A crise da pandemia global de Covid-19 é o maior desafio da humanidade desde a Segunda Guerra. De um lado, os EUA, maior potência global, não se mostram capazes de dar respostas a ela, ao contrário, mas sim usar da crise para boicotar o crescimento chinês (1/12).
O governo de Joe Biden, empossado em 2021, basicamente tomou medidas acertadas na economia, mas prossegue numa linha louca de confrontar, ao mesmo tempo, Rússia e China, o que não acontecia desde a 1ª metade dos anos 1950 (2/12).
Biden retomou a doutrina antirussa que anima a política externa americana desde muito. Mas que Trump tentou bloquear. Por outro lado, ele se viu impossibilitado de recuar em relação à política antichinesa do seu antecessor (3/12).
A única herança da era Trump foi uma aguda e extrema sinofobia, o medo e ódio à China. Sobretudo, porque seu discurso deflagrou uma versão democrata da sinofobia. Além do supremacismo branco e xenofobia, um misto de doutrina global de direitos humanos e "democracia" (4/12).
A sinofobia americana, portanto, veio para ficar. E isso vai além de uma decisão deliberada das elites americanas que, sim, resolveram conter o crescimento chinês - o que encontrou uma versão extremada em Trump. A questão é que isso tem adesão nas massas (5/12).
O ódio americano aos amarelos deriva de um ódio aos índios, o corpo que deveria ser "eliminado" pelo bem da expansão da América. Com traços semelhantes, e uma origem em comum, os asiáticos chegaram à América como trabalhadores livres "concorrentes" (6/12).
Por outro lado, quando os EUA avançam ao Oeste de tal forma que chegam ao Extremo-Oriente (sim, a terra é redonda), que a jovem potência americana encontra são os amarelos, que passam a enfrentar a pesada artilharia diante da sua "sub-humanidade" (7/12).
A China, paradoxalmente, origem e núcleo de uma civilização extremo-oriental só esteve indiretamente envolvida em conflitos com os EUA: de modo mais acentuado no caso coreano, mais remotamente no caso vietnamita (8/12).
Hoje, em seu zênite, os EUA encontram aquilo que é o Ur-Staat do mundo oriental, ao mesmo tempo o maior e mais antigo país do mundo -- enquanto continuidade de uma mesma civilização. E pior: a China é socialista, o que é uma combinação perfeita para o imaginário americano (8/12).
Sob o manto do supremacismo branco ou da defesa universal da "democracia", revela-se um delírio comum às massas americanas "polarizadas", que é o da manutenção do "destino manifesto" como forma de manutenção da prosperidade relativa face ao mundo (9/12).
Manter a hegemonia é uma forma de, apesar da desigualdade e exclusão crescentes, manter um cenário de privilégio. Nada personifica melhor no imaginário americano essa castração que o trabalhador chinês do sec. 19, aquele que não queria se incluir no sistema excludente (10/12).
Rigorosamente, o sistema americano se assenta na ideia de importação de mão-de-obra, exclusão e submissão da mesma com consequente segregação social e geográfica. Mas ela nunca absorveu a massa oriental, porque ela nunca quis no fundo "fazer parte" (11/12).
Pior ainda, a China é vermelha. A caixa de pandora que Trump abriu é, portanto, a pior possível. E junto a toda conjuntura global, ela "obriga" um Biden, que é velho nas ideias e na idade, a combater em duas frentes, uma estultice estratégica que ameaça o mundo (12/12).
P.S.: sob vários aspectos, a China é mesmo um cruzamento da URSS com o Japão, mas no bom sentido, o que faz os EUA projetarem os piores sentimentos em relação a ela.
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Liberais mudaram a política brasileira obtendo uma larga hegemonia política, mas ela veio desacompanhada de qualquer plano de execução ou uma liderança. Deu no que deu, e eles são os grandes culpados. Não me venham com chororô (1/7).
Para viabilizar um plano mau, você precisa de uma estratégia boa. Você pode criar um sistema horrível, mas ele precisa ser sustentável e estável. Não é o caso desse experimento louco feito no Brasil (2/7).
Hoje, esses mesmos liberais, que ajudaram Bolsonaro a se eleger, mas não sabem o que fazer com ele, exigem que Lula mantenha reformas que, objetivamente, deram errado. Nunca foi tão fácil, em termos lógicos, reverter reformas como agora, mas politicamente é difícil (3/7).
Sejamos francos, a principal razão para se revogar uma reforma trabalhista deve ser seu impacto sobre a produtividade do trabalho. No caso espanhol, a reforma deles de 2017 tirou direitos e não gerou melhorias significativas para a economia tradingeconomics.com/spain/producti…
(1/5)
Vejam que antes a produtividade do trabalho já avançava na Espanha. Tornar as condições mais favoráveis ao empregador era pura demagogia com o capital, podendo ter um impacto negativo no curto e médio prazos (2/5)
No caso brasileiro, temos um desastre ainda maior: a reforma trabalhista não apenas não gerou melhoras como, ainda, DERRUBOU a produtividade. É um verdadeiro desastre, olhem com seus próprios olhos: tradingeconomics.com/brazil/product… (3/5):
Boric venceu no Chile por uma margem maior do que a projetada. Institutos chilenos erraram porque não pesquisam, sequer, a abstenção. Os 8 pontos percentuais a mais do 1º para o 2º turno votou, quase massivamente, em Boric. Ou melhor: contra Kast (1/7).
No duro, sem esses novos eleitores, é possível que Boric tivesse vencido, mas por uma margem apertada. De todo modo, ele terá de construir uma maioria parlamentar num cenário partidário balcanizado quase como o Brasil (2/7).
Os setores à esquerda do centro tem uma tênue maioria. É possível que muitos eleitores de candidatos a Presidente de direita do 1º turno tenham, paradoxalmente, votado em setores à esquerda do centro para deputado e senador (3/7).
Ano que vem, teremos uma batalha importante no Brasil. Lula é central nisso. São tempos de desordem internacional, deflagrada por uma crise financeira em 2008 no centro do sistema e uma pandemia em 2020, onde a potência central, os EUA, lutam a todo custo para se manter (1/7).
A ordem mundial, primeiro como a ordem da banda capitalista, depois de todo o mundo, viu seu equilíbrio desequilibrado ir para o espaço (abração procê, Varou). E aí, virou esse salve-se quem puder, que nos atravessou em um bom momento, aqui e no continente (2/7).
Tem amigos que investigam bem a natureza do sistema, seus dispositivos, mas insistem em não olhar para essa velharia chamada geopolítica. E, assim, ignoram a ação de frações burocráticas e políticas nacionais em uma terra que não, não é plana (3/7).
Zero surpresa para mim o que está sendo o (des)governo Bolsonaro, e longe de mim, bem longe, me julgar algum gênio por isso. Mas ainda que me choque, não me surpreendo com certa surpresa bem ampla. O Brasil é um país que possui certas bolhas de cognição surpreendentes (1/7).
Eu lembro bem da década de 2000, e da oposição a Lula. Eu ficava chocado com a qualidade e a natureza da oposição a Lula. Ainda que fosse adotar um viés de direita, aquilo estava errado e era perigoso. Era mesmo, deu nisso (2/7).
Existe uma falta de solo comum no Brasil, seja por causa da escravidão e da colonização, mas também pela forma como ocorreu a imigração do século 19 e 20 para o Brasil, vinda da periferia da Europa, Oriente Médio e Extremo Oriente (3/7).
Holliday sendo normalizado pela enésima vez, mas desta vez em companhia coerente. Existe um liberalismo que pode se apresentar como esquerda, mas é, antes de tudo, liberalismo. Não adianta: a diferença entre o MBL e a esquerda liberal é menor do que muita gente gostaria (1/5)
Seja um liberalismo que se apresenta "ao centro" (como Tabata) ou "à esquerda" (como Isa Penna) - embora a segunda está em franca campanha de rebranding, talvez para se unir de alguma forma à segunda (2/5).
Enquanto isso, Holliday é um cara que estava sendo violento com professores e servidores em São Paulo agora há pouco, ou hostilizando fisicamente um vereador idoso do partido de Isa como o respeitável Toninho Vespoli (3/5).