COVID-19 e crianças: o que sabemos, o que ainda não sabemos e por que devemos sim nos preocupar com a #Delta para essa população?

Um mini-fio pra iniciar a semana com algumas informações, mas ainda muitas perguntas 🧶👇
Se observarmos pandemias passadas, na SARS (2002), os casos infantis eram esporádicos e tinham uma história clara de exposição. Na COVID-19, apresentam uma história clara de disseminação dentro de famílias infectadas doi.org/10.1016/s0140-…
Em 2020, muito se falava que a COVID-19 poderia ser "mais leve" em crianças. No entanto, elas ainda têm risco para condição grave, especialmente as que apresentam alguma doença, imunocomprometimento ou ou uso de imunossupressores por longo prazo

ijidonline.com/article/S1201-…
Uma revisão sistemática (2020) viu-se que tanto crianças<1 ano, quant de faixas etárias maiores (1-18 anos) são suscetíveis ao SARS-CoV-2, e as principais manifestações foram febre e tosse, a maioria apresentava doença assintomática, leve e moderada ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/P…
Desde o início da pandemia, 4,09 milhões de crianças (🇺🇸) tiveram resultado positivo, de acordo com a AAP. O nº total de casos pode ser muito maior do que o relatado, porque muitos casos leves provavelmente não foram diagnosticados services.aap.org/en/pages/2019-…
Isso, considerando as cepas/variantes circulantes nesse período. Agora com a disseminação da variante #Delta, mais contagiosa/transmissível, podemos ver mais casos em crianças no futuro, especialmente se elas não forem vacinadas. wsj.com/articles/kids-…
E, como mencionado, crianças ainda tem risco de ter casos mais severos: até Julho/21, mais de 16.000 crianças nos 🇺🇸 foram hospitalizadas e mais de 300 morreram. services.aap.org/en/pages/2019-…
As crianças infectadas também correm o risco de desenvolver uma doença rara, chamada síndrome inflamatória multissistêmica (MIS-C), que envolve a inflamação de várias partes do corpo. Cerca de 4.100 foram registrados nos 🇺🇸cdc.gov/mis/cases/inde…
Nos 🇺🇸, 71.726 casos infantis de COVID-19 foram notificados na última semana de 22/07/21-29/07/21 (4.126.570 a 4.198.296) e as crianças representaram 19,0% (71.726/378.497) dos casos relatados semanalmente
Em duas semanas (15/07/21-29/07/21), houve um aumento de 3% no número acumulado de casos infantis de COVID-19 (110.380 casos adicionados) services.aap.org/en/pages/2019-…
Além de afetar crianças e levar a riscos no agravamento, a pandemia tem uma face sombria que afeta diretamente os pequenos: a orfandade é uma pandemia oculta resultante de mortes associadas ao COVID-19 thelancet.com/journals/lance…
De 01/03/20 a 30/04/21, cerca de 1.134.000 crianças experienciaram a morte de cuidadores primários, incluindo pelo menos um dos pais ou avós.

1.562.000 crianças experienciaram a morte de pelo menos um cuidador principal ou secundário segundo o estudo acima
Ainda, o número de crianças órfãs excedeu o número de mortes entre aqueles com idade entre 15–50 anos. Entre duas e cinco vezes mais crianças tiveram pais falecidos do que mães falecidas. Os países estudados foram 🇵🇪, 🇿🇦, 🇲🇽, 🇧🇷, 🇨🇴, 🇮🇷, 🇺🇸, 🇦🇷 e 🇷🇺
Muito disso passa desapercebido na vida e nas decisões de muitas pessoas ao não se vacinarem. Ao não se vacinar, além do risco para si, o risco para outros é crítico, podendo comprometer uma família de n formas. Temos que entender que nossas decisões não impactam somente a nós
Com o aumento de casos por conta da #Delta, há uma preocupação crescente com as crianças que ainda não são elegíveis para receber a vacina.

A AAP diz que as crianças agora respondem por mais de 1/5 dos novos casos. Há um ano, era cerca de 3%

abc7.com/covid-vaccine-…
E situações mais sérias são observadas nesse cenário, desde o requerimento de suplementação de oxigênio, até cenários em que essa suplementação não é suficiente.

Por isso é importante a adesão à vacinação se a criança estiver nos grupos indicados para a vacina
Atualmente, a 💉da Pfizer está indicada para crianças de 12-17 anos. Apesar de muitos pais terem receio por conta de casos de miocardite, a relação com a vacina ainda carece de maior comprovação, sendo muito raros, mantendo-se a recomendação da vacinação. cdc.gov/coronavirus/20…
Ainda, a COVID longa, que tanto falamos em recuperados de COVID-19, também pode afetar adultos jovens e crianças sem condições médicas crônicas subjacentes, bem como aqueles que apresentaram sintomas leves durante a infecção aguda por COVID-19. unicef.org/stories/novel-…
Num estudo recente da 🏴󠁧󠁢󠁳󠁣󠁴󠁿, casos de #Delta foram encontrados principalmente em faixas etárias mais jovens, com risco de hospitalização dobrado para a varainte #Delta do que para outras variantes, como a #Alfa.

thelancet.com/journals/lance…
Num cenário de retorno às aulas presenciais antes de atingir uma cobertura vacinal para as faixas etárias mais jovens, os cuidados devem ser mais que redobrados. Nunca os suscetíveis estiveram tão suscetíveis a COVID-19 como agora. givingcompass.org/article/the-im…
Segundo a reportagem acima, em 🇮🇱, que liderou todos os países em sua campanha de vacinação, mas imunizou apenas 2 a 4% dos jovens de 12-15 anos, viu o número de pacientes com COVID-19 em seu sistema educacional triplicar na 2ª semana de Junho/21.
Em virtude dessa faixa etária estar muito suscetível a COVID-19, o FDA deve expandir sua autorização de uso emergencial de vacinas COVID-19 para crianças no fim de 2021 ou no início de 2022.
Nos 🇺🇸, com o aumento de casos de COVID-19 em faixas etárias jovens, também está sendo visto um aumento de casos por vírus sincicial respiratório (VSR), que muitas vezes requer hospitalização, colocando o sistema hispitalar em risco de sobrecarga.
Esse fio é bastante preocupante e vale a leitura para ficarmos atentos a não subestimar a COVID-19, principalmente frente a #Delta, nos pequenos

[FIO EM ANDAMENTO - Aproveita e serve mais um ☕️]
De forma paralela, com o retorno das aulas presenciais, há um constante medo de um disparo de novos casos pela #Delta nos 🇺🇸, com a possibilidade de vermos grandes surtos em escolas que não vimos nas ondas anteriores, tendo o risco de afetar desproporcionalmente as crianças
Apesar de não termos dados indicando que crianças teriam maior probabilidade de pegar a variante #Delta do que os adultos, as crianças menores de 12 anos têm maior probabilidade de serem infectadas por não terem ainda se vacinado contra a COVID-19. abc10.com/article/news/v…
Portanto, é importante pensarmos, ainda mais, enquanto sociedade: precisamos redobrar os cuidados, principalmente de vacinados, pois não sabemos o quanto vacinados podem contribuir com a transmissão e acabar expondo as crianças. Precisamos que TODOS usem máscara.
Apesar de entender o quanto o ensino remoto impacta no desenvolvimento e aprendizado nessa faixa etária (eu trabalho há muitos anos com neurodesenvolvimento), não seria indicado fazer esse retorno presencial, nesse momento.
Seria mais seguro planejar o retorno para o próximo semestre, num cenário com uma cobertura vacinal muito maior.

Mas tendo em vista que muitas escolas farão esse retorno agora, precisamos conversar com nossos pequenos bem como com os colégios para manter os cuidados redobrados
A melhor forma de proteger teu pequeno é todos ao redor dele se vacinarem, tão logo possível, e seguirem se cuidando ao máximo, usando máscara e fazendo o máximo de distanciamento possível sempre que estiver em ambiente público.
Ainda, é importante que os colégios tenham em mente os cuidados para manteros ambientes bem arejados e ventilados, bem como os cuidados com a higienização e proteção dos pequenos.

O que me preocupa é se todos os colégios teríam como fazer isso. Muito me preocupa.
E isso é crítico. Quando as medidas de mitigação não estão em vigor, tendo ainda um número significativo de suscetíveis, [as taxas de novos casos podem ser muito mais altas eurosurveillance.org/content/10.280…
Em meados de junho, o Ministério da Saúde de 🇮🇱 identificou quase 90 casos a mais entre os contatos próximos das pessoas inicialmente infectadas, incluindo familiares, amigos e companheiros de equipe. nature.com/articles/d4158…
Não estou dizendo aqui que o retorno presencial não deve ser feito. Mas questiono QUANDO deveria ser feito.

Agora, tendo menos de 50% da população-alvo com 2 doses? No próximo semestre, com maior cobertura? Todas as escolas tem condições de fornecer ambientes seguros?
O sistema híbrido pode ser uma estratégia nesse momento. Mas a obrigatoriedade do presencial não deveria ser uma realidade nesse momento, não com um grande número de pessoas com o esquema incompleto/suscetíveis.
Não temos uma resposta certa aqui, mas temos muitas perguntas em aberto para estarmos trazendo isso como uma realidade *nesse momento*. Ao meu ver, teria sido mais prudente planejarmos para o início de 2022, com outro cenário, outro nível de controle.
Mas a situação ideal parece ser algo constantemente fora do escopo da nossa realidade aqui no Brasil, fruto do nosso nada coordenado e muitas vezes desarranjado enfrentamento enquanto sociedade dessa pandemia.
A melhor coisa que posso pedir, com toda a força que resta no meu limitado ser, é: CUIDEM-SE. Por ti, pelos outros, pelas crianças, por todos que ainda são muito suscetíveis. Te vacina, usa máscara, orienta os teus próximos e não coloque a vida de outras pessoas em risco.

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More from @mellziland

4 Aug
DF apresenta a maior taxa de casos da variação #Delta da COVID-19, por 100 mil habitantes. Até o momento, o Ministério da Saúde registrou 247 casos da variante Delta em todo Brasil. O Rio de Janeiro concentra 99 casos, seguido do DF, com 51 infectados 👇

g1.globo.com/df/distrito-fe…
De acordo com a Secretaria de Saúde, em 01/08, o DF atingiu 25,26% da população completamente vacinada contra a COVID-19. A #Delta tem avançado no país, porém a #Gama segue sendo a predominante, por enquanto. Em SP, 50 novos casos foram registrados

g1.globo.com/sp/sao-paulo/n…
Em SP, do total da população adulta, 83,8% receberam a primeira dose, mas apenas 32,4% já tomaram a segunda dose ou imunizante de dose única, segundo a reportagem acima. A #Delta está em transmissão comunitária no estado

Read 12 tweets
3 Aug
Eu não paro de me surpreender com o quão longe pessoas podem ir negando a gravidade da pandemia. Dessa vez, foi no meu fio sobre COVID-19 e crianças. Além da clara distorção dos dados, as pessoas simplesmente não se desfazem do véu de "não aconteceu comigo ainda, não acontecerá"
Gente, que alívio que tu não perdeu ninguém pra COVID-19. Que esplêndido que seu filho voltou pro presencial e há N meses não se contaminou. Agora o que acontece contigo não deve pautar políticas públicas. Dados de populações sim.
Se tu discorda de algum ponto no meu fio, rebata com dados, não com opiniões/vivências no assunto. Também não vai adiantar tentar me desqualificar porque "nunca tratei ninguém com COVID-19". É importante que nunca tenha tratado, minha profissão não tem esse escopo.
Read 4 tweets
30 Jul
Alguns dados de documentos do @CDCgov foram liberados, mostrando questões relevantes sobre a variante #Delta, confirmando muitas das quais já imaginávamos. Resolvi comentar nesse fio esses dados.

O conhecimento é nossa melhor arma contra a pandemia 🧶👇
Vamos dividir por assuntos:
1⃣ Casos de COVID-19 em vacinados
👉É algo ESPERADO. Sempre comentamos que o poder de evitar a doença grave poderia ser maior daquele de evitar a infecção. E é justamente isso: os poucos casos, a doença se manifesta de forma leve/moderada.
Outro ponto que discutimos: os estudos com a 3ª dose, muito importante para modificarmos nossa estratégia sempre visando numa proteção maior, especialmente de grupos como imunocomprometidos/idosos em que sabemos que a eficácia das vacinas é diferente
Read 33 tweets
29 Jul
As atenções voltadas para a #Delta, e precisam estar. A #Delta já é a variante de predominância global, e aqui no 🇧🇷, temos a #Gama até o momento predominante. Será que a #Delta predominaria sobre a #Gama?

Não sabemos, mas pode ter mais "competidoras" nessa história 🧶👇
Ainda em Março/21, eu fiz um fio de um brilhante trabalho de vigilância da @fiocruz mostrando que a #Gama (que nos referíamos como P.1 naquele momento) poderia estar sofrendo adaptações em virtude do seu amplo espalhamento no país

Uma breve revisão de porque uma transmissão acelerada tem relação com um risco aumentado em vermos mais variantes surgirem, e dentre elas, alguma(s) que possa(m) nos preocupar

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29 Jul
O pesadelo de quem usa óculos: a lente escapou da armação e tu tem um parafuso minúsculo, nenhuma chave adequada o suficiente e tu precisa consertá-lo pra poder seguir trabalhando

No entanto, tu não enxerga direito sem o óculos e precisa consertar o óculos pra enxergar direito
1 da manhã e eu batendo (ou melhor, parafusando) pino
Isso tudo depois de assistir Quiet Place, que me deixou transtornada pra caramba a ponto de cometer esse acidente com o meu óculos

Por que eu faço isso comigo mesma? hahahha
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