"Nós somos um país da África? Desorganizado, em bases tribais, com uma geografia de deserto" - Ciro Gomes
a fala de Ciro, na entrevista com Datena, foi péssima. Usou do senso comum para falar da fome no Brasil e usou o mito da "África tribal pobre". Vamos pensar juntos
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Se você reparar, quando trata do Brasil, Ciro diz que o problema da fome é a política e o modelo econômico, mas quando o assunto é o continente africano, numa espécie de mágica, o problema é a geografia (deserto), "bases tribais" e a "desorganização". Some política e economia
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Nessa fala, Ciro repete 3 mitos principais. O primeiro mito, derrubado por Josué de Castro há décadas, é colocar a culpa no clima pela fome. Na realidade, em toda e qualquer situação, a fome é fruto da configuração econômica, política e geopolítica e não fenômeno natural
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Basta dizer que a África abriga 65% das terras férteis não cultivadas do planeta, 10% dos recursos renováveis de água doce, e sua produção agrícola cresceu 160% nos últimos 30 anos. É luta de classes, poder, economia, geopolítica e não fenômeno do clima.
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É até estranho um político do Nordeste, alguém que já criticou várias vezes a "indústria da seca", repetir esse mito do clima como culpado pela fome. Mas tudo bem. O segundo mito é apresentar a África uma região pré-moderna - bases tribais - como fruto dos seus problemas
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Esse mito, base do colonialismo desde sempre, é apenas isso: um mito. África, como todo continente, está totalmente integrado na economia-mundo e na divisão internacional do trabalho. A questão é a forma de inserção na economia global e não a falta de modernidade.
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Parece a conversa dos anos de 1950 de apresentar o problema da América Latina como falta de capitalismo e modernidade e não a forma de inserção na economia global e desenvolvimento capitalista. É uma reflexão pré-CEPAL e pré-Segunda Guerra Mundial.
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Sem escrever muito sobre esse ponto, recomendo os livros Como a Europa subdesenvolveu a África – Walter Rodney e Revolução Africana: uma antologia do pensamento marxista. Ninguém que trabalha numa perspectiva crítica acha que o problema de África é falta de modernidade.
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Por fim, a noção de "desorganização" dos países africanos, na prática, serve para ocultar o papel do neocolonialismo e imperialismo como agentes contra qualquer nível de planejamento, organização nacional e racionalização burocrático-administrativa. Ciro sabe disso!
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Ciro tem muitos defeitos, mas sabe o que é imperialismo na dimensão empírica. Por qual motivo cometeu esse erro? Não sei. Mas é uma visão simplista e errada. Recomendo essa matéria para um debate sério sobre o tema:
O combate e negação da categoria teórico-ontológica de universalidade é a pedra de toque da preservação da ordem burguesa e do realismo capitalista, nos termos de Mark Fisher. É um dos temas centrais da luta de classes na filosofia
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O elogio e a entificação do particularismo, a apologia da "diferença", o multiculturalismo e a centralidade do papel da "vivência" no processo de conhecimento têm como objetivo negar a possibilidade de construção de uma universalidade histórico-concreta.
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E não existe revolução, transformação radical, sem um movimento político que encarne uma universalidade histórico-concreta. No plano da filosofia, o abandono de qualquer perspectiva revolucionária se reflete na negação da universalidade e totalidade.
Terminei de estudar a PEC-5 e quero colocar uma modesta contribuição ao debate. Primeiro, como muitos já falaram, a PEC não tirava "autonomia" do Ministério Público e não colocava o Congresso controlando o MP.
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A PEC-5, modesta para tanto alarmismo, apenas mudava a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Procuradores continuavam tendo maioria. Me parece mais uma tentativa de impor uma derrota política ao lavajatismo que mudança real no CNMP
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Até certo ponto, foi uma prova de fogo para o lavajatismo e a capacidade de mobilização do discurso anticorrupção do liberalismo. Depois da Lava-jato sofrer tantas derrotas, a PEC-5 era uma boa medida para saber que força eles ainda conservam.
Vamos imaginar uma situação hipotética. Temos uma cidade que é abastecida de alimentos apenas por uma estrada. Essa estrada é atingida por uma grande inundação e o governo decide não fazer nada, para matar de fome as pessoas da cidade. A cidade vai passar fome?
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Claro que sim, mas não de forma igual. Imagine que as pessoas ricas da cidade vão poder pagar abastecimento de alimentos via helicópteros e aviões monomotores. Em paralelo, vão ter seguranças para evitar ataques e saques. Depois de um mês sem abastecimento, qual o cenário?
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mortes e fome. Mas a morte e a fome, embora afete toda cidade, não vai afetar todos da mesma forma. Pessoas pobres, sem recursos, em situação mais precária, vão morrer mais. Pessoas de classe média menos que as pobres e pessoas ricas menos que todas as outras classes.
A ativista Greta Thunberg, por convicção ideológica ou mero navegar na onda anti-China, disse que o presidente Xi é “líder de uma ditadura” e completou: "a democracia é a única solução para a crise climática”. Gostaria de expor duas questões sobre essa declaração.
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Greta, espero que você não considere democrático invadir outros países, praticar golpes de estado, mudanças de regime, bloqueios e sanções econômicas, financiar grupos, praticar assassinatos políticos e manter o maior aparato de guerra da história humana ameaçando todo globo
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Imagino, Greta, que você deve considerar desumano, cruel e inaceitável DURANTE A PANDEMIA aumentar os bloqueios e sanções econômicas contra país, usando o vírus como uma arma biológica contra os povos. É isso que os EUA estão fazendo contra Cuba, Irã, Síria, Líbano etc.
O Brasil tá uma merda, quase dois anos de pandemia, muita gente perdeu entes queridos etc. Tento processar isso para entender certas frustrações e ataques pessoais que recebo. Aliás, racionalizar isso é uma forma até positiva de pensar a coisa. Hoje mesmo, por exemplo, rolou +
algo engraçado. Publiquei mais cedo um texto do dia do professor falando que a educação não é libertadora. Nos compartilhamentos com comentários te gente mandando "tomar no cu" (??), falando do meu corpo e de academia (??), mando eu me "fuder" (?), dizendo que sou burro (?)
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Não teve um para escrever, argumentar, discordar da ideia de maneira fundamentada, citar um autor, livro, artigo, conceito. Nada. Absolutamente não. É só uma espécie de frustração, raiva. Não é nem arrogância. É outra coisa. É um tipo de frustração querendo sair.
Também não é libertadora
Também não garante igualdade de oportunidades
E muito menos vai tirar o país do atoleiro do subdesenvolvimento e da dependência
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A educação é burguesa, racista, colonizada, opressiva e tecnicista, mas, ao mesmo tempo, é um campo de disputa aberto; uma das poucas áreas da divisão social do trabalho onde o explorado (professor) tem uma margem de manobra maior na execução do seu trabalho e, é claro,
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ainda tem papel central na formação das consciências e subjetividade das maiorias. Nesse momento de ofensiva burguesa contra a educação, e especialmente nesse dia do professor, reafirmo o que digo todos os anos: precisamos de um projeto radical de defesa da educação pública,