Decidi traduzir para português o fio da @celinegounder envolvendo sistema imunológico e as vacinas, para facilitar o alcance para quem não sabe inglês.
I decided to translate @celinegounder's thread to portuguese to help those who can't understand english
A partir daqui tudo foi traduzido direto do fio, exceto um único comentário meu a respeito da tradução de "breakthrough infection". Foi uma tradução livre minha, peço perdão se algum termo não tiver tido a tradução correta. Espero que gostem :)
1/ Aqui vai uma revisão compreensível dos dados a respeito da NECESSIDADE DE DOSE DE REFORÇO.

O DETALHE MAIS IMPORTANTE:
SE VOCÊ NÃO SE VACINOU CONTRA A COVID, AGORA É A HORA!

Eu vou por um Threadreader no final para quem acha mais conveniente para ler/compartilhar.
2/ Vamos precisar de doses de reforço para COVID?

Primeiro, "reforço" é a terminologia correta?
Eu diria que não.

Eu acho que o que estamos falando é em refinar o regime de dose das vacinas da COVID.
3/ Quando um médico te prescreve um medicamento para pressão alta e depois aumenta a dose, não significa que o medicamento não funcionou.

Eles apenas não sabiam que dose seria melhor para você e resolveram começar baixo ao invés de exagerar.
4/ Similarmente com a COVID, ainda estamos otimizando os regimes de dose.
5/ Com a hepatite B, descobrimos que é necessário 3 doses. A 3ª dose não é um "reforço". Ela é a 3ª dose da série. Não damos reforços anuais da vacina de hepatite B. Apenas damos uma série de 3 doses.

Com a COVID pode ser igual.
6/ Por razões que ainda não entendemos completamente (mas que fazem bastante sentido), o sistema imune reconhece exposições repetidas a um patógeno como uma ameaça maior.

Dai então o sucesso de regimes divididos em 2 ou 3 imunizações.
7/ Porque você precisaria de mais de uma dose da vacina?

- Para aumentar a duração da resposta imune (ex: vacina de coqueluche)

- Para superar o escape imunológico (ex: vacina de influenza)
8/ Nossa resposta imune para algumas doenças infecciosas dura mais do que para outras.

Vírus e outros patógenos sofrem mutações. Quanto + rápido e + significante forem as mutações, + rápido eles poderão escapar do nosso sistema imune.

Patógenos tem mutações em taxas diferentes.
9/ Mutações na proteína spike do SARS-CoV-2 podem levar ao escape imunológico.

Nenhuma variante do SARS-CoV-2 escapa totalmente do sistema imune.

A variante Beta, depois em um grau mais baixo, as Gamma e Delta, escapam parcialmente as respostas imunológicas.
10/ Mas se nós tivermos uma resposta forte o suficiente, podemos superar esse escape parcial.
11/ Como iremos saber se precisamos ajustar o regime de dose para COVID?

- Diminuição da eficácia das vacinas
— É importante esclarecer o que estamos falando quando dizemos eficácia das vacinas
—Vejam o que a Katherine We diz sobre isso no The Atlantic: theatlantic.com/science/archiv…
12/
— Infecções "invasivas" não são o mesmo que doença "invasiva" (nota: não sei se "invasiva" é o melhor termo para "breakthrough", o significado é infecções que acontecem em vacinados)
— Nossa resposta de saúde pública está atualmente na fase de controle de doenças.
Estamos tentando reduzir as doenças severas, hospitalizações e morte. O que mais importa nesse estágio é a doença "invasiva"
13/
— Portanto, infecções "invasivas" parecem causar sintomas leves ou nenhum.
— Mas infecções "invasivas" ainda podem ser uma preocupação se elas levam à infecções em outros, especialmente não vacinados que estão em risco de COVID severa.
14/
- Correlatos de imunidade/proteção
— São medidas que ajudam a prever a eficácia das vacinas
— São sinais medidos de que alguém está imune
15/
— Correlatos de imunidade/proteção são como níveis de colesterol. Eles predizem quem tem maior risco de ataque cardíaco e quem precisa de tratamento. nature.com/articles/s4159…
Atualmente, anticorpos neutralizantes (nAbs) são o melhor correlato de imunidade
16/
Este gráfico mostra a correlação entre anticorpos neutralizantes e eficácia protetora das vacinas.

Títulos de neutralização predizem a eficácia das vacinas, ao menos QUANDO os nAbs são medidos durante os testes de fase 1 a 3, ou seja, alguns meses no máximo, após a vacinação
17/ Mas o quão bem os níveis de anticorpos neutralizantes correlacionam com a eficácia das vacinas depois de mais tempo após a vacinação?

Se os títulos de anticorpos neutralizantes diminuem, isso significa que eles se foram para sempre?
18/ É importante lembrar aqui que há mais no sistema imune do que anticorpos.

Vamos revisar como O SISTEMA IMUNE HUMORAL funciona.
19/ Estas curvas rosas representam níveis de anticorpos.
Logo após uma infecção ou vacinação, os anticorpos aumentam.
Mas eventualmente, os níveis irão cair.
Mas isso não significa que você não está mais imune à infecção depois que os níveis de anticorpos diminuem.
20/ Você não iria querer que os níveis de anticorpos se mantivessem altos indefinidamente para cada patógeno que te infecta ou para cada vacina que você toma, pois seu sangue ira engrossar. Se seus plasmócitos de vida curta, seus linfonodos seriam do tamanho de bolas de futebol.
21/ Quais são as outras respostas imunes que te protegem?
Inicialmente após a infecção/vac, linfócitos B imaturos reconhecem fracamente a proteína do antígeno. Isso leva a uma proliferação e diferenciação destes linfócitos B em plasmócitos de vida curta, que secretam anticorpos.
22/ Plasmócitos de vida curta são responsáveis pela resposta de anticorpos primária.
Quando estes plasmócitos de vida curta morrem, os anticorpos que eles produzem diminuem.
23/ Mas a resposta imune não acaba aqui.
Linfócitos B e T nos linfonodos, baço e alguns órgãos linfáticos secundários formam CENTROS DE GERMINAÇÃO, que são como uma última etapa da escola para células imunológicas.
24/ Através de um processo chamado HIPERMUTAÇÃO SOMÁTICA, linfócitos B maduros desenvolvem MATURAÇÃO DE AFINIDADE, se tornando cada vez melhores em reconhecer o antígeno.
25/ Enquanto a quantidade de anticorpos produzida diminui com o tempo, a qualidade destes anticorpos aumenta.

Títulos de neutralização representam tanto a quantidade quanto a qualidade.
26/ Nos centros de germinação, alguns destes linfócitos B se tornam plasmócitos, que migram para a medula e se diferenciam em PLASMÓCITOS DE VIDA LONGA.
27/ Leva ~2-3 semanas após a vacinação até a medula se tornar o local de maior concentração na produção de anticorpos.

Plasmócitos de vida longa na medula podem continuar secretando anticorpos por décadas após a infecção/vacinação.
28/ Plasmócitos de vida longa na medula secretam anticorpos para fornecer proteção imediata após uma reinfecção.

Cerca de metade dos anticorpos no sangue de um adulto saudável são produzidos por plasmócitos de vida longa.
29/ Células B de memória também são geradas durante as reações no centro de germinação e podem rapidamente responder a uma reinfecção.

Algumas células B de memória permanecem nos órgãos linfáticos, enquanto outras saem e circulam novamente entre o sangue e os órgãos linfáticos.
30/ Células B de memória de vida longa não secretam anticorpos, mas vivem por períodos mais prolongados.

Quando elas enfrentam novamente um agente patogênico, elas se proliferam e se diferenciam em plasmócitos. Esses plasmócitos então fazem anticorpos.
31/ Células B de memória se proliferam e se diferenciam muito mais rápido que linfócitos B imaturos, então a resposta imune secundária é mais rápida e mais forte (notem como o segundo pico da curva de anticorpos tem uma inclinação mais acentuada e um pico mais alto).
32/ Então se os títulos de anticorpos neutralizantes diminuem após a infecção ou vacinação, isso significa que você não está mais imune?

Não. Você ainda está protegido pelos plasmócitos de vida longa na medula e as células B de memória.
33/ De fato, células B de memória continuam a aumentar em quantidade vários meses após a infecção pelo SARS-CoV-2 com um aumento progressivo da hipermutação somática e maturação de afinidade.
34/ Como nós definimos os correlatos de proteção/imunidade. Não questão de apenas O QUE, mas QUANDO.

- Os títulos de anticorpos neutralizantes medidos logo após a vacinação predizem a eficácia da vacina a longo prazo?
35/
- Podemos pensar em um pico inicial de anticorpos neutralizantes como um ponto de ajuste?
- Os títulos de anticorpos neutralizantes são um valor de prognóstico análogo à contagem de linfócitos T CD4+ ou picos de carga viral em pacientes com HIV?
36/
- Ou os anticorpos neutralizantes medidos anos depois correlacionam com a diminuição da eficácia das vacinas?
37/ É importante identificar bons correlatos de proteção/imunidade.

Nós não seremos capazes de conduzir testes clínicos controlados e randomizados para todas as doses/regimes/combinações de vacinas para cada nova variante.
38/ Mas e quanto a resposta imune inata?

O SARS-CoV-2 é muito bom em suprimir a resposta imune inata prevenindo, por exemplo, a liberação de interferons do tipo 1.

A resposta imune inata controle a replicação viral no trato respiratório e pulmões.
39/ A resposta imune inata também estimula as respostas imunes adaptativas, como a resposta por linfócitos B e T.
cell.com/cell/fulltext/…
biorxiv.org/content/10.110…
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32887754/
40/ E quanto as células T?

Células T CD4+ estão mais fortemente associadas à COVID mais leve. A resposta por células T pode ser importante para eliminação do vírus mais rápida e reparo de tecido.
41/ Aonde a resposta por células T é deficiente ou nula, a resposta imune inata pode continuar (tempestade de citocinas) e causar hiperinflamação vista em pacientes com COVID severa.
biorxiv.org/content/10.110…
science.sciencemag.org/content/371/65…
42/ Então quais são os melhores correlatos de proteção/imunidade contra o SARS-CoV-2?

No início? Títulos de anticorpos neutralizantes?

Depois? Títulos de anticorpos neutralizantes e/ou plasmócitos de vida longa na medula e células B de memória?
43/ Esse gráfico mostra o que acontece com a resposta de anticorpos após 2 doses da vacina da Pfizer.
Em vermelho são pessoas que não tiveram COVID antes de se vacinarem.
Em preto são pessoas que tiveram COVID antes de se vacinarem.
44/ Nos dois casos, os títulos de anticorpos atingem o pico mais ou menos 4 semanas após a segunda dose da vacina da Pfizer e depois diminuem.
nature.com/articles/s4158…
Isso é ESPERADO acontecer como dito no #19 acima
45/ Esse gráfico mostra o que acontece nos centros de germinação (GC) nos linfonodos (LN) após a vacinação.
Células B de memória e plasmócitos nos linfonodos continuam a maturar e se fortalecer.
46/ Apesar dos anticorpos diminuirem com o tempo, plasmócitos de vida longa na medula e células B de memória ainda dão proteção.
nature.com/articles/s4158…
47/ Se você também está protegido por plasmócitos de vida longa e células B de memória, deveríamos estar olhando para eles também?

Ou nos níveis de anticorpos neutralizantes logo após a infecção/vacinação são um bom substituto?

Não sabemos.
48/ Quando nossa resposta imune—anticorpos, plasmócitos de vida longa e células B de memória—diminui o suficiente para sabermos que precisamos de uma dose adicional da vacina para a COVID?
49/ Outras perguntas ainda sem resposta, também:
- Nos não sabemos como os títulos de neutralização decaem com o tempo para pessoas que se infectaram e pessoas que se vacinaram.
- As taxas de decaimento são diferentes para pessoas naturalmente infectadas e vacinadas?
50/
- A taxa de decaimento é predita pelos títulos de anticorpos neutralizantes inicial?
- O seu nível inicial de anticorpos neutralizantes predizem a robustez e duração dos seus plasmócitos na medula e suas células B de memória?
51/
- Como a idade e imunossupressão impactam a duração e a robustez da sua resposta imune?
nature.com/articles/s4159…
52/ Como explicado acima, precisamos ajustar o regime de doses das vacines dependendo se você precisa de mais doses
- para estender a DURAÇÃO da resposta imune
OU
- para superar o ESCAPE IMUNOLÓGICO (isto é, mutações e evolução do patógeno)
53/ E é aqui onde as variantes do SARS-CoV-2 entram.

Mesmo que a resposta imune após a vacinação seja DURÁVEL, ela pode não ser FORTE ou PRECISA o suficiente contra novas variantes.
54/ O estudo de fase III Ensemble da vacina da J&J nos deu um sinal inicial de que a resposta imune da vacinação poderia ser superada pelas variantes
nejm.org/doi/full/10.10…
55/ Lembrem-se que as fases III da Pfizer e da Moderna foram conduzidas ANTES do surgimento das variantes de preocupação do SARS-CoV-2.

A vacina da J&J teve uma eficácia mais baixa no Brasil e na África do Sul, onde as variantes de preocupação (VOC) surgiram.
56/ Estudo Ensemble fase III da J&J
nejm.org/doi/full/10.10…
Brasil: 70% dos casos de COVID durante o estudo pertenciam à variante P.2
África do Sul: 95% dos casos de COVID durante o estudo pertenciam à variante Beta
57/ Agora vejamos os correlatos de imunidade/proteção para a vacina da J&J contra as variantes.
Estes são dados da fase I-IIA da vacina da J&J dada em uma ou duas doses e regimes de dose baixa e alta.
nature.com/articles/s4158…
58/ Note que a dose única, baixa concentração autorizada pelo FDA são os triângulos preenchidos.

As barras horizontais representam a mediana da resposta de anticorpos neutralizantes para cada variante.
59/ A mediana dos títulos de anticorpos 71 dias após a vacinação eram 5x e 3.3x menores para as variantes Beta e Gamma, comparados às variantes antigas.

Mas mesmo vendo uma queda, os títulos de anticorpos neutralizantes permanecem bem acima do limiar de detecção.
60/ Aqui está outro estudo. Novamente a J&J, dada em doses baixas e altas e regimes de 1 e 2 doses.
O eixo-x mostra as variantes do SARS-CoV-2: "original/antiga" (WA1/2020, D614G) vs as variantes de preocupação (Alfa, Delta, Gama, Beta)
O eixo-y mostra os títulos de neutralização
61/ O gráfico no topo mostra os anticorpos neutralizantes um mês após a vacinação.
O gráfico embaixo mostra os anticorpos neutralizantes 8 meses após a vacinação.
nejm.org/doi/full/10.10…
62/ A linha horizontal vermelha é a mediana dos títulos de anticorpos neutralizantes em cada grupo.
nejm.org/doi/full/10.10…
63/ Anticorpos neutralizantes para as variantes eram menores do que para as cepas mais antigas tanto 1 mês quanto 8 meses após a vacinação.
Isso é ainda mais evidente para a Beta com uma redução de 13x após 1 mês e 3x após 8 meses, comparada à cepas antigas.
64/ Esses dados são consistentes com a maturação de afinidade e melhor atividade neutralizante contra as variantes de preocupação conforme o tempo passa. nejm.org/doi/full/10.10…
65/ Aqui está mais evidência da eficácia da J&J (e Pfizer e Moderna) contra as variantes.
Este é um coorte de profissionais da saúde em @nyuniverisy @nyulangone (ou seja, os colegas de trabalho da Celline)
biorxiv.org/content/10.110…
66/ Este gráfico mostra os títulos de anticorpos neutralizantes induzidos por cada vacina (BNT162b2 = Pfizer, mRNA-1273 = Moderna, Ad26.COV2.S = J&J) contra a cepa antiga do vírus (D614G) e as variantes de preocupação.
67/ Enquanto as vacinas da Pfizer e Moderna mantem atividade neutralizante significante contra as variantes de preocupação 80-90 dias após a vacinação, a vacina da J&J não.
68/ Vamos agora ver as vacinas da Pfizer e da Moderna. Ambas são vacinas de mRNA com eficácias comparáveis, então irei discutir as duas juntas.
69/ Irei focar nos estudos mais recentes da Pfizer e da Moderna, que foram conduzidos após o surgimento da variante Delta.
70/ Aqui está evidência no mundo real da eficácia da Pfizer e da AZ contra as variantes Delta e Alfa no Reino Unido.
medrxiv.org/content/10.110…
71/ Nesse estudo de controle de caso, duas doses da Pfizer eram 93% eficaz contra a variante Alfa e 88% eficaz contra a variante Delta.
medrxiv.org/content/10.110…
72/ Aqui estão dados do Public Health England (PHE).

Ajustada para idade, comorbidades e outros fatores relacionados, viram que 2 doses da Pfizer era altamente protetora contra doença sintomática contra as variantes Alfa e Delta (OR 0.06 e 0.12 respectivamente)...
73/...e altamente eficaz contra hospitalização relacionada à infecção pela Alfa e a Delta (Eficácia de 95% e 96%, respectivamente).
khub.net/web/phe-nation…
74/ Agora vamos ver os correlatos de proteção/imunidade, ou seja, a atividade de anticorpos neutralizantes induzidos pelas vacinas da Pfizer e Moderna.
75/ Estes são títulos de neutralização 35-51 dias após as pessoas receberam 2 doses da Moderna ou 7-27 dias após receber 2 doses da Pfizer.

A linha horizontal pontilhada representa o limiar de imunidade protetora.
76/ Apesar de haver uma queda na atividade neutralizante contra a Delta, comparada à cepa original WA1/2020, tanto a Pfizer quanto a Moderna induziram uma resposta protetora contra ela.
nejm.org/doi/full/10.10…
77/ Aqui estão dados do estudo Legacy no Reino Unido.

2 doses da Pfizer induziram anticorpos neutralizantes protetores contra todas as variantes exceto em 3% dos participantes com a Delta e 5% com a Beta.
thelancet.com/journals/lance…
78/ Os títulos de neutralização para a Beta e Delta foram menores do que para as cepas antigas e a Alfa.
thelancet.com/journals/lance…
79/ Aqui estão dados da França.
Este gráfico mostra os anticorpos neutralizantes 5 semanas após 2 doses da Pfizer.
A linha pontilhada representa o limiar de detecção
nature.com/articles/s4158…
80/ Títulos de anticorpos neutralizantes são significantemente menor para a Beta do que para a antiga D614G e Alfa.

Já para a Delta, os anticorpos neutralizantes eram um pouco menor do que a Alfa e a antiga cepa D614G.
nature.com/articles/s4158…
81/ Porque a Pfizer então anunciou que uma 3ª dose da vacina para COVID pode ser necessária?
cdn.pfizer.com/pfizercom/2021…
82/ Os dados que a Pfizer compartilhou com o time de resposta à COVID da casa branca ainda não vieram a publico. Estes dados são baseados no acompanhamento da Pfizer dos vacinados em fase III do estudo clínico.
nytimes.com/2021/07/12/us/…
Estes dados precisam vir ao público.
83/ A nota à impressa da Pfizer diz "dados de um estudo recente na Nature demonstram que soro obtido pouco tempo depois da 2ª dose... tem fortes títulos de neutralização contra a variante Delta em testes de laboratório."
84/ Aqui estão os dados do artigo da Nature:
eixo-x: cepa original vs variante Delta
eixo-y: títulos de neutralização
A linha pontilhada é o limiar de detecção
Numeros acima das barras = média geométrica dos títulos
nature.com/articles/s4158…
85/
Círculos: duas semanas após da 2ª dose da Pfizer
Triângulos: 4 semanas após a 2ª dosa da Pfizer

Há uma queda nos títulos de neutralização contra a Delta, mas os títulos continuam bem acima do limiar de detecção.
nature.com/articles/s4158…
86/
O que isso significa para os plasmócitos de vida longa e as células B de memória?

O que isso significa para a eficácia da vacina contra a Delta?
87/ Finalmente, como idade e imunossupressão impactam as respostas das vacinas?
88/ Vamos começar com a idade.

Pessoas mais velhas tem uma resposta imune menos robusta porque são menos capazes de produzir hipermutações somáticas e maturação de afinidade (a escola de células B está fechando).
89/ Pessoas mais velhas também tem uma resposta de citocinas por células T mais fraca.
nature.com/articles/s4158…
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26472076/
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25157137/
90/ Este gráfico mostra como pessoas abaixo de 80 versus 80+ responderam a duas doses da Pfizer contra as variantes.

Vejam a redução pequena nos títulos de neutralização entre os 80+ para cada variante.
nature.com/articles/s4158…
91/ Mas a 2ª dose da vacina da Pfizer se manteve potente contra as variantes, incluindo entre os maiores de 80.
nature.com/articles/s4158…
92/ Aqui estão dados do estudo Legacy no Reino Unido novamente.

Estes participantes receberam 2 doses da vacina da Pfizer.
thelancet.com/journals/lance…
93/ Há não apenas uma redução dos anticorpos neutralizantes induzidos contra a Beta e a Delta, quanto há uma redução nos títulos de neutralização por idade.
thelancet.com/journals/lance…
94/ Próximo, vamos agora ver pessoas imunossuprimidas.

~5% da população dos EUA são imunocomprometida. Isso inclui pacientes de transplante de órgão, pacientes de diálise e pacientes em tratamento immunosupressor para doenças autoimunes ou câncer.
95/ É importante lembrar que pacientes com imunossupressão AINDA DEVEM SER VACINADOS.

Eles podem não responder tão bem à vacinação como outras pessoas, mas ELES DEVEM AINDA SER VACINADOS.
96/ Nós sabemos que pacientes de transplante de órgão parecem não responder tão bem à vacinação pela COVID.
acpjournals.org/doi/full/10.73…
Casos de COVID severa foram observados entre pacientes de transplante de órgão que receberam duas doses de vacinas de mRNA.
onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/aj…
97/ Este é um estudo que olhou para pacientes de diálise e transplante de rim.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
98/ Nós damos drogas para suprimir a resposta do sistema imune de pacientes de transplante de órgão para que eles não rejeitem o órgão transplantado.
99/ Os controles eram em sua maioria profissionais da saúde e significantemente mais jovens do que os demais 2 grupos.
A linha horizontal é a mediana dos títulos de neutralização para cada grupo.

immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
100/ Níveis de anticorpos neutralizantes são baixos para pacientes de diálise, mas são quase nulos para pacientes de transplante de rim.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
101/ Ainda mais, esse estudo não encontrou geração de plasmócitos e células B de memória em transplantados. Várias partes do sistema imune foram afetadas pela imunossuperssão.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
102/ Nós podemos precisar aumentar a dose de vacina e/ou dar doses adicionais, e mesmo isso pode não ser o suficiente para induzir uma resposta imune protetora em todos os pacientes que são altamente imunossuprimidos.
Precisamos lembrar que vacinas são uma ferramenta, mas precisaremos de outras ferramentas também.
103/ Aqui está outros estudo olhando para resposta de anticorpos neutralizantes em pacientes de diálise crônica, que são levemente imunossuprimidos, vs transplante de rim, que são altamente imunossuprimidos.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
104/ Os pontos pretos mostram títulos uma semana após a 2ª dose da Pfizer e os vermelhos 3 semanas após a 2ª dose da Pfizer.

Títulos de neutralização eram significantemente menores em transplantados.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
105/ Em adição, estes pesquisadores(as) encontraram uma produção bem menor de plasmócitos e células B de memória em pacientes de transplante de rim e pacientes de diálise, comparados ao controle.
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
106/ Os pontos pretos representam pré-vacinação e os vermelhos são a resposta de células B pós-vacinação
immunology.sciencemag.org/content/6/60/e…
107/ Este é outro estudo olhando para 658 pacientes de transplante de órgão (rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas) que receberam vacinas de mRNA.
jamanetwork.com/journals/jama/…
108/ Os regimes de imunossupressão deles incluia micofenolato de mofetil, azatioprina, esteróides, tacrolimus, sirolimus, everolimus, ciclosporina e/ou belatacept.
jamanetwork.com/journals/jama/…
109/ Os pontos laranja representam anticorpos neutralizantes após 2 doses da Pfizer ou Moderna.

46% não tinham resposta de anticorpos após as duas doses
jamanetwork.com/journals/jama/…
110/ Aqui está um estudo que investigou dar uma TERCEIRA dose da Pfizer para transplantados de rim, fígado, pulmão, coração e pâncreas.

As barras horizontais são a mediana dos títulos de anticorpos para cada grupo
nejm.org/doi/full/10.10…
111/ A terceira dose da Pfizer induziu níveis de anticorpos neutralizantes detectáveis.

Com mais doses e outros regimes de dose, nós podemos conseguir superar os efeitos de redução das drogas imunossupressoras. nejm.org/doi/full/10.10…
112/ E quanto a pacientes de transplante de células tronco? As respostas deles para as vacinas também é afetada?

Baseado neste estudo da Lancet, 2 doses de mRNA parecem ser o suficiente para adequar a proteção de transplantados de células tronco.
thelancet.com/journals/lance…
113/ Outros pacientes, tipo pacientes de doença autoimune, também recebem drogas imunossupressoras.

Este estudo olhou para pacientes com artrite reumatóide recebendo drogas imunossupresoras.
thelancet.com/journals/lanrh…
114/ DMARDs sintética convencional (30%): metotrexato, sulfasalazina, hidroxicloroquina, leflunomida, azatioprina

DMARDs biólogicos (47%): etanercept, adalimumab, infliximab, golimumab, certolizumab, Anakinra, tocilizumab, rituximab, abatacept
thelancet.com/journals/lanrh…
115/ DMARDs sintética direcionada (47%): inibidores JAK (tofacitinib, baricitinib, upadacitinib)
thelancet.com/journals/lanrh…
116/ eixo-y: títulos de neutralização após 2 doses da Pfizer ou Moderna.

As barras horizontais representam a mediana dos títulos de anticorpos: 2500 entre os controles saudáveis vs 657 entre os pacientes com artrite reumatóide.
thelancet.com/journals/lanrh…
117/ Títulos de anticorpos neutralizantes eram significante menor em pacientes com artrite reumatóide 2 semanas após a vacina, comparado aos controles saudáveis.
thelancet.com/journals/lanrh…
118/ Pacientes com alguns câncer também podem ser imunossuprimidos.

Este estudo olhou para pacientes com câncer.
cell.com/cancer-cell/fu…

Eixo-y: anticorpos neutralizantes
Linha horizontal: média de anticorpos neutralizantes para cada grupo.
119/ Pacientes com câncer no sangue tinham títulos de neutralização mais baixos após a vacinação contra a COVID do que pacientes de tumores de órgão sólido (ex: câncer de pulmão).
cell.com/cancer-cell/fu…
120/ Drogas imunossupressoras são usadas frequentemente para tratamento de câncer.
121/ Algumas drogas resultaram em títulos de neutralização menores após a vacinação—tratamento de anticorpo anti-CD38, anti-CD20, CAR-T—enquanto transplantados de células tronco (SCT) não.
cell.com/cancer-cell/fu…
122/ Aqui está um estudo olhando para pacientes sendo tratados com leucemia linfocítica crônica e linfoma não-Hodgkin e que receberam vacinas de mRNA.

Jurgens et al. Serologic response to mRNA COVID-19 vaccination in lymphoma patients. Am.J.Hematol. (in press)
123/
BTKi = Bruton's tyrosine kinase inhibitor (ex: ibrutinib), venetoclax e terapia anti-CD20 são todas as drogas imunossuprimidas para tratar câncer.
124/ Pacientes recebendo estas drogas tinham significantemente menos títulos de neutralização para a vacinação comparados à adultos saudáveis ou pacientes de câncer que não tinham iniciado o tratamento ainda.
125/
Jurgens et al. Serologic response to mRNA COVID-19 vaccination in lymphoma patients. Am J Hematol. (in press)
126/ O que é realmente impactante é que pacientes recebendo estas drogas para tratamento de leucemia linfocítica crônica ou linfoma não-Hodgkin permaneceram imunossuprimidos com uma baixa resposta à vacinação mesmo 24 meses após o tratamento.
127/ França foi o primeiro país a começar a dar terceiras doses de Pfizer/Moderna para pacientes imunossuprimidos, incluindo transplantados de órgão, pacientes que receberam transplante de medula recente, diálise, ...
128/ ... e pacientes com doenças autoimunes passando por tratamento imunossupressor forte (ex: anti-CD20).
nytimes.com/2021/07/04/hea…
solidarites-sante.gouv.fr/IMG/pdf/dgs_ur…
129/ Israel anunciou que iria dar a 3ª dose de Pfizer para pacientes imunossuprimidos.

ft.com/content/79574d…
130/ Até o @CDCgov / ACIP e/ou @US_FDA / VRBAC oferecerem guia, será difícil pacientes imunossuprimidos receberem uma 3ª dose de vacina de mRNA (ou uma dose de vacina de mRNA após 1 dose da J&J) nos EUA.
131/ Em adição de dar uma dose adicional ou doses mais altas para pessoas imunossuprimidas, outras opções incluem pausar metotrexato, que mostraram melhora na imunogenicidade para a vacinação contra influenza:
ard.bmj.com/content/77/6/8…
thelancet.com/journals/lanrh…
133/ Como sumarizar o que tudo isso significa?

- Nós não temos ainda dados em favor da adição de doses ou doses mais altas da vacina da COVID para o público geral.
134/
- Com relação à 3ª dose da vacina, a Pfizer apresentou dados de um acompanhamento em andamento da fase III para o time de resposta à COVID da casa branca esta semana, mas esses dados ainda não estão públicos.

Estes dados precisam se tornar públicos.
135/ Baseado nos dados disponíveis, algumas exceções e grupos que creio ser indicada uma dose adicional da vacina contra a COVID incluem:
136/
- Pessoas que receberam a vacina da J&J, especialmente pessoas mais velhas que teriam uma resposta imune mais fraca.
Porque? A vacina da J&J oferece uma proteção menos robusta contra as variantes Beta e Delta.
137/
- Pacientes de transplante de órgão sólido e outras imunossupressões significativas.
138/ Nós ainda estamos estudando a mistura de tipos de vacinas.

Isto é, quando a 1ª dose é de um tipo (ex: J&J ou AZ) seguida de uma 2ª dose de outro tipo (ex: Pfizer ou Moderna). Dados preliminares sugerem que uma mistura pode ser mais potente.
140/ Faz sentido fazer um teste para verificar se você está imune após a vacinação?

A FDA recomenda contra isso. Isso é completamente desnecessário para a maioria das pessoas.

Entretanto...
141/ Se você está em um grupo de alto risco (ex: transplante de órgão), pode fazer sentido ser testado junto com um especialista em doenças infecciosas ou imunologista. É importante que o teste a ser requisitado a interpretação sejam corretos.
142/ O teste certo é um teste quantitativo de alta sensibilidade de proteína Spike.

Muitos testes de anticorpos para COVID detectam anticorpos contra a proteína do nucleocapsideo. Você irá testar negativo nestes testes se estiver vacinado, não infectado.
143/ Vacinação é um tratamento para COVID longa?

Possivelmente.
144/ Já foi hipotetizado que os sintomas de COVID longa são resultados de
- persistência da replicação do SARS-CoV-2 (talvez em locais imunoprivilegiados tipo o cérebro)
- fragmentos virais deixados após à infecção
- doença autoimune despertada pela infecção
145/ @Yale's Akiko Iwasaki @VirusesImmunity lidera o caminho nessa pesquisa:
yalemedicine.org/news/vaccines-…
A ideia do estudo vem do @Survivor_Corps, a um grupo base de pacientes de COVID.
146/ Em uma enquete @Survivor_Corps postada para a comunidade de pacientes sobre os efeitos da vacinação na COVID longa, eles encontraram que 40% das pessoas reportaram resolução leve ou total dos sintomas após serem vacinados.
147/ Nós precisamos de doses EXTRAS de vacina para tratar COVID longa?

Não sabemos.
Thank you @celinegounder again for this thread :)
Acabou 😅. Vou pedir ajuda para os divulgadores de alcance muito maior que o meu compartilharem se quiserem para que tenha um alcance maior para pessoas interessadas aqui no twitter. @oatila @mellziland @otavio_ranzani @luizacaires3 @Capyvara @marciacastrorj @marfcg @LeSarturiP

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19 Jul
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Notem também como os óbitos não aumentaram seguindo o aumento de casos, atestando mais uma vez a segurança das vacinas contra a severidade da doença. A vacinação agora começa a cobrir a galera de 40-49 com a 2ª dose por la Image
Se você não ta acostumado com esses gráficos de mapa de calor ai em cima, eu expliquei como se lê eles rapidinho nessa thread curta
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1 Jul
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