácida com os bairros ricos e brancos do Rio de Janeiro. Entre eles, um em especial: Botafogo. 👇🏾
Bairro do mais recente e famoso ladrão de bicicletas do Brasil (o branco Igor Pinheiro), Botafogo expressava o descompasso da nossa modernização, esculpida no concreto urbano. Preto sai (para as periferias), branco fica (no centro e zona sul).👇🏾
Nas obras de Lima, sempre houve a sagacidade de compreender como a urbanização implicou uma articulação entre classe, raça e território, na qual as remoções forçadas e a criminalização dos subúrbios aprofundou o estereótipo do negro como "bandido". Livres sim, mas subcidadãos. 👇🏾
Um país que até pouco mais de um século vivia na escravidão. Um país que há pouco mais de duas décadas contava em minutos quanto demorava para um brasileiro morrer de fome.
Delinquente e sociopata. Você que legitimou isso também o é. Odeiam o Brasil.
Não tem como ver esse tipo de coisa e o sangue não revirar. É isso que o liberalismo brasileiro sempre produziu: criminosos antipovo, ausentes de empatia, que inventam qualquer absurdo teórico para legitimar a miserabilidade alheia. Essa gente merece a lata do lixo sem dó.
O que esse delinquente está falando é nada mais que o racismo permanente de intelectuais colonizados. O europeu, por condições específicas (e ignorando aspectos “básicos” como o imperalismo), é mais resiliente e superior. O brasileiro é o preguiçoso e adepto da luxúria.