Hoje iniciam-se os debates! está na hora de ir ler os programas eleitorais, com olho na saúde. Vou deixar o do Bloco para o fim e tentar seguir a ordem dos debates da Catarina.
O que significa que vamos começar pelo CH.
Segue o 🧵🧵 após leitura e análise atenta👀👀👇🏼👇🏼
Antes da saúde propriamente dita, passei pela economia. Afinal de contas, não há saúde sem economia (nem economia com pessoas doentes)
O CH defende que gerir um país é igual a gerir um orçamento familiar. Começa de forma bem tosca
Defende um corte enorme nos impostos e elege como *prioridade* económica pagar a dívida. Além da ironia boa de ter o partido nacionalista a servir os interesses dos banqueiros alemães, é revelador do pensamento de vistas curtas. A prioridade não é crescer, é pagar dívida
Chegando à saúde, temos apenas 4 pontos. Depois da k7 sobre ideologias na saúde e mentiras sobre carências de medicamentos, temos finalmente as propostas: 1. Querem concorrência entre o setor público/privado/social. Querem PPP, gestão por objetivos e ADSE para todos
Querem tudo e o seu contrário. Vamos desmontar?
A parte da concorrência entre prestadores na saúde: ideia muito na moda até que foi implementada nos anos 70 nos EUA com o bom resultado que se conhece. Se concorrência entre financiadores na saúde é ok, entre prestadores
Diminuí o acesso aos cuidados de saúde, especialmente os cuidados de saúde primários e os mais caros (com menos margem de lucro), ou os hiperespecializados.
A saúde de todos ganha com cooperação entre instituições, não com cada uma tentar ter tudo e roubar ao vizinho
Querem mais ppp? Nem os privados querem, já tiveram o que queriam com a experiência. Agora só pagando mais.
Gestão por objetivos? Quem escreveu o programa não foi a aulas de contratualização hospitalar, desconhece o básico do financiamento dos cuidados de saúde. Santa ignorância
ADSE para todos? Ao mesmo tempo que querem o estado como prestador de cuidados e a competir com outros, querem um seguro público obrigatório baseado no trabalho a financiar os prestadores privados?
Ou foi só escrever para o soundbite bonito?
Ponto 2: médico de família para todos e referenciação a cuidados diferenciados em tempo útil:
Registo que estão presos no século XX, ainda não há enfermeiros de família no CH.
Dizer que se quer médicos de família para todos é fácil, gostava de ver como planeiam fazer
E sobre isso não há uma única ideia concreta, ou sequer +/- definida de como se atinge este objetivo.
"Referenciação a cuidados diferenciados" isto é o quê? A urgência é um cuidado diferenciado. É isto? Ou são consultas de especialidade?
A ideia é acabar com a função gatekeeper do médico de família? Não se percebe sequer o pretendido quanto mais a ideia subjacente
3. Assegurar a autonomia dos hospitais para salvaguardar a gestão por critérios de transparência e competência científica e técnica. "Propomos um renovado consenso social contra décadas de instrumentalização orçamental, política e eleitoral da saúde dos portugueses"
Fica sempre bem num programa eleitoral atacar os gestores hospitalares, dizendo que não têm competências técnicas e científicas. A segunda frase é mais um soundbite oco.
Só há 4 propostas para a saúde, 1 delas é uma mão cheia de nada
4. "Aferição credível dos níveis de satisfação dos utentes com os serviços de saúde e comparar os setores" e depois agir conforme os resultados.
Gosto desta ideia de Uberlândia da saúde. Damos estrelas aos hospitais e o estado financia os que têm +estrelas
Quem está mais atento já percebeu uma incoerência. Sim, em apenas 4 propostas conseguem ser contraditórios. Se dantes iam financiar tudo e todos, agora só se financia os com maiores estrelas no futuro ranking.
É inacreditável como é que a meio de uma pandemia, o melhor que conseguem para a saúde são 4 pontos, todos mal amanhados, contraditórios entre si, sem adesão à realidade e que mostram acima de tudo, não conhecer o que se passa no terreno.
Se o programa fosse um ensaio para uma cadeira de políticas e gestão de saúde, tinha nota negativa.
Não se fala sobre os trabalhadores, sobre o futuro, sobre pandemia, não há uma ideia ou uma visão, há um conjunto de soundbites colados a cuspo
Fim do 🧵🧵
Espero que o debate de logo corra bem e o moderador não permita gritos nem falar por cima
Hoje seria o debate com CDU, pelo que está na hora de olhar para o seu programa eleitoral para a saúde
Um programa longo, bem estruturado e que defende o SNS
Segue 🧵🧵🧵
Avançam o mesmo programa de 2019, mas com um prefácio. A saúde tem direito a um capítulo próprio com 7 pontos extra/destaque.
Maioria dos pontos dizem respeito a questões laborais (situação que desenvolverei mais à frente)
Mais contratações, dedicação exclusiva, carreiras
Pedem o "aceleramento na compra de equipamentos em particular de meios auxiliares de diagnóstico". Importante mas curto e mal definido. E pedir apenas mais meios é insuficiente, era uma boa oportunidade para explicar como produzir mais com os meios atuais (e futuros)
O último relatório linhas vermelhas é muito interessante.
A maior incidência está no grupo 20-29, seguindo-se dos 30-39. São os jovens adultos os principais focos de novos casos.
A incidência no grupo +65 é 6x inferior ao grupo 20-29. Impacto da 3ª dose e talvez menor mobilidade
Ainda estamos com situação crescente, não é claro quando será atingido o pico. Mas o impacto nas UCI está totalmente dissociads dos novos casos. Há mais pessoas 20-39 em UCI que +80 (8 vs 6). Maior grupo são os 60-79
Em outubro, um não vacinado +80 tinha o dobro da probabilidade de internamento que um vacinado da mesma idade. Proporções semelhantes para 70-79 e 60-69.
No grupo 50-59 um não vacinado tinha 6x maior risco de internamento que um vacinado
alinhou no discurso que ninguém queria eleições. são um partido responsável. divagou e o moderador chamou à pergunta:
- lembrou o medo das maiorias absolutas e é preciso transparência
Costa, quer maioria absoluta?
Elogia Livre e Tavares. Cola Rui Rio a politicas de austeridade. Aproveita para se mostrar como partido da responsabilidade e estabilidade
🚨 atualização omicron 🚨
Com volume de dados já razoáveis da 🇿🇦
👉🏼 Variante já representa 90% dos casos
👉🏼 Duas doses 💉 confere proteção para internamento em 70%, menor que para delta, mas pode ser devido aos mais velhos terem sido vacinados há mais tempo
👉🏼 a probabilidade de ser internado por omicron é de 29% inferior a outras variantes!
Pode ser porque o vírus é menos agressivo, mas convém não esquecer que já não se trata de uma epidemia em solo virgem. De uma forma ou outra, a população já contactou com o vírus
👉🏼 nas UCI, apenas 16% são vacinados. Não partimos do zero, vacina protege para doença grave
👉🏼 Alta percentagem de omicron assintomático, sugere menor gravidade da doença
👉🏼 Recuperação mais rápida, em média 3 dias
A agência inglesa já produziu um relatório bastante completo sobre a omicron. (Eles trabalham bastante bem, há que reconhecer)
👉🏼Variante detetada em 5 amostras de 4 dos 477 sistemas de esgotos em vigilância, desde 26 de novembro. (Ou seja, transmissão comunitária)
👉🏼 transmissão em casa, é maior quando o caso index é omicron em vez de delta. 3,2x superior
Pela rapidez do relatório e poucos dados, este número não tem em conta estado vacinal e/ou infecção prévia
👉🏼Sem evidência clara de aumento risco de reinfeção, mas aponta para que sim
👉🏼Se a taxa de crescimento na comunidade permanecer igual, omicron atinge a paridade com a delta na próxima semana
👉🏼 é provável que as vacinas percam eficácia para doença sintomática, mas *retenham eficácia para doença grave*
Sistematizar a polémica da semana:
- temos um problema cultural com a partilha e não divulgação de dados
- temos outro problema com a não separação entre o poder político e a técnica
- a DGS melhorou nos últimos meses, mas há margem para mais
- o governo e presidência nem por isso. Os últimos 15 dias mostram que não aprenderam grande coisa
- a informação que sustenta a decisão da DGS já é conhecida e é pública. É óbvio que a DGS não tem dados novos que não sejam conhecidos pelo CDC ou ECDC
- a vacinação só se inicia com a norma. A norma traz consigo a sustentação teórica e bibliografia, no fundo, o parecer
- divulgar agora o parecer seria algures entre redudante e para um nicho de pessoas hiper interessadas, nem todas com capacidade para interpretar