Sabe o que mais causa inflação nos países periféricos? O imperialismo! Vou explicar. No World Economic Outlook dessa semana, aquela publicação semestral do FMI, tem um capítulo só sobre inflação, que é o tema quente da economia mundial.
Eles dividem os países em 3 grupos: economias avançadas (AE), economias emergentes (EM) e países de baixa renda (LIDC). E não é novidade que a inflação nos países periféricos (EM e LIDC) é sempre maior que nos países imperialistas (AE), como dá pra ver no gráfico.
E o que nós temos em comum pra termos essa inflação mais alta? Nosso caráter de economia dependente/periférica se estrutura no fato de que transferimos valores em direção aos países imperialistas: uma parte do valor produzido aqui é apropriado gratuitamente pelo imperialismo.
Na minha tese de doutorado eu desenvolvo a ideia que essa transferência internacional de valor é a essência do imperialismo, cuja tendência na época atual é se apoiar cada vez mais em mecanismos de mercado, mas isso é outra história que posso voltar depois.
Voltando à inflação. A transferência internacional de valores dos países dependentes para os imperialistas tende a se expressar numa transferência internacional de dinheiro. E é aqui que a coruja dorme.
Como mandamos mais dinheiro para fora do que recebemos, existe uma pressão mais ou menos constante e sufocante sobre as economias dependentes: as desvalorizações cambiais.
Por mais que existam pressões específicas de cada país que fazem com que as desvalorizações das moedas sejam mais ou menos fortes, existe algo em comum às econ dependentes, que é sua inserção subordinada na divisão internacional do trabalho.
E aí volto pro relatório do FMI. Eles mostram que o principal fator associado com alta inflação nos países dependentes é.... [Suspense]... desvalorizações cambiais! A barrinha NEER no gráfico.
Sabe o que é incrível disso tudo? Isso é uma evidência empírica a favor da tese de Ruy Mauro Marini que vincula transferências de valor com superexploração da força de trabalho.
Vou mandar fazer uma camiseta pra lutarmos contra a carestia: "Menos Independência do Banco Central, Mais Antiimperialismo". 😂
E essa liberalzada que apareceu por aqui? 😂 Tudo com frase de Ayn Rand no perfil.

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21 Sep
O @EleuterioPrado mostra que o capitalismo parece estar num beco sem saída, cuja expressão contemporânea deve ser uma severa estagflação pelos próximos anos. aterraeredonda.com.br/a-ameaca-da-es…
O raciocínio é muito inteligente e depende de uma constatação teórica: a expansão da oferta de mercadorias depende da taxa de acumulação que, por sua vez, tem como limite superior a taxa de lucro.
Como a taxa de lucro encontra-se numa longa depressão (aqui é o argumento empírico do Michael Roberts), as políticas de estímulo à demanda agregada vão alimentar a espiral de preços, que nos países imperialistas deve aparecer como espiral de preços-salários.
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21 Oct 20
CURSO SOBRE A DIALÉTICA DA DEPENDÊNCIA DE RUY MAURO MARINI

Coloquei na rede os vídeos que gravei sobre o texto Dialética da Dependência do Marini para uma disciplina de graduação. São aproximadamente 55 min de exposição divididos em 5 vídeos. youtube.com/channel/UC_-Ml…
A produção dos vídeos foi a 4 mãos. Fiz os roteiros e a gravação e o inestimável @doistss fez umas magias bacanas na edição. Por exemplo, as pequenas passagens do texto que eu leio aparecem transcritas na tela graças a ele. Valeu, @doistss !
Me preocupei em percorrer a linha de raciocínio do texto, destacando os argumentos centrais e aqueles que entendo serem os mais difíceis. Fiz essa seleção do que é "mais difícil" a partir da minha experiência em sala de aula com esse texto.
Read 18 tweets
7 Jul 20
O neoliberalismo morreu. Como aquela planta que está com as raízes podres: continua de pé, mas já morreu. Morte matada pelo capital, o que significa que não temos nada a comemorar. Vou compartilhar nessa MEGA thread hipóteses abertas que demandam investigação mais cautelosa. 👇
1. O neoliberalismo, como uma fase do capitalismo, nascido dos escombros da crise dos anos 1960/70, se consolidou COMBINADO com outros dois processos: revolução tecnológica e globalização.
2. Por um lado, a revolução tecnológica (microeletrônica, informática, WWW) eliminou barreiras técnicas que impediam o espalhamento mundial dos processos de produção, operando como força centrífuga nas cadeias produtivas.
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