Brasília é um lugar muito seco, eu e minha família viemos do sul. Desde os 6 anos e meio meu filho do meio (hoje com 8) fica responsável por encher as garrafas de água e colocar na geladeira.
(pode não parecer mas siga esta thread sobre política) (+)
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Num dia, vi meu filho do meio entregando as garrafas vazias para a minha filha pequena (hoje com 4 anos) para ela encher. Eu dei uma bronca nele, afirmando que era ele quem tinha que realizar o trabalho e então vi minha filha de 4 anos chorando porque ela queria encher.
Resolvi acompanhar isso com um pouco mais de cuidado. E num outro momento meu filho do meio convencia a pequena a encher porque "era para todos ficarem bem". Ela tinha que encher as garrafas "para que a casa toda ficasse bem". E esta é a forma de convencimento do fascismo.
Num outro momento, ele convenceu a ela trabalhar dizendo que "queria ver se ela era a enchedora de garrafas mais rápida". E enquanto ela se esforçava ele dizia "muito bom! agora vamos fazer mais rápido. E esta é a forma de convencimento do neoliberalismo.
Num outro dia, ele disse que ia "ajudá-la" "um pouquinho" e encheu duas garrafas, deixando todo o resto para ela. Quando eu cheguei indignado com a situação, ele negociou comigo uma "diminuição do número de garrafas que tinham que ser enchidas". E esta é forma do trabalhismo.
O fato de ela chorar quando eu ordenei que o irmão enchesse as garrafas chama-se condicionamento ideológico ou simplesmente ideologia. Convencida do seu "dever" e de que isso a "dignificava" minha ralhada apesar de ser em favor dela foi entendida como uma violência.
No final das contas, o trabalho era feito quase todo por ela e ela recebia apenas incentivos ideológicos como a ideia de "ser a melhor" ou de fazer "para o bem de todos". Se cortarmos todos os subterfúgios, ela trabalha e ele "coordena". E é assim que o capitalismo funciona.
Se faz política em qualquer lugar com qualquer idade. Se não se detecta essas microformas de dominação, elas se reproduzem como "naturais" na nossa sociedade. E isto é o que se chama de estratégias de dominação estruturais. Aquelas que normalmente os agentes não reconhecem.
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