O Holocausto perpetrado pela Alemanha nazista só foi possível porque o terreno foi sendo preparado em diversas frentes. Umas delas é a CULTURA.

A vergonhosa ideia de um "museu da vergonha" não tem como não nos remeter ao início do processo que culminou na Shoá. Sigam o fio!
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Sabendo do potencial crítico, os nazistas proibiram manifestações artísticas contrárias ao regime. A arte, na ótica nazista, teria como função não abrir-se ao livre-pensamento e a críticas sociais,mas exaltar a pátria, a superioridade da raça ariana e o protagonismo do partido.
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Como dizia o ministro nazista da propaganda Joseph Goebbels e, mais recentemente, o então secretário especial da cultura Roberto Alvim, a arte deveria ser "heroica", "nacional" e "imperativa", "ou não será nada".
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No entanto, para isso, proibir não era suficiente. A arte resiste subterraneamente.
Assim, os nazistas não somente proibiram manifestações culturais contrárias a seu ideário, como trataram de ridicularizá-las.
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É nesse objetivo que se enquadraram as exposições "Arte degenerada" (1937), que atacava quase toda arte moderna, e "Música degenerada" (1938), em que o grande alvo, dentre outros, era o jazz, popular nos anos 1920 e descrito pelos nazistas como "música negra ajudeuzada".
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A Enciclopédia do Itaú Cultural possui um verbete sucinto sobre a exposição "Arte Degenerada". O texto utiliza, dentre outras fontes, uma obra compilada pela curadora do Museu de Arte Moderna de Los Angeles, Stephanie Barron.

enciclopedia.itaucultural.org.br/termo328/arte-…
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Passados mais de 80 anos, aqui no Brasil, este que está presidente da Fundação Palmares pretende criar um "museu da vergonha" com parte do acervo da instituição, que ele chama de "livros marxistas e bandidólatras" e "desviantes".

noticias.uol.com.br/politica/ultim…
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Sua ideia inicial era descartar mais de 300 obras de autores dos mais variados, de Marx e Gramsci, a Eric Hobsbawm, Marilena Chauí e Max Weber, acervo que ele chama de "legado sombrio da Palmares". No entanto, foi impedido de fazê-lo.
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Nosso desprezo por esta "ideia" execrável se conecta a uma frase da atriz Fernanda Montenegro:
"Tudo é cultura, inclusive a cultura de repressão. Mas só há um tipo de cultura que realmente constrói um país: é a cultura da liberdade. A cultura liberta cria a alma de uma nação."
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Para saber mais:

ADORNO, T. W. Indústria cultural e sociedade (2002)
MOSSE, G. L. Nazi culture: Intellectual, cultural and social life in the Third Reich (2003)
PETERS, O. (Ed.) Degenerate Art: the attack on modern art in Nazi Germany, 1937 (2014)

#portodaavidavamoslembrar

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