Simplificando, há duas maneiras de reduzirmos os números de casos/hospitalizações/óbitos da covid-19:
1. Menos quantidade de vírus na comunidade;
2. Mais pessoas com armadura de defesa que "dificulta a vida" do vírus ao infectá-las.

Sigam o fio para vermos alguns dados: 🧶 //1
No item 1, é possível atingir isso via medidas físicas de controle, afastando as pessoas umas das outras, principalmente em ambientes fechados, usando máscaras de ótima qualidade.

Vimos países conseguirem quedas expressivas mesmo sem vacinas através de medidas assim. //2
Quando o vírus infecta uma pessoa e essa pessoa toma medidas para não passá-lo adiante por ao menos 15 dias, o vírus "morre" e não consegue seguir o caminho, quebrando um elo da cadeia.

Várias pessoas fazendo isso reduzem a quantidade física de vírus, e os números caem. //3
Já no item 2, com vacinas que reduzem (mas não eliminam) a transmissão, e reduzem mais ainda agravamentos e óbitos, o vírus tem uma dificuldade tremenda de "fazer bagunça" no corpo da pessoa devido à vacina. Menos hospitalizações e menos mortes! //4
Se não combinarmos o item 1 com o item 2, podemos manter uma quantidade alta de vírus na comunidade e contar com as vacinas para reduzir o número de hospitalizações e mortes.

Isso causa números que podem ser inclusive os melhores até aqui na epidemia, MAS ainda muito altos. //5
Vemos isso na última atualização dos números feita pelo @leosbastos: //6
Também na última atualização do Infogripe, pelo @marfcg: //7
Outro fenômeno que apareceu nos números foi a maior demora para haver reversão de tendência de queda e novo aumento, pós vacina, nos países que isso aconteceu: //8
Nesse momento a gente vê uma mudança *leve* de tendência em alguns lugares do Brasil, em acordo com o número de dias onde essa mudança ocorreu em outros locais (aproximadamente 120 a 150 dias entre a queda e o aumento em países mais vacinados). //9
Vejam o dado até 12/10, ainda no feriado, sem a subida artificial que ocorre logo após. Quando olhamos para o gráfico de toda a pabdemia, começamos a enxergar um "piso" de casos e óbitos. //10
A linha da média móvel da taxa de crescimento de casos começar a ficar reta (ao invés de caindo, como a de óbitos) também mostra isso, essa possibilidade de mudança *leve* de tendência: //11
Estados com números maiores de amostragem na pesquisa da Universidade de Maryland/Facebook começam a mostrar de forma mais explícita essa mudança de tendência também. Vejam RS e SP: //12
Um gráfico que não trago mais (mas ainda consta nos nossos painéis e é sempre atualizado) é o de mobilidade, pois é "chover no molhado".

A mobilidade ajuda a mostrar a oportunidade de transmissão. No Brasil vemos que em locais de trabalho, já estamos no nível pré pandemia: //13
Quais os pontos de preocupação:
a) Ainda temos faixas etárias sem vacina (crianças) então, ao aumentarmos a quantidade de vírus na comunidade através desse aumento de oportunidade, aumentamos sua vulnerabilidade.

Vale a pena contar apenas com a proteção natural pela idade? //14
b) Ainda temos uma parcela da população sem segunda dose, e também uma fração que não se vacinou. A velocidade de vacinação deu uma estagnadinha agora, pode ser pelo atingimento dos elegíveis na D1 (dose 1) e também um relaxamento devido a situação melhor do país (hipótese). //15
Há muitas pessoas de qualidade tentando abrir o importante debate sobre níveis de risco, como a @marivarella: uol.com.br/vivabem/coluna… //16
Mas, como estamos aumentando as oportunidades de transmissão, acabamos gerando muitas nuances a serem controladas. Falei disso aqui:
//17
Outro problema que NÃO PODE ser esquecido é a "covid longa" ou "pós covid". A @mellziland trouxe dados importantíssimos nesse fio: //18
Em resumo: não acabou, ainda tem bastante coisa pra cuidar e pensar e, principalmente: ainda precisa de MUITA comunicação e MUITAS políticas públicas. Ainda temos festas de fim de ano, carnaval, inverno de 2022, e temos de ficar MUITO ligados na evolução viral. //19
Fontes, caso queiram aprofundar as consultas:
- Sobre oportunidade de transmissão e quantidade de vírus:
- Sobre efetividade de medidas de controle não farmacológicas:
science.org/doi/10.1126/sc…
- Sobre a efetividade das vacinas, poder de redução de transmissão, agravamentos e óbitos (e muitas outras coisas legais da @mellziland): bit.ly/fiosmell
- Painéis de dados da @analise_covid19, todos com suas fontes:
bit.ly/Rede_CasosObit…
bit.ly/Rede_Mobilidad…
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2 Oct
Eu acho engraçado pois, apenas por eu estar constantemente monitorando e alertando, fica um "estigma" como se eu quisesse todo mundo trancafiado em casa.

A mensagem é: reduza o risco de transmitir e contrair. Não corra risco desnecessário por bobagem.+
Como fazer isso?
- Máscara de boa qualidade (PFF-2) bem vedada
- Ambientes ao ar livre / muito bem ventilados
- Distanciamento físico

Pensem que estamos fazendo um cabo de guerra com o vírus.

De um lado, estamos puxando com as vacinas;
Do outro o vírus puxa com a transmissão.+
A gente podia dar uma forcinha pras vacinas e não deixar elas ficarem puxando sozinhas o cabo de guerra, né?

Basta não correr riscos desnecessários e contribuir, mesmo que inadvertidamente, para aumentar a transmissão.+
Read 9 tweets
29 Sep
Oi, pessoal! Painéis da @analise_covid19 atualizados!

Infelizmente os sinais de reversão continuam aparecendo, em alguns estados mais que outros, mas como recém tivemos problemas nos sistemas, é importante ter cautela.

Aqui vai uma atualização rapidinha! Sigam o fio: 🧶 //1
Quando analisamos a curva da média móvel da taxa de crescimento de casos dá pra ver claramente os problemas somados:
1. Feriado de 07/09/21
2. Casos represados (novo eSUS)
3. Possível reversão //2
Quando eu falo dessa "possível reversão", peço que leiam esse fio aqui, onde tento mostrar que após a vacina, as curvas estão demorando mais para mudar (ainda bem!): //3
Read 16 tweets
28 Sep
Oi, pessoal! Dia 16/09/21 eu fiz esse fio, bem longo, tentando entender como estão se portando os números da pandemia de covid-19, agora que estamos em uma nova fase, com vacinação um pouco mais ampla e maior mobilidade.

O que aconteceu desde então? //1 🧶
De acordo com o que conseguimos apurar olhando os dados de muitos outros países, a ampliação da cobertura vacinal correlaciona com uma maior demora para que aconteça a reversão (deixe de cair, estabilize e volte a aumentar). //2
Essa demora tem feito países acreditarem que "não piora mais", e alguns liberaram mais fortemente as restrições, vendo inclusive aumentos mais fortes (todos os dados no fio do primeiro tweet).

Mas o Brasil tem algumas especificidades importantes: //3
Read 20 tweets
19 Sep
Algo que *me parece* (não sou o senhor da razão) que entenderam errado é a função da vacina no momento que ela surge, e como se dá a redução de doenças.
Quando eu ia num show (exemplo), por que eu não me preocupava imediatamente em pegar caxumba, váriola, sarampo? Sigam o fio: 🧶
Não temos essa preocupação pois, nessa ordem:
- A probabilidade de ter o vírus da caxumba/váriola/sarampo num copo de refrigerante que eu compartilho com meu amigo no show é BEM baixa;
- Caso haja, estou vacinado. //2
Por que a probabilidade de ter o vírus é baixa? Pois ao longo do tempo fomos aumentando a cobertura vacinal e reduzindo a população viral na comunidade! É por isso que batemos TANTO na tecla de cobertura vacinal! É por isso que falamos TANTO em vacinar adolescentes //3
Read 18 tweets
17 Sep
Olá, pessoal. Pensei bastante antes de fazer esse fio, mas acredito ser importante deixar o alerta, me mantendo fiel ao princípio da precaução.

Vamos falar um pouco sobre o que está acontecendo com a covid-19 no Brasil e nos outros países? Sigam o fio: 🧶//1
O que é o "princípio da precaução" que eu tanto falo? Ele diz que quando há incertezas que gerem a possibilidade de um risco sério, são necessárias medidas para prevenir o dano decorrente desse risco.

Para mais informações: ufrgs.br/bioetica/preca… //2
Através dos dados, conseguimos acompanhar o andamento da pandemia em diversos países, e isso nos ajuda a termos uma ideia do que está acontecendo enquanto cobertura vacinal, novas ondas, proporção entre casos e óbitos, entre várias outras características. //3
Read 44 tweets
14 Sep
Pessoal, como estou vendo uma movimentação em cima do assunto "quando será o normal" eu resolvi trazer gráficos do Infogripe.

Essa é a curva de SRAG dos anos de 2018 e 2019, 2020 e agora 2021.

Prestem atenção na linha pontilhada de "intensidade muito alta": ImageImageImageImage
Estamos no menor nível de 2021? Sim!

Estamos 700% maiores do que o nível chamado de "intensidade muito alta"? SIM!

Como deixamos subir a níveis estratosféricos, agora a queda também tem de ser muito intensa.

Lembrem-se do que era o "pior" até então, não normalizem sem querer.
Dados aqui: infogripe.fiocruz.br

Agradeço sempre ao @marfcg, @leosbastos e equipe.
Read 4 tweets

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