Thread by @guiicaetano

Qual é o balanço de três anos de governo Bolsonaro para a extrema direita brasileira? Perguntei a cientistas políticos, antropólogos, historiadores e estudiosos do assunto para tentar responder:
oglobo.globo.com/politica/sob-b…

Segundo o @odiloncaldeira, houve um processo de aceleração da internacionalização da extrema-direita brasileira, que passou de receptora para produtora de ideias, e virou um ator importante no âmbito internacional. Com queda de Trump, Brasil ganhou mais espaço no palco.

A extrema direita perdeu uma oportunidade inédita de ter fundado um partido próprio. Por isso, @CECLynch diz que uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro será um baque mais duro do que foi para a esquerda no pós-Dilma, porque o PT tem base social, partido forte e enraizamento.

Lynch é especialista em ideologias e tem, na minha visão, as melhores definições sobre grupos ideológicos. Palavras dele: " O conservadorismo pressupõe que a sociedade muda e tenta preservar o que acha de valor no passado no presente. Para o reacionária o mundo bom desapareceu +

+ então ele tem que restaurar uma sociedade que não existe mais. O reacionário não quer conservar o passado no presente, ele quer dar marcha a ré. O fascista é um reacionário extremado: precisa empregar o Estado para eliminar todos os focos que impedem a mudança, e restaurar +

+ o primado da família e da religião. O Brasil sempre se representou como um país atrasado e periférico, então o progresso era uma obsessão da política brasileira desde a Independência. O surgimento de uma extrema direita fascista é quase que uma aberração na história do Brasil".

P/ Camila Rocha, o naufrágio do Aliança pelo Brasil não é um problema, pois ela avalia que poder de mobilização de Bolsonaro independente de partido. "Não ter um partido único é estratégia dabem anterior à ascensão bolsonarista. Faz sentido para quem se vê como antissistema".

Camila escreveu um dos melhores livros de política lançados em 2021, na minha opinião. Ela conta como se formou e organizou as direitas neoliberal e conservadora desde a ditadura, até formar a coesão que ajudou a eleger Bolsonaro.
todavialivros.com.br/livros/menos-m…

Há certo consenso a respeito da normalização de alguns valores da extrema direita na sociedade brasileira nesses últimos três anos, como autoritarismo, hierarquia e nacionalismo. Não à toa, cresceu o número de ocorrências de apologia ao nazismo no Brasil desde 2018.

Uma matéria do @coutomarlen de agosto de 2021 já dava conta disso. O ano anterior havia batido recorde de inquéritos da Polícia Federal para investigar esse crime: SP, RJ, RS, PE e PR concentram os casos.

A @letcesar, que pesquisa desinformação em ambiente digital e monitora grupos extremistas, tem uma avaliação interessante do efeito dessa radicalização na arena pública nos últimos anos. Ela detecta uma “zona cinzenta” entre o subterrâneo das redes digitais bolsonaristas +

+ basicamente um ecossistema entre WhatsApp, Facebook, Telegram, YouTube etc. + e a arena pública. Nesse espaço, ideias radicais circulam entre pessoas que não são necessariamente extremistas. Ocorre uma radicalização de pessoas com propensão a consumir conteúdos conservadores.

Outro resultado de 3 anos de governo Bolsonaro é que a produção de conteúdo de extrema direita se tornou muito rentável. Canais de YouTube (que remunera canais de acordo com volume de acessos: US$ 0,25 e US$ 4,50 para cada mil visualizações), cursos, palestras, venda de produtos.