Carta aberta da StandWithUs Brasil a Gregório Duvivier
Sobre ficção, não ficção e o conflito israelense-palestino.
Nesta quarta-feira (4), ao comentar a leitura do livro "Detalhe menor" (Todavia, 2021), da autora palestina Adania Shibli, Gregório Duvivier foi além do romance e afirmou sobre o conflito israelense-palestino:
"Está tudo ali: a violência, o apartheid, a negação do direito à memória. A Nakba continua, nunca parou".
Realmente impactante, o romance "Detalhe Menor" narra como as decisões políticas de líderes árabes e israelenses reverberam no dia a dia e abalam violentamente a vida da personagem. O "detalhe" que dá título à obra é a própria vida das pessoas.
Gregório também afirmou que "um romance vale mais que mil artigos". Entretanto, mesmo pungente, o romance de Adania Shibli não substitui a não ficção, no que se refere ao conflito.
Sem os artigos, sejam acadêmicos ou jornalísticos, falta contexto para os termos "apartheid" ou "nakba", e cerca de 100 anos de história trágica para dois povos é reduzida a uma luta do bem contra o mal.
Ainda sobre usar a ficção e a não ficção para tratar do conflito israelense-palestino, o escritor Amós Oz julgava importante fazer uma distinção clara entre ambos.
Ele dizia até que usava canetas de cores diferentes quando escrevia artigos ou romances (a preta era destinada à política e a azul a histórias inventadas). Isso porque, na literatura, seus personagens tinham plena liberdade para ter visões de mundo diferentes das do autor.
Mas ao expor sua opinião nos jornais, Oz fazia questão de ser coerente e de se ater aos fatos.
Nakba, a catástrofe a que Gregório se refere, foi fruto de uma escolha de lideranças árabes, as quais recusaram a partilha da Palestina proposta pela ONU em 1947.
Palestinos se relembram todos os anos do dia em que Israel foi fundado como algo terrível. Mas não com igual frequência recordam ter tido a mesma chance de ter um país - rejeitada por políticos que não queriam ser vizinhos de judeus.
Quanto à acusação de apartheid, Gregório já foi a Israel e, mesmo que não tenha ficado por tempo o suficiente para explorar todos os cantos do país, deve ter visto que instituições públicas e privadas não separam árabes e judeus israelenses — entre várias outras provas de que +
o país não é um regime segregacionista.
É importante lembrar que tanto judeus quanto árabes viviam na região da Palestina (nome dado pelo Império Romano) na década de 1940, época em que o livro "Detalhe menor" começa.
Em Jerusalém, cidade da autora, a presença judaica é ininterrupta há milênios. Judeus e árabes também foram submetidos ao mandato dos britânicos -- um tema vastamente explorado em artigos e em romances.
"É assim que me lembro de Jerusalém depois daquele último verão do mandato britânico: uma cidade de pedra espalhada pelas encostas nas colinas. Nem era propriamente uma cidade, mas vários bairros isolados, separados por campos repletos de pedras e arbustos espinhentos.
Nas esquinas, por vezes ficavam blindados britânicos, com suas vigias quase fechadas, como olhos ofuscados pela luz e suas metralhadoras apontando para fora, como dedos que diziam: Você", descreveu Amós Oz, na autoficção "Pantera no Porão"(Companhia das Letras, 1999).
Apagar a trajetória israelense por causa de uma narrativa desvinculada dos fatos históricos é uma tendência que intelectuais como Gregório deveriam rechaçar.
Retratar Israel como um regime de apartheid é corroborar movimentos racistas como o BDS, que, prega boicote, desinvestimento e sanções ao país.
Cruzar a linha entre o impacto de uma leitura de ficção e afirmativas que colocam em xeque a legitimidade de um país é um movimento que reforça preconceitos e injustiças históricas.
Nas palavras da romancista israelense Ayelet Gundar-Goshen:
"Boicotes culturais são uma catástrofe; primeiro, eles dão privilégio à ignorância. É ignorar a complexidade da sociedade israelense. E acho que complexidade e diversidade são exatamente o que leitores e escritores devem buscar diariamente.
Em segundo lugar, eles apenas ajudam a mentalidade de cerco. Se estamos falando sobre Israel TEPT [transtorno de estresse pós-traumático], boicotes culturais reforçam isso - você não é paranóico se as pessoas realmente estão perseguindo você.".
André Lajst
Diretor Executivo StandWithUs Brasil
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Ontem foi a posse do novo presidente do Irã, Ebrahim Raisi, acusado por várias organizações de direitos humanos de ter matado mais de 4000 opositores do regime dos aiatolás em 1988.
Na inauguração, imagens da televisão iraniana mostraram a proximidade do vice-diretor de relações exteriores da União Europeia, Enrique Mora, com os líderes dos grupos terroristas, que também estavam presentes no evento, sentados na primeira fileira:
o líder do Hamas Ismail Haniyeh, o líder da Jihad Islâmica Palestina Ziyad al-Nakhalah, o vice-líder do Hezbollah Naim Qassem e o negociador-chefe e porta-voz dos Houthi, grupo radical do Yemen, Mohammad Abdulsalam.
AINDA SOBRE O BOICOTE DA BEN & JERRY'S A ISRAEL (SIM, A ISRAEL, NÃO APENAS À CISJORDÂNIA)
A polêmica decisão da marca de sorvetes Ben & Jerry's de cessar suas operações na Cisjordânia e Jerusalém Oriental gerou dúvidas, desinformação, explicações que omitem dados e manipulam fatos para tentar encaixar parte da realidade em uma agenda política ideológica.
Alguns pontos que devem ser levados em consideração para entender que, de fato, a Ben & Jerry's tem como objetivo boicotar Israel como um todo há muitos anos:
A dica de leitura de hoje é o livro “Hezbollah: The Global Footprint of Lebanon’s Party of God”.
Trata-se da primeira análise completa das atividades secretas do Hezbollah além das fronteiras do Líbano, incluindo suas redes de apoio financeiro e logístico e suas operações criminosas e terroristas em todo o mundo.
O Hezbollah - o "Partido de Deus" do Líbano - é uma organização multifacetada: é um poderoso partido político no Líbano, um movimento religioso e social islâmico xiita, a maior milícia do Líbano, um aliado próximo do Irã e uma organização terrorista.