A máxima do filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) é hoje o mote de vivas polêmicas em torno dos conceitos de mente, consciência, emoção e razão.
Descartes inspirou intelectuais e cientistas por séculos com seu método analítico de raciocinar. Sua frase emblemática sugere que o homem é definido pela capacidade de pensar e pelo fato de saber que pensa.
Ao mesmo tempo, no entanto, o sábio concebe a mente como uma entidade não material, habitante da cabeça dos homens, mas, em essência, diferente do cérebro.
Recentes estudos sobre o cérebro revelam que Descartes estava enganado. A identificação dos processos físicos e químicos ocorridos na imensa teia dos neurônios prova que a consciência - ou pelo menos boa parte dela - se produz no mundo da matéria.
As novas descobertas não significam, entretanto, que tenha sido desvendado o mistério da mente humana, da capacidade de sentir, de analisar e de reagir ao mundo.
Ao contrário, as pesquisas mostram que o cérebro, tal qual os sistemas galácticos, encerra enigmas que desafiarão muitas das próximas gerações.
Se o astrônomo se encanta com os bilhões de pontos cintilantes que bordam a noite, o neurologista suspira diante da fantástica malha de 100 bilhões de neurônios que se espalham por 1,4 quilo de material orgânico.
E os sistemas solares, as galáxias e os buracos só existem no universo cósmico porque podem ser percebidos e interpretados por esse micro-macro universo que preenche o crânio dos homens. Sem alguém que a admire, que reconheça seu brilho e suas formas, a Lua não existe.
Nem existem os poemas que a fazem personagem da vida e a integram ao teatro dos amores e das paixões.
As cores, da mesma forma, existem somente para o cérebro, capaz de "trabalhar" impulsos elétricos nervosos e transformá-los em uma interpretação particular daquilo que se vê na presença da luz.
Um extraterrestre - o "monstrengo" do filme O Predador, por exemplo - habilitado a "enxergar" somente pela decodificação de sinais de calor, teria enorme dificuldade para dialogar com um jardineiro humano sobre flores multicoloridas.
O neurologista Antônio Damásio, chefe do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa, nos EUA, reúne em seu livro O Erro de Descartes novas reflexões sobre essas dicotomias: o corpo e a mente, a razão e a emoção.
Segundo ele, é chegada a hora de se reconhecer que o espírito habita um organismo vivo, em que o cérebro e o resto do corpo vivem intimamente integrados.
O cientista argumenta que os estímulos sensoriais e as emoções resultantes são fatores fundamentais na estruturação do edifício orgânico do pensar. "O cérebro humano e o resto do corpo constituem um organismo indissociável", sustenta.
De acordo com Damásio, a dificuldade da ciência em desvendar os mistérios da mente não deve diminuir o entusiasmo dos que se propõem a realizar a tarefa. Talvez, segundo ele, essa seja a mais fantástica aventura oferecida aos homens de coragem.
"A emoção e os sentimentos constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito como alma ou espírito humano", escreve. Resumindo as inquietações de muitos de seus companheiros, o neurologista inverte a máxima de Descartes: "existo (e sinto), logo penso".
A ciência se debruça sobre o muro das inquietações. Os especialistas não conseguem, por exemplo, explicar exatamente onde está a diferença entre um gênio da física e seu irmão que chegou aos 40 anos de idade e ainda é incapaz de efetuar contas de dividir.
À parte os fatores ambientais e culturais, onde residem os elementos diferenciais na constituição das habilidades e da inteligência? Como se forma a mente humana? Confunde-se com a alma ou se trata do resultado de eventos elétricos e químicos no cérebro?
Poderá um dia a mente humana ser compreendida por ela própria?
As dúvidas são antigas. O homem da Antiguidade já fazia conjecturas sobre a origem de sua consciência. Entre os pré-socráticos, Empédocles afirma: "para os homens, o sangue que lhes flui à volta do coração é o pensamento".
Para Platão, a mente estava na cabeça, uma esfera, a forma geométrica perfeita. Aristóteles também acreditava que a mente vivesse no coração, centro de vitalidade e calor do corpo.
Na Idade Média, já se imaginava que o cérebro fosse o abrigo da mente. No século 17, Descartes afirmou que a mente devia, de fato, residir no cérebro, mas como algo separado, imaterial.
O que afinal é a memória? Qual seu papel na estruturação da mente e da consciência?
Tudo no cérebro funciona através da memória. Caminhamos, falamos e nos comunicamos porque nos lembramos de como fazê-lo.
Por outro lado, a memória determina nossa individualidade como pessoas e como povos: eu sou quem sou porque me recordo de quem sou. A França é a França porque se lembra de ser a França. Se eu esquecesse quem sou, não seria ninguém, ou seria outro.
O povo judaico é um exemplo fantástico disso: sobrevive, mantém sua individualidade, e até prospera, devido exclusivamente a sua memória e ao culto dessa memória.
Entre os pré-socráticos, Empédocles se dedicou a estudar o mistério dos olhos e, assim, escreve: "O fogo primitivo escondeu-se em membranas finas e tecidos, atrás das redondas meninas dos olhos, varadas de passagens maravilhosas.
Afastam as águas profundas que as cercam e deixam passar o fogo, por ser mais fino e sutil."
Segundo o grego, o interior do olho é de fogo e seu exterior é feito de água e terra. O olho seria como uma lanterna à noite, o fogo protegido da água por uma película ou vidro.
Por meio do fogo, veríamos os objetos brilhantes. Por meio da água, enxergaríamos o que fosse opaco e sombrio. O semelhante vê o semelhante. O que surpreende nos estudos de Empédocles é que já imaginava a existência de subsistemas da visão.
O fogo que vê as coisas brilhantes e a água que decodifica as imagens opacas e sombrias.
Poucas pessoas se dão ao trabalho de estudar lógica, porque toda a gente se concebe a si própria como sendo já suficientemente versado na arte de raciocinar.
Abraço, Mestre.
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