Vamos a mais uma edição de
#saudeeleitoral22

Vou responder ao desafio de analisar o programa do Volt. Pela ausência do programa da IL e PSD não tenho tido oportunidade de seguir o calendário, pelo que vamos a isso!

Programa que surpreende pela dimensão e detalhe

Segue 🧵🧵🧵
O programa dá destaque à saúde mental e farmacêuticos

Começa com um capítulo sobre acesso aos cuidados de saúde:

Pretendem reduzir listas de espera essencialmente através da tecnologia. Há boas experiências piloto na área que podem e devem ser expandidas. Concordo
Mas não percebo a enorme cautela à contratação de profissionais (colocam 3 condicionantes!) Quando é um dos problemas neste capítulo.
A organização e melhor utilização da capacidade instalada é outro dos determinantes que também não é abordado
"Atribuir uma equipa de saúde familiar a cada residente" - bom objetivo e com uma escrita perfeita. Fica um pouco embrulhado na forma como explica. É pedido a expansão do modelo USF, mas não se percebe o pedido para ser "progressivamente universal" o SNS já é universal!
O sistema de remuneração misto já existe nos modelos B das USF. O que está a ser proposto? Alargar tudo a modelo B? Ou alargar o modelo a outros contextos? Não é pormenor, a diferença é enorme
Que melhorias julgam necessárias na legislação das USF modelo B?
A proposta de unidade móveis de saúde é algo que apesar de útil, não é essencial nem carece de grande investimento. Já foi mais importante, mas felizmente a cobertura dos serviços de saúde e melhoria das condições de vida diminuiu a importância destas unidades
Saúde digital é importante. Incluir outros atores também.
Descentralizar as farmácias comunitárias para os centros de saúde também é uma medida interessante
A medida "potenciar o papel dos farmacêuticos comunitários enquanto agentes de saúde pública" tem um alcance muito maior do que aparenta. Não sei se os autores perceberam.

Está explícito a defesa da redefinição dos papéis sociais da saúde (e uma guerra com as ordens 😬)
Como alguém que defende que o princípio, fico feliz por ver outros partidos a terem coragem de o defender em público (apesar de, talvez por receio não estar explícito)
Não sei se os autores perceberam onde estavam a entrar, porque se focaram apenas nos farmacêuticos
Temos duas medidas liberais na saúde, aumento do cheque dentista e cheque óculos sem pedir que o SNS ganhe competências/profissionais (logo no princípio, relembro as 3 condicionantes para de contratar)
Um capítulo sobre rede multidisciplinar em saúde
Onde se pede, não mais profissionais, mas a integração? Em contexto de cuidados de saúde primários. Onde ao certo? Na comunidade já estão nas URAP. Pedir integração com o objetivo de racionalizar recursos, então já está feito
Seguem-se vários pontos sobre saúde mental. O programa dá um bom destaque neste capítulo.
Apenas tenho dúvidas nos "rastreios obrigatórios de saúde mental" nos locais de trabalho. Muito cuidado com esta abordagem que tem potencial deslizante tremendo
Mais nutricionistas nos hospitais (primeira vez que pedem mais profissionais no SNS) mas para seguir pessoas subnutridas. Que não é propriamente o maior problema da área, mas que também merece abordagem
"reforçar a capacidade da SNS 24" a linha em 18 meses aumentou a capacidade de 1 milhão/ano para 5 milhões. Há um tecto..
A SNS 24 para diminuir o número de urgências precisa de rever algoritmos

Já que falamos sobre SNS 24, podíamos meter as péssimas condições laborais
Oferecidas pela MEO

Melhorar a rede de cuidados continuados e paliativos e a articulação com os serviços sociais - boa medida

Retirar médicos de família aos idosos dos lares sem garantir uma alternativa é um desastre à espera de acontecer. (Os lares já têm de ter médico)
No pré hospitalar pretendem adoptar o sistema americano dos paramédicos (que seriam equivalentes a médicos e enfermeiros das urgências)

Não troco a formação e experiência de um médico e enfermeiro especialista a futuros paramédicos
Capítulo sobre cuidados de saúde preventivos é bom, aposta em literacia e saúde escolar. Adorei ver o tabaco mencionado como prioridade. E também sem receio de defender taxas sobre álcool. É o melhor capítulo do programa.
Mas tem um ponto muito polémico:
Lembram que todos temos direito à saúde mas o dever de a proteger e promover
Propõe legitimar sanções a quem recuse "atos de prevenção primários". a definição de atos de prevenção primárias é bastante abrangente. eu teria mais cuidado, ou explicava melhor o que quero dizer
Em última análise, está a ser proposto multar quem recusa análises de rotina ou ser vacinado. o que é errado

Sobre profissionais de saúde, tem bons pontos sobre exclusividade para médicos e salários, assim como internato. Para variar, as outras profissões não têm direito
Querem melhorar o sistema de avaliação, que é boa ideia.

O ponto:
"Adotar de forma célere concursos de recrutamento e progressão nas carreiras": parece uma confusão e mistura de dois assuntos no mesmo ponto.
Medidas para fixar profissionais em zonas carenciadas. Querem carreira especial de secretariado clínico mas só para os assistentes técnicos das USF? Porquê? Os outros não merecem?

Gostei de ver os cuidados transfronteiriços no programa. O ângulo é bom
Se se queixam com razão dos sistemas de informação e da sua interoperabilidade, a ideia de ter vários a concorrer entre si não vai ajudar em nada. Isso é o que já temos e que bom resultado trouxe
Tornar obrigatória a fatura detalhada: já é apresentada. Querem mais detalhe? O investimento necessário para permitir esse objetivo não compensa

Termina com value based healthcare
Este fio está longo, pelo que não vou entrar a fundo aqui
Apenas referir que esta teoria tem coisas boas, mas não é fantástico que estão a vender

Outro dia faço um 🧵 só sobre isto
O programa surpreende em alguns pontos e na sua profundidade. Não esperava, confesso. Bom ponto forte na promoção da saúde. Tem coragem para enfrentar ordens, mas depois não é capaz de pedir mais profissionais de saúde nem abordar questões laborais que ultrapassem médicos
Isto ficou enorme!

Mesmo para terminar, demonstram um conhecimento adequado da realidade, fraco nas questões laborais extra médicos.
Defendem o SNS, mas sem pedir mais meios, complementando com soluções liberais como "cheques"

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3 Jan
Vamos a mais uma edição de
#saudeeleitoral22

Hoje seria o debate com CDU, pelo que está na hora de olhar para o seu programa eleitoral para a saúde

Um programa longo, bem estruturado e que defende o SNS
Segue 🧵🧵🧵
Avançam o mesmo programa de 2019, mas com um prefácio. A saúde tem direito a um capítulo próprio com 7 pontos extra/destaque.
Maioria dos pontos dizem respeito a questões laborais (situação que desenvolverei mais à frente)

Mais contratações, dedicação exclusiva, carreiras
Pedem o "aceleramento na compra de equipamentos em particular de meios auxiliares de diagnóstico". Importante mas curto e mal definido. E pedir apenas mais meios é insuficiente, era uma boa oportunidade para explicar como produzir mais com os meios atuais (e futuros)
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3 Jan
O último relatório linhas vermelhas é muito interessante.
A maior incidência está no grupo 20-29, seguindo-se dos 30-39. São os jovens adultos os principais focos de novos casos.
A incidência no grupo +65 é 6x inferior ao grupo 20-29. Impacto da 3ª dose e talvez menor mobilidade
Ainda estamos com situação crescente, não é claro quando será atingido o pico. Mas o impacto nas UCI está totalmente dissociads dos novos casos. Há mais pessoas 20-39 em UCI que +80 (8 vs 6). Maior grupo são os 60-79
Em outubro, um não vacinado +80 tinha o dobro da probabilidade de internamento que um vacinado da mesma idade. Proporções semelhantes para 70-79 e 60-69.
No grupo 50-59 um não vacinado tinha 6x maior risco de internamento que um vacinado
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2 Jan
é agora! Costa vs Tavares

Costa com gravata verde, Tavares sem gravata.

vamoos
Porque Tavares não foi coligado?

alinhou no discurso que ninguém queria eleições. são um partido responsável. divagou e o moderador chamou à pergunta:
- lembrou o medo das maiorias absolutas e é preciso transparência
Costa, quer maioria absoluta?

Elogia Livre e Tavares. Cola Rui Rio a politicas de austeridade. Aproveita para se mostrar como partido da responsabilidade e estabilidade
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2 Jan
Hoje iniciam-se os debates! está na hora de ir ler os programas eleitorais, com olho na saúde. Vou deixar o do Bloco para o fim e tentar seguir a ordem dos debates da Catarina.
O que significa que vamos começar pelo CH.

Segue o 🧵🧵 após leitura e análise atenta👀👀👇🏼👇🏼
Antes da saúde propriamente dita, passei pela economia. Afinal de contas, não há saúde sem economia (nem economia com pessoas doentes)

O CH defende que gerir um país é igual a gerir um orçamento familiar. Começa de forma bem tosca
Defende um corte enorme nos impostos e elege como *prioridade* económica pagar a dívida. Além da ironia boa de ter o partido nacionalista a servir os interesses dos banqueiros alemães, é revelador do pensamento de vistas curtas. A prioridade não é crescer, é pagar dívida
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14 Dec 21
🚨 atualização omicron 🚨
Com volume de dados já razoáveis da 🇿🇦

👉🏼 Variante já representa 90% dos casos
👉🏼 Duas doses 💉 confere proteção para internamento em 70%, menor que para delta, mas pode ser devido aos mais velhos terem sido vacinados há mais tempo
👉🏼 a probabilidade de ser internado por omicron é de 29% inferior a outras variantes!
Pode ser porque o vírus é menos agressivo, mas convém não esquecer que já não se trata de uma epidemia em solo virgem. De uma forma ou outra, a população já contactou com o vírus
👉🏼 nas UCI, apenas 16% são vacinados. Não partimos do zero, vacina protege para doença grave
👉🏼 Alta percentagem de omicron assintomático, sugere menor gravidade da doença
👉🏼 Recuperação mais rápida, em média 3 dias
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12 Dec 21
A agência inglesa já produziu um relatório bastante completo sobre a omicron. (Eles trabalham bastante bem, há que reconhecer)

👉🏼Variante detetada em 5 amostras de 4 dos 477 sistemas de esgotos em vigilância, desde 26 de novembro. (Ou seja, transmissão comunitária)
👉🏼 transmissão em casa, é maior quando o caso index é omicron em vez de delta. 3,2x superior
Pela rapidez do relatório e poucos dados, este número não tem em conta estado vacinal e/ou infecção prévia

👉🏼Sem evidência clara de aumento risco de reinfeção, mas aponta para que sim
👉🏼Se a taxa de crescimento na comunidade permanecer igual, omicron atinge a paridade com a delta na próxima semana
👉🏼 é provável que as vacinas percam eficácia para doença sintomática, mas *retenham eficácia para doença grave*

(Não começamos do zero, é positivo)
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