Olá, pessoal. Pensei bastante antes de fazer esse fio, mas acredito ser importante deixar o alerta, me mantendo fiel ao princípio da precaução.
Vamos falar um pouco sobre o que está acontecendo com a covid-19 no Brasil e nos outros países? Sigam o fio: 🧶//1
O que é o "princípio da precaução" que eu tanto falo? Ele diz que quando há incertezas que gerem a possibilidade de um risco sério, são necessárias medidas para prevenir o dano decorrente desse risco.
Através dos dados, conseguimos acompanhar o andamento da pandemia em diversos países, e isso nos ajuda a termos uma ideia do que está acontecendo enquanto cobertura vacinal, novas ondas, proporção entre casos e óbitos, entre várias outras características. //3
Sempre gosto de lembrar e frisar que epidemias são fenômenos multifatoriais, ou seja, dependem de muitos fatores. Além disso, cada país tem um sistema de detecção diferente, então as comparações também possuem vieses importantes devido a isso. //4
Estamos vendo, em vários países, nos últimos meses, uma nova onda de covid-19 concomitante com as liberações de medidas mitigatórias. Trarei outras características desses países para vermos como e se isso pode nos ajudar a nos prepararmos melhor. //5
Vamos iniciar por um país que tomou decisões no mínimo questionáveis, que é os EUA. Quando olhamos os dados de casos, hospitalizações em UTI e óbitos, vemos que houve uma reversão significativa da tendência de queda que eles tiveram por um bom tempo: //6
Olhando CASOS (uma métrica que tem o potencial de ser detectada logo), percebemos que:
- Queda começou +/- em 16/04/21;
- Estabilização pós queda começou +/- 45 dias depois (01/06/21);
- Aumento começou +/- 26 dias depois da estabilização e 71 dias depois da queda (02/07/21);//7
Lembro a todos que os EUA tirou a obrigação de uso de máscaras (de maneira muito precipitada) em 13/05, e tem um problema sério de estados onde muitas pessoas não foram se vacinar. Não vamos olhar para esses estados, mas sim para os "melhores": //8
Este gráfico traz as hospitalizações confirmadas por covid-19. Além de Connecticut, Illinois, Massachusetts e Maryland (tweet anterior), também trago a Pennsylvania. Todos com uma maior cobertura vacinal e, coincidentemente, uma reversão bem menor que a média do país. //9
Vamos ver Israel? Lá as políticas públicas foram um pouco mistas, pois no começo fizeram um lockdown bastante duro e aceleraram muito a vacinação, mas quando chegaram em uma cobertura vacinal não ideal, já fizeram liberações fortes, além de ter freado na vacinação: //10
O que vemos ao analisar os gráficos de Israel? Que a onda de casos de agora é a maior de toda a pandemia até aqui, mas que a proporção de hospitalizações e óbitos em relação aos casos é BEM menor do que nas ondas anteriores. Vamos nos debruçar novamente nos casos de lá? //11
Israel teve:
- Queda iniciando +/- em 15/02/21;
- Estabilização iniciando +/- 76 dias depois (01/04/21);
- Aumento iniciando +/- 76 dias depois da estabilização e +/- 152 dias depois do início da queda (17/06/21); //12
O que percebemos em Israel quando comparamos com os EUA? Um período MUITO mais longo de estabilização antes de ter um aumento. Uma hipótese para isso é que o lockdown feito no início da vacinação possa ter baixado o nível de vírus na comunidade. //13
Bom, olhamos para EUA, que fez muitas coisas erradas, e olhamos para Israel, que começou bem e deu uma derrapada no final. Vamos olhar para um país que ainda mantém medidas mitigatórias mais rígidas, e vem vacinando bem sua população? A Alemanha: //14
Analisando casos, hospitalizações em UTI e óbitos da Alemanha já conseguimos ver de cara que, sim, teve reversão, mas que a proporção de hospitalizações e óbitos em relação aos casos é MUITO menor do que os outros dois países que analisamos, não é? //15
Em relação às medidas, nada melhor do que um relato de quem está lá, a queridona @TabataBohlen:
Essas medidas já nos mostram que há uma detecção maior de casos lá (quando há obrigatoriedade de testagem, essa é uma tendência), e que também há um controle maior da transmissão (uso de máscaras mais rígido). Isso pode ajudar a explicar o menor número de casos dessa onda. //17
Lembrando sempre que são HIPÓTESES, baseadas em INCERTEZAS, que devem ser usadas para aprendizado e para melhores tomadas de decisão. Longe de mim querer dizer que A causa B, ok? Só deixando claro aqui para ninguém ler isso! //18
Enfim, olhando os casos da Alemanha:
- Teve o início da queda em +/- 28/04/21;
- Estabilização começou em +/- 79 dias depois (17/06/21);
- Aumento começou +/- 26 dias depois da estabilização e 105 dias depois do aumento (13/07/21); //19
Recapitulando, então:
- Reversão dos EUA levou +/- 71 dias para voltar a aumentar;
- Reversão de Israel levou +/- 152 dias para voltar a aumentar;
- Reversão da Alemanha levou +/- 105 dias para voltar a aumentar.
//20
Também é bom recapitular quantos dias levou para estabilizar depois da queda:
- EUA levou +/- 45 dias;
- Israel levou 76 dias;
- Alemanha levou 79 dias;
Anotem esses números, pois agora vamos ver o Brasil! //21
Quando analisamos o Brasil vemos hoje (16/09/2021) uma queda que vem consistente há muitos dias, o que nos deixa felizes (queda é sempre ótimo) e esperançosos de que ela perdure e não reverta. //22
Há quantos dias temos queda? Olhando novamente casos, como nos outros países, vemos que:
- A queda começou +/- em 25/06/2021;
- Estamos em um período que PARECE ser estabilização. Se for, começou +/- 75 dias depois da queda (09/09/21); //23
Se isso não for uma estabilização (for 100% efeito do feriado de 07/09 + problemas no eSUS), aí ainda estamos caindo e já são 81 dias de queda até hoje (16/09/21).
Ou seja, podemos estar empatando com ou ultrapassando a Alemanha. Maaaaasssss, temos vários vieses: //24
E o segundo viés é o problema que tivemos há pouco de inserção de casos em alguns estados devido a uma mudança no sistema eSUS, somado ao represamento já esperado devido ao feriado de 07/09. Aqui um baita fio da @anarina explicando tudo:
Quando olhamos o estado de SP vemos que o numero de casos inseridos hoje (22.678) foi quase o valor que o Brasil inteiro inseriu em 14/09+15/09 (28.186), ou seja, REPRESAMENTO. //27
Dados que preocupam e mostram que podemos estar rumando para uma estabilização:
- Na região Sudeste, ES+MG estão claramente estabilizados pós queda em casos E óbitos. //28
Na região Sul, PR+RS vem fazendo também um movimento claro de estabilização. //29
No restante das regiões (Centro-Oeste, Norte e Nordeste), a maioria da tendência é queda (porfavorzinho continue assim), mas tem alguns estados querendo parecer estáveis, como PE+RN no Nordeste e PA+RO no Norte, mas aí já sou eu procurando "pelo em ovo". //30
Um problema REAL é o de não estarmos vendo casos, e estarmos com uma taxa de transmissão alta, sendo barrada exclusivamente pelas vacinas/imunidade híbrida, e caso isso mude, notaremos apenas nas hospitalizações. Por isso eu sempre venho com meus pedidos de cautela. //31
Vejam, por exemplo, as hospitalizações de confirmados covid-19 em UTI do estado de SP. Marquei ali no gráfico setas mostrando como a velocidade da queda vem constantemente desacelerando, sinalizando....estabilização pós queda 😬😬😬//32
Aqui os DRS (Departamentos Regionais de Saúde) que mostram mais explicitamente essa tendência: //33
A parte boa de estarmos com cada vez mais vacinados é que muito provavelmente não teremos, num curto/médio prazo, recordes gigantes de hospitalizações e óbitos, e teremos tempo de enxergar essas mudanças. //34
Então, o que eu quis trazer com esse fio, afinal? Que estamos em uma queda que está ficando interessante, principalmente comparando-se com os outros países, mas que justamente ao olhar esses outros países, percebemos que o perigo é real e ainda pode acontecer. //35
Perceberam que eu nem cheguei a mencionar nomes de variantes?
Pois sabemos que tudo o que temos até o momento sucumbe às vacinas (com regime completo!) e às medidas de proteção (máscaras de boa qualidade (PFF-2) bem vedadas, ventilação/ar livre e distanciamento físico)! //36
Eu acredito ser EXTREMAMENTE importante manter a vigilância nos números, tentar sempre enxergar embaixo de possíveis "armadilhas" (como a da subnotificação devido às pessoas não estarem mais indo se testar). //37
E agora, para a tomada de decisão, tanto individual (saio com meus amigos já que estamos vacinados?) quanto pública (libero estádios de futebol no meu estado/município?), eu creio ser válida a tática do UM PASSO DE CADA VEZ. Aos poucos dá pra ir acompanhando os números! //38
Ao menor sinal de que passaremos pela reversão que a maioria dos países passou, estaremos mais preparados do que se vivermos como se não houvesse amanhã e como se fosse impossível ocorrer qualquer piora, levando, AÍ SIM, a consequências potencialmente ruins.
Na gestão, precisamos de líderes: alguém que tome as decisões e nos tire de bifurcações.
Para que as decisões dessa liderança sejam respeitadas, ela precisa oferecer credibilidade, que é constituída por três etapas.
Um fio sobre isso e sobre o que estamos vivendo: 🧶 //1
O primeiro passo é a CONFIABILIDADE, que nada mais é do que prometer e cumprir.
Caso faça uma promessa, cumpra-a. Disse que já entregar uma tarefa até dia X? Entregue.
Disse que ia resolver algo? Resolva.
Disse que era indefinido? Mostre que é realmente indefinido. //2
Caso acumule confiabilidade, ela vai gerando um crédito, que se deposita em forma de CONFIANÇA.
É quando as pessoas que já se beneficiaram previamente da tua confiabilidade elevada começam a ficar mais tranquilas, vai baixando o nível do exato oposto, que é a desconfiança. //3
Ao analisar nossa situação epidemiológica levando em conta nossas vantagens (aceitação vacinal maior, variante Delta demorando pra subir, (ou para ser detectada)) e vendo outros países, me parece que a gestão de risco teria de ser feita nos jovens (não vacinados)+
Além dos grupos de maior vulnerabilidade (que já estão em vias de tomar mais uma dose da vacina), temos consistentemente visto aumentos significativos de hospitalizações por COVID-19 em crianças, o que faz sentido quando juntamos:+
- Variante mais transmissível;
- Poucas (ou nenhuma) barreiras de mobilidade;
- Máscaras menos vedadas nas crianças, principalmente mais jovens;
- Retorno às aulas "com tudo";
- Pessoas vacinadas "baixando a guarda" nos cuidados, mesmo que inconscientemente.+
Oi, pessoal. Acredito que uma olhada rápida no Reino Unido possa trazer algumas perguntas pra gente.
Como estão os dados deles até 25/08? Vemos que a queda foi revertida e estão novamente em um aumento, mas com menor velocidade (tanto em casos/hospitalizações/óbitos). 🧶 //1
Quando ampliamos o gráfico de casos, e marcamos o tal "dia da liberdade" (nome do qual eu não gosto, pois parece que a medida de proteção é algo ruim, uma "algema"), vemos uma mudança de tendência logo após. //2
Aí vem o cerne da questão, que é o ponto em que eu venho martelando há algum tempo: os óbitos. Vejam o gráfico de óbitos ampliado.
Percebemos a ENORME redução, muito provavelmente trazida pelas vacinas. Está aumentando, assim como os casos, mas em proporção BEM menor. //3
Oi, pessoal! Atualizei os painéis (23/08/21) e dei uma olhadinha rápida na situação atual dos casos e óbitos aqui do Brasil, e o que conseguimos ver é a manutenção da desaceleração da queda/formação de platô nos novos casos notificados. Sigam o fio: 🧶 //1
Ao analisarmos por região, percebemos que a região Centro-Oeste já vem quase em um platô (quando o número se mantém estável, sem queda ou aumento), mas isso vindo de uma queda sempre preocupa. //2
Quais estados estão carregando essa tendência? DF e GO. Aliás, até estou achando estranho não ver mais tantas menções a estes estados mesmo com essa curva de casos. Vejam o DF, já claramente reverteu: //3