Sou velho o suficiente pra, bem na infância, ter pego o pior da inflação galopante (eu diria que este pior foi de 88 a 92, mais ou menos). Lembro porque aconteciam coisas muito chocantes no cotidiano e que não fazia muito sentido.
Supermercado. Criança vai com a mãe fazer a "compra do mês", beeeeem no início do mês. Os produtos tem várias etiquetas de preço, umas sobre as outras. Um funcionário do mercado, com uma "pistola", passa pelas prateleiras sobrescrevendo os preços...
... e "todo mundo" corria pra pegar as coisas antes que este maléfico agente tocasse nos produtos. Chegava a ter briga pra conseguir acesso às prateleiras antes do cara da "pistola", avançando pelo corredor.
Supermercados grandes tinham sempre dois ou três "caras da pistola" incansavelmente sobrescrevendo os preços. Não tinha internet, mas o preço das coisas flutuava "em tempo real".
O básico do básico, do tipo arroz, feijão, óleo, farinha, sal e açúcar, as pessoas saíam loucas pra botar no carrinho o mais rápido possível, assim dava pra ter um pouco mais de calma pra comprar o resto, porque o básico já estava garantido com o "menor preço".
Às vezes lá na fila do caixa a mãe pensava "hum, melhor pegar mais 1kg de leite em pó". E me deixava na fila com o carrinho pra buscar o produto. Este produto já estava bem mais caro.
Sabe aquela cestinha de "produtos rejeitados no caixa"? As pessoas fuçavam ali pra tentar encontrar algo com o preço bem mais baixo, de horas antes de elas entrarem no mercado. Às vezes trocavam os produtos do próprio carrinho pelos da cestinha dos rejeitados.
Como na semana seguinte tudo estaria muito mais caro, as pessoas estocavam bastante de tudo. Nada de "caixa-rápido". As pessoas lotavam dois ou três carrinhos pra ter estoque. Vai saber quanto estará o arroz no mês que vem, né...
O salário não era atualizado, mas desvalorizava uns 20% a 30% ao mês. Se não pagar a conta no início do mês, não vai ter como pagar no fim. E uma conta pagável em abril às vezes era mais do que o salário do sujeito em outubro.
O preço das coisas flutuava demais e em valores altos: vários milhares por uma cartela de ovos, alguns milhões por um liquidificador (eletrodomésticos básicos eram COISA DE RICO). Não se sabia de verdade estimar o preço das coisas, então comparávamos ao valor de fuscas e TVs.
Havia consórcio pra adquirir batedeiras, liquidificadores, geladeiras, fogões e TVs. E havia ALUGUEL destas coisas. Sim, tinha gente que tinha uma TV alugada, ou um liquidificador alugado.
Então não. A hiperinflação não era uma dourada época industrial: naquela época a maioria das pessoas não tinha geladeira, e ter um liquidificador, mesmo que ALUGADO, era luxo (eu mesmo não tinha). Telefone se declarava no imposto de renda!
Foi uma época de merda. O fdp do pobre no dia 5 era miserável no dia 25. Você saía no tapa no supermercado pra pegar um pacote de sal antes do "cara da pistola" chegar. Tinha mercado negro de macarrão (época do congelamento de preços que, veja só, não funciona!).
O brasileiro era um povo tão miserável que a marca inicial do Plano Real foi poder comprar FRANGO ASSADO nas padarias. E todos festejavam isso! Era um "nossa, agora dá pra comprar frango!". Patético? Ridículo?
Sim, mas só porque somos muito mais ricos hoje.
P.S.: muita gente que passou por aquela época, mesmo que fosse pirralho, tem sensação de déjà vu com este atual nível de inflação. Claro que ainda está bem longe da situação daquela época, mas o temor é aquela pulguinha de "começa assim, fodeu..." .
P.S.2. : só pra lembrar uns e outros que votaram CONTRA o Plano Real (que, felizmente, foi aprovado e entrou em vigor em meados de 1994):
— PT , como de costume (se opôs até à CF-88, típico)
— um tal de Jair Messias Bolsonaro
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Uma moça bastante magra, às vezes "mais magra do que deveria", quando batemos os olhos, nem sempre é anoréxica ou tem bulimia. Mesmo que a vejamos, às vezes, comendo bastante.
Ver uma desconhecida magérrima com prato de pedreiro não é ferramenta diagnóstica.
Se alguém quiser mesmo saber por que ela não engorda terá de fazer uma investigação mais trabalhosa e detalhada. No mínimo investigar a rotina da moça e avaliar sua dieta, mas frequentemente requerer testes clínicos.
Simplesmente ver a guria não é diagnóstico.
Meio óbvio que não se pode, com algum grau de certeza, diagnosticar anorexia ou bulimia só porque viu uma foto de uma desconhecida magérrima, na praça de alimentação, atrás de um prato de pedreiro.
Apesar de tudo, o BR tem um vantagens atípicas no período atual:
— anti-vaxx aqui é nicho muito minoritário, seja o místico abraça-árvore, seja o MAGA-wanna-be;
— podemos até fingir no papel que existem obrigações sanitárias, mas em país que leis de trânsito "não pegam"...
Se a pessoa REALMENTE está apreensiva com a ALEGADA ascensão de anti-vaxxers por aqui ou com o ALEGADO autoritarismo sanitário, não está realmente descrevendo o que de fato ocorre no país.
Aqui as pessoas se vacinam porque querem, e nem fingir que são obrigadas conseguimos...
Este é a porra do país do "termômetro no pulso", quando muito, e do "lockdown" com festa em praça pública. É a porra do país cuja maioria do emprego é informal e o mesmo no qual quem ganha realmente bem o faz via PJ ou é funça.
Ao fim de seu segundo mandato, Lula propagandeou a (FALSA) autonomia brasileira relativa ao petróleo. Lula também criou expectativas irreais de imensos ganhos futuros advindos dos dividendos do Pré-Sal.
Vendeu uma ideia de que o Brasil era praticamente um membro da OPEP.
Estas MENTIRAS foram reforçadas nos 1,5 mandatos da Dilma. Alguns governos estaduais, especialmente o do RJ, contaram com o ovo no cu da galinha acerca dos royalties do PS.
Ao mesmo tempo, o maior ultra-turbo-max-plus esquema de corrupção foi implantando e envolvia a Petrobrás, seus braços, etc, o infame Petrolão: talvez o maior esquema de corrupção da história brasileira.
Uma coisa que muito raramente se fez em casa, dando pra contar nos dedos as ocasiões em que ocorreu, é comprar jornal. Não se compra jornal nesta casa.
Tanto que eu tinha dificuldades no primário quando tinha colagem em Educação Artística, porque não havia jornais pra recortar, em casa. Tinha de pedir aos vizinhos.
Só após segundo turno de eleição presidencial, implantação do Real, morte do Senna e eventos assim que se comprava o jornal de domingo. Menos de uma dúzia de vezes, pois. E desde 99, nunca um jornal foi comprado.
Ontem o @EliVieiraJr chamou atenção para o fato de que uma antiga população européia tinha um fenótipo deveras incomum: olhos azuis e pele escura. Ele foi ligeiramente infeliz na escolha da imagem ilustrativa, no entanto.
Logo após o máximo glacial, a Europa foi re-colonizada por uma população que chamamos de WHG (caçadores-coletores do ocidente). Esta população ocupou da Irlanda aos Bálcãs e o sul da Ucrânia, além da porção sudoeste do Báltico. Por vários e vários milênios.
Nós temos várias centenas de restos humanos associados aos WHG, e algumas dezenas deles foram genotipados. O mais famoso (e primeiro a ser genotipado) é Loschbour. Famoso e também genotipado, o Cheddar.