Ontem, uma pessoa aqui no Twitter comentou que o fio que postei tinha sido objeto da tese de doutoramento de Flávio Henrique Calheiros Casimiro. É verdade. Eu cito tanto esta tese que fiquei constrangido de citar mais uma vez no fio. Contudo, vou citar algumas passagens. Lá vai:
1) A tese de Casimiro foi publicada em livro cujo título é “A NOVA DIREITA: APARELHOS DE AÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO” (São Paulo: Expressão Popular, 2018). Vou destacar algumas passagens do início das articulações empresariais, já no final dos anos 1970
2) À página 39 do livro, Casimiro escreve: "A partir da segunda metade dos anos 1970, (...) frações da grande burguesia começaram suas articulações (...) já influenciadas por concepções neoliberais."
3) O empresário Henry Maksoud se destacava no período. Lembra Casimiro: "por meio da revista Visão, que já atuava no sentido de difundir o pensamento liberal no Brasil desde meados dos anos 1970 (...)"
4) À página 40, ficamos sabendo que Henry Maksoud "junto do expoente do pensamento econômico brasileiro, Eugênio Gudim, foi membro da Sociedade Mont Pelerin, uma das mais importantes organizações internacionais de difusão da ideologia neoliberal, fundada em 1947. "
5) Casimiro, na sua tese, destaca que a Câmara de Estudos e Debates Econômicos e Sociais (CEDES) inauguração de um novo modelo de ação política e ideológica da burguesia brasileira
6) "Fundada em 1980, em São Paulo, pelo empresário Paulo Rabello de Castro – no seio do realinhamento dos interesses conservadores – , a chamada Câmara de Estudos e Debates Econômicos (CEDES).
7) "Considerada pelo historiador e cientista político René Dreifuss (...) como um dos mais atuantes pivôs político-ideológicos dos anos 1980, a Cedes configura-se como um dos precursores dos aparelhos privados de hegemonia da causa liberal no Brasil." (p. 42)
8) "A Cedes, (...) no ano 1983 passa a expandir e a intensificar suas ações em virtude do quadro político-econômico (...) da convocação para a Assembleia Nacional Constituinte. (...) Além de ter Delfim Netto um dos seus principais articuladores políticos (...)
9) "(...) a organização tinha como seu presidente o empresário do agronegócio Renato Ticoulat Filho (ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira [SRB]; como vice-presidente, Fernando Vergueiro (à época, secretário-geral do Partido da Frente Liberal e dirigente da SRB "(pp. 43-44)
10) "Vergueiro foi quem compôs, em 1986, a chapa de um dos aspirantes ao governo de São Paulo, o empresário Antônio Ermírio de Moraes (...), como candidato ao Senado, indicado pelo presidente da Associação Comercial, Guilherme Afif Domingos"
11) A Cedes contava também com a assessoria técnica de Julian Chacel (que foi do grupo de estudos e doutrina do Ipes carioca, hoje da FGV RJ).
12) Sócio-fundadores do Cedes: Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantim), Olacyr Francisco de Moraes, conhecido como “rei da soja” e proprietário do Banco Itamarati e da quinta maior empresa de construção do país, a Constran, de São Paulo
13) Também sócios: Paulo Cunha (Grupo Ultra); Roberto Bornhausen (presidente do Unibanco; presidente da Federação Brasileira dos Bancos [Febraban] e da Federação Nacional dos Bancos [Fenaban]); Ney Bittencourt Araújo (Agroceres). (pp. 44-45)
14) "Em relação ao objetivo e atuação da Cedes, Paulo Rabello de Castro assim define: ´estamos criando uma consciência de classe.´" (p. 47)
15) Deu para ficar claro o que é consciência e luta de classes ou precisa desenhar? (FIM)
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Bom dia. Farei um pequeno fio para socializar a evolução da articulação empresarial brasileira dos anos 1980 até os anos 2000. Um processo de articulação de interesses que evolui para aliciamento juvenil e propagação de doutrinas liberal-conservadoras. Lá vai:
1) Na década de 1980 as articulações empresariais focaram na disputa no interior da constituinte. Destacaram-se a Câmara de Estudos e Debates Econômicos e Sociais (CEDES), o Grupo de Mobilização Permanente (GMP), Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), a UDR
2) Também tiveram papel relevante no período: a União Brasileira de Empresários (UB), o Movimento Cívico de Recuperação Nacional (MCRN), o Movimento Democrático Urbano (MDU), o Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e a Frente Nacional pela Livre Iniciativa
O que pensa o apoiador evangélico de Bolsonaro? Segundo o antropólogo Juliano Spyer seu valor central é a família que sustentam valores de respeito e obediência que ela carrega
1) Este valor define um gradiente de temas prioritários, por exemplo, para evangélicos: 90% contra aborto e drogas (por ser contradição básica à estabilidade familiar), 30% a favor da pauta ambiental e 60% apoiando escola de melhor qualidade (que envolve o futuro dos filhos)
2) As igrejas evangélicas levam à disciplina: parar de frequentar o bar, usar drogas, ter relações fora da família. Abrir a Bíblia para lê-la é uma forma de distinção de uma dignidade pessoal
Mais informações sobre como o MBL e grupos juvenis ultraliberais e/ou de extrema-direita não tiveram tanta influência em 2013. Um protesto organizado em 2014 reuniu cerca de 2,5 mil pessoas munidas de bandeiras do Brasil e cartazes com dizeres como “Fora PT” e “Fora Dilma”
A iniciativa foi conduzida pelo MBL e envolveu grupos e movimentos que não faziam parte das redes da militância liberal e se juntaram à iniciativa, como o Revoltados Online, Lobão, grupos antipetistas e grupos que defendiam a volta da ditadura militar
Quinze dias após o primeiro protesto, foi convocada uma segunda manifestação na Avenida Paulista pelo grupo Revoltados Online para o dia 15 de novembro, e a militância liberal organizada em torno da campanha do “raio privatizador” decidiu ressuscitar o Movimento Brasil Livre
Bom dia. Farei um fio a partir de minha análise de conjuntura realizada ontem (pelo canal do Youtube do Instituto Cultiva). Ocorreu, nesta semana que termina hoje, um repique positivo para Bolsonaro. Vamos lá:
1) Pesquisa PoderData realizada de 25 a 27 de outubro mostra que Bolsonaro diminuiu a diferença e hoje perderia para Lula por 37% a 52% em um eventual 2º turno. De 23 pontos (pesquisa realizada em 29 de setembro) caiu para 15 pontos percentuais
2) Também gerou uma situação positiva para o bolsonarismo a decisão do TSE de rejeitar a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. Como compensação, cassaram um deputado e afirmaram que para 2022 tudo será diferente
Bom dia. Se há algo que fico incomodado é com a acusação que as manifestações de junho de 2013 foram projetadas pela direita ou que abriram as portas para a extrema-direita. Fico particularmente incomodado com mau-caratismo e falta de rigor metodológico. Explico:
1) O mau-caratismo se expressa por aquele tipo de militante que quer surfar em qualquer onda que aparecer na sua frente para conseguir emplacar uma versão mais abonadora de quem ele apoia. Não tem compromisso algum com a seriedade e uma discussão franca e oportuna
2) Já o pesquisador de final de semana não pesquisa ou não sabe pesquisar. Procura a melhor onda, mas trabalha com sofismas ou com algum viés de confirmação.
Lá vai a exposição que fiz hoje à tarde para o Fórum 21 que havia prometido pela manhã.
1) Marcos gerais do comportamento político brasileiro
Alain Touraine sugere que o espectro político brasileiro aderna à direita: socialistas adotam programas socialdemocratas, socialdemocratas defendem agenda liberal e liberais são ultraconservadores no Brasil
2) O autor francês sustenta que a dimensão política do mundo contemporâneo foi capturada pela dimensão econômica (interesses transnacionais) e alijou desta equação da representação formal a dimensão cultural (dos valores e crenças, da energia moral que brota da sociedade civil)