LIMITES PLANETÁRIOS, PARTE 4 - OCEANOS, ALÉM DA ACIDIFICAÇÃO
Hoje seguimos com a série de fios sobre os limites planetários. Vem com a gente! 🧶👇
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Em virtude do aumento de concentração de CO2 atmosférico e das mudanças climáticas associadas a ele, os oceanos têm sofrido grandes violentas durante o Antropoceno.
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Por absorverem cerca de 93% do calor acumulado por conta do superaquecimento global, têm sido observadas alterações significativas de temperatura e consequentes mudanças nos modos de variabilidade climática e até em padrões de circulações oceânicas de grande escala.
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Em 2016, acompanhando o recorde global de temperaturas, a superfície dos oceanos ficou 0,69°C mais quente do que a média de 1951-1980, cerca de 1°C acima das temperaturas médias observadas no início do século XX.
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A estimativa da quantidade de calor acumulada de 1955 a 2020 somente nos 700m da porção superior dos oceanos excede 270 Zetta-Joules (ZJ). Essa perturbação é cerca de 433 vezes maior que a demanda humana global de energia de 624 EJ (0,624 ZJ).
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O aquecimento das massas oceânicas provoca mudanças na circulação oceânica e impactos sobre a biota marinha (ondas de calor marinhas, branqueamento de corais, etc.) têm sido cada vez mais frequentes e devastadores.
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Um impacto pouco conhecido do aquecimento oceânico, é a redução na quantidade de oxigênio dissolvida. O teor de oxigênio dissolvido nos oceanos caiu 2,1% em 50 anos (perda de 4,8±2,1 Petamols em relação ao valor original, de 227,4±1,1 Petamols).
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Fisicamente este fato está intrinsecamente ligado ao superaquecimento global por dois fatores: primeiro, quanto maior a temperatura oceânica, menor a solubilidade dos gases, incluindo – por óbvio – o oxigênio.
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Segundo, como o aquecimento se dá principalmente a partir da superfície, a tendência é aumentar a estratificação, com água mais quente sendo mantida em cima, o que limita a mistura de massas de água na vertical.
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Como consequência, menos oxigênio se dissolve no oceano superior e, pela inibição dos movimentos verticais, o transporte do oxigênio para camadas mais profundas é reduzido. O volume oceânico sujeito a condições anóxicas mais do que quadruplicou.
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A presença de enormes quantidades de CO2 na atmosfera faz com que parte significativa desse gás se dissolva nos oceanos, diminuindo seu potencial hidrogeniônico (pH), ou seja, aumentando sua acidez, processo já bem compreendido pela ciência há bastante tempo.
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As estimativas são de que o pH oceânico já diminuiu de 8,2 para 8,1 desde os tempos pré-industriais. O que pode parecer uma alteração modesta (0,1) é, na verdade, muito significativa, dado o caráter logarítmico da escala do PH: implica uma acidez cerca de 26% maior.
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É o suficiente para reduzir a estabilidade do carbonato de cálcio que compõe estruturas duras de inúmeras espécies vivas oceânicas, especialmente em regiões polares e subpolares e áreas de ressurgência. noaa.gov/noaa-led-resea…
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Tais mudanças já são de 3 a 7 vezes maiores e 70 vezes mais rápidas do que aquelas verificadas durante as deglaciações (como a saída da última era glacial há 11.700 anos.
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No pior cenário, a saturação para a aragonita pode ser atingida globalmente nas latitudes mais altas já em 2081-2100, o que é incompatível com a existência de qualquer forma de vida que dependa dessa forma mineral do carbonato de cálcio.
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Acidificação tão acelerada é inédita em 250 milhões de anos, desde quando os "trapps siberianos" lançaram enormes quantidades de gases na atmosfera, extinguindo 95% das espécies marinhas naquela que foi a maior extinção da história geológica terrestre (Permiano-Triássico).
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Muito mais quente, com eventos extremos de calor, mais ácidos e com menos oxigênio. Sem freio ao superaquecimento do planeta, esse é o cenário de desastre encomendado para os oceanos.
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"É inequívoco que a influência humana aqueceu a atmosfera, oceanos e continentes. Mudanças rápidas e generalizadas na atmosfera, oceano, criosfera e biosfera têm ocorrido."
O AR6 (sexto relatório de avaliação) do @IPCC_CH está disponível e iremos destrinchar tudo pra vocês.
Em quanto aumentou a concentração de gases de efeito estufa desde o AR5 (publicado em 2013 com dados de 2011) para o AR6 (com dados de 2019)?
CO₂ (+19 ppm): 4,86%
CH₄ (+63 ppb): 3,49%
N₂O (+8 ppb): 2,47%
Num piscar de olhos!
1/n
E quanto ao aquecimento?
Segundo o AR6, a temperatura média global na superfície esteve, no período 2011-2020, 1,09°C acima dos níveis de 1850–1900, com aquecimento mais acelerado sobre os continentes (1,59°C) do que sobre os oceanos.
2/n
Um dos "pontos de inflexão" do sistema climático pode ter sido atingido (ou próximo disso): a circulação de revolvimento meridional do Atlântico (AMOC). Bora explicar rapidinho em mais um fio... 1/9 theguardian.com/environment/20…
A AMOC é parte da "circulação termohalina", conjunto de correntes oceânicas de grande escala induzidas por gradientes de temperatura e salinidade. 2/9
A água quente dos trópicos se desloca para o norte pela AMOC e transporta calor por largas extensões do oceano. Ela condiciona o clima nas regiões vizinhas e é fundamental para redistribuição de energia e umidade entre equador e polos. 3/9
Depois de uma sucessão de enchentes na Alemanha, Bélgica, China e Omã, o planeta está em chamas: Turquia, Grécia, Itália, EUA, Bulgária... Segue o fio 🧶👇
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O cenário na Turquia é de um verdadeiro apocalipse após os incêndios.
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Oito mortes, milhares de pessoas evacuadas, impacto severo sobre a vida silvestre, usina termelétrica atingida...
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ESCÂNDALO! Lobistas ligados a Exxon falam demais e mostram como essa corporação continua sabotando qualquer perspectiva séria de salvar o clima! No fio, alguns destaques! Acompanha aí!!!
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- Combatemos agressivamente "parte" da ciência? (Aquela que dizia que as emissões de CO2 ferrariam o planeta) Sim.
- Nos aliamos a grupos obscuros para barrar algumas das primeiras iniciativas (para salvar o clima)? Sim, é verdade.
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Trump foi um pai para a Exxon e os lobistas se gabam de coisas como interferências do governo a favor da companhia no NAFTA, cortes de impostos, flexibilização de regras ambientais e "toneladas de licenciamentos".
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OK, a China é hoje o maior emissor de gases de efeito estufa. Em 2019, emitiu 10,17 bilhões de toneladas de CO₂ contra 5,38 bilhões de toneladas dos EUA.
PORÉM... 👇👇👇
Historicamente, os EUA ainda são disparadamente o maior emissor. De 1800 até 2017, os EUA emitiram o dobro de CO₂ do que a China (400 versus 200 bilhões de toneladas de CO₂).
ALÉM DISSO... 👇👇👇
O CO₂ é um gás de efeito estufa de vida longa, permanecendo por vários séculos na atmosfera. Em outras palavras, parte importante do que foi emitido há muitas décadas ou mesmo no início da Revolução Industrial continua afetando o clima até hoje!
E TEM MAIS! 👇👇👇
Artigo na Nature atualiza a grave situação do "saldo de carbono". Décadas de negacionismo, irresponsabilidade e falta de prioridade estão condenando o clima à desestabilização e as gerações futuras a um risco inaceitável. Sigam o fio! nature.com/articles/s4324…
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Seguindo as tendências atuais, a probabilidade de ficarmos abaixo de 2°C de aquecimento global é de meros 5%, situação agravada porque vários grandes emissores estão distantes das metas que apresentaram em Paris.
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Segue o artigo: "Se todos os países cumprirem suas contribuições nacionalmente determinadas e continuarem a reduzir as emissões após 2030, essa probabilidade sobe para 26%". Esses 74% de chance de desastre deixam evidente a insuficiência do que saiu de Paris em 2015.
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