1/28
Mais de 1 ano de vacinação contra a COVID e ainda tenho que ver o argumento "Mas em tal lugar tem mais vacinado no hospital do que não vacinado". Então vou refazer um fio que fiz um tempo atrás explicando porque isso é normal e como essa não é uma comparação justa 🧵👇
2/28
Já falei disso uma vez, usando um exemplo dos EUA para ilustrar a lógica que explica o porque isso acontece naturalmente
4/28
Vamos lá então. Se 100% da população está vacinada, mesmo que a vacina seja 99.9% eficaz, algumas pessoas irão ao óbito pela doença. Normal, não existe prevenção nem tratamento 100% eficaz. Então nesse cenário é claro que todos os óbitos serão entre vacinados
5/28
O que esse proporção deixa de fora é que com 100% da população vacinada a quantidade de óbitos é muito menor, é ai que vemos o efeito da vacina. Se antes ocorriam 2000 óbitos sem ninguém vacinado, agora ocorre 2 óbitos com todos vacinados.
6/28
Da para relacionar a fração de desfechos (óbitos, hospitalizações ou casos) com vacinados dentre os totais (Bₜ) com a fração da população vacinada (fᵥ) e a efetividade da vacina na população (VE)
7/28
A depender da efetividade, a relação entre fração de desfechos vacinados (breakthrough) e a população vacinada muda. Notem que eventualmente, a fração de desfechos vacinados sempre passa 50% (altura de 0.5 no eixo vertical), já que a maioria da população está vacinada
8/28
Vamos ver um exemplo prático. No ourworldindata.org/covid-deaths-b…, podemos encontrar a incidência de óbitos por COVID na Suíça entre vacinados, vacinados + reforço e não vacinados
9/28
Se pegarmos então a fração da vacinados fᵥ, a incidência (Iᵥ) em um dado grupo e a incidência somada nos grupos, podemos encontrar a fração de óbitos Bₜ que ocorrem em vacinados ou vacinados+reforço, com isso podemos estimar a efetividade da vacinação por lá certo?
10/28
Poder até podemos, mas para o cenário atual essa comparação nem é justa. Isso porque essa relação que eu mostrei nos tweets acima entre Bₜ e a efetividade da vacina só é válida para cenários onde a população é homogênea e não há diferenças etárias grandes
12/28
Então na prática fazer essa comparação é comparar grupos totalmente diferentes. Dizemos que a idade é um fator de confusão que tanto está relacionado aos óbitos quanto à vacinação. Portanto, é mais justo fazer essa comparação separando por faixas etárias
13/28
Por sorte, o ourworldindata.org disponibiliza os dados de incidência de óbitos por faixa etária na Suíça. Entretanto, notem na distribuição etária ali em cima que as idades abaixo de 50 tem poucos óbitos, o que torna a estatística para comparação nula
14/28
Vou comparar as faixas etárias 50-59, 60-69, 70-79 e 80+. Para cada uma delas, eu uso as incidências de óbitos entre vacinados, vacinados+reforço e não vacinados, e a fração da faixa etária vacinada para estimar a efetividade da vacinação com 2ª dose e reforço contra óbito
15/28
Eu faço isso simplesmente fazendo um ajuste de curva onde o parâmetro a ser ajustado é a efetividade VE, o eixo-x é a fração vacinada e o eixo-y é a fração de óbitos vacinados entre o total
16/28
Fazendo isso, as efetividades estimadas ficam em torno de 77 e 96% para 2ª dose e acima de 99% para 3ª dose/reforço. Aqui as margens de erro são o erro estimado pelo ajuste e representam o intervalo que cobre 95% da distribuição a posteriori para o parâmetro de efetividade.
17/28
Isso ainda tem problemas. O primeiro é que essa seria uma efetividade geral, seria mais adequado separar tudo para o tipo de vacina usada, mas os dados não dizem isso. Outro problema, como eu disse, isso é uma efetividade e pode ser influenciada por muitos outros fatores
18/28
Por exemplo, veja que a efetividade de 2ª dose encontrada para 50-59 é menor do que a de 60-69 anos. Uai mas a eficácia não é menor em idades mais altas? Não deveria ser o contrário?
19/28
É ai que mora o problema de efetividade. A eficácia pode até ser igual ou um pouco maior para o grupo 50-59 anos do que 60-69, mas se o grupo 50-59 se expor muito mais, a efetividade medida pode ser menor
20/28
Olhando para a matriz de contato social da Suíça, supondo que a preferência de contatos entre idades se mantenha de 2017 (é a data do artigo) para cá, vemos que a faixa etária 50-59 tem quase 2x mais contatos diários do que a faixa etária 60-69 doi.org/10.1371/journa…
21/28
Isso já influencia a efetividade de uma vacina na população. Infelizmente não é fácil saber quantificar a relação entre efetividade e exposição social. Além disso, não é apenas os contatos que irão influenciar a efetividade, mas o risco em cada contato
22/28
Então por exemplo, um levantamento do @MorningConsult indicou que pessoas que tomaram as 3 doses são as mais preocupadas sobre contrair COVID
23/28
Isso provavelmente significa que entre os contatos sociais, essas pessoas podem estar mais dispostas a usar máscaras, o que diminui o risco do contato. E novamente, isso influencia a efetividade.
24/28
Com tudo isso, percebam em como há centenas de variáveis que alteram a efetividade de uma vacina na população, além da eficácia protetora dela mesma. Sendo assim, eu deixo alguns pontos para finalizar
25/28 1. É normal que dada uma certa efetividade e uma certa fração de vacinados, hajam mais hospitalizações ou óbitos vacinados do que não vacinados, o que importa é como os óbitos diminuem no total (basta comparar a incidência nos dois grupos, ao invés da fração do total)
26/28 2. Mesmo que insistamos nessa comparação, podemos ver que o comportamento dentro das faixas etárias ainda aponta para alta efetividade das vacinas, na prevenção dos óbitos
27/28 3. Efetividade é uma métrica que é influenciada por muitos fatores comportamentais e sociais, que pode aumentar o diminuir por muitos motivos. Isolar o efeito de eficácia apenas é uma tarefa quase impossível
28/28 4. Para não esquecer, o código para os ajustes e gráficos estão no meu github na pasta "Switzerland" github.com/PedroHPCintra/…
1/14
Na Europa é bem clara a relação entre vacinação com 2 doses e fatalidade por caso de COVID. Aqui temos no eixo-x a % da população no país com 2 doses e no eixo-y a fração de óbitos por casos registrados em 2 semanas. Mais detalhes 👇🧵
2/14
Atenção à alguns detalhes. Há fatores de confusão aqui, como testes feitos. Escolhi a Europa por ser o continente que mais testou proporcionalmente à sua população nesse período, para minimizar as diferenças por testagem
3/14
Mas claro que isso ainda tem variações. Escolhi também um período logo antes da #omicron pois no momento atual, a prevalência dela nos países Europeus varia muito, o que poderia trazer mais confusão para a correlação
1/n ✅Dia de atualizações: Cobertura vacinal de 2 doses por município em todos os estados do Brasil. #VacinaSim#VacinasSalvamVidas
Detalhes no fio abaixo (O fio é grande mas é porque tem todos os estados do Brasil em ordem alfabética). Comentários ao final 👇
2/n ACRE
⚠️Média de cobertura dos municípios em 40.4%
⚠️Diferença entre os 2.5% mais baixos e os 2.5% mais altos de 29.5% (Esse dado é o utilizado para minha estimativa de homogeneidade)
3/n Distribuição das coberturas pelo estado. O eixo X (horizontal) é a fração de pessoas com ambas as doses. O eixo Y (vertical) é a quantidade de municípios que estão nesse nível de cobertura.
1/24
Terceira dose vem ai mas não podemos deixar de lado uma necessidade muito importante. A cobertura homogênea para a 2ª dose. Vou explorar um pouco essa homogeneidade nesse fio. 👇🧵
2/24
Primeiro vamos definir o que eu quero dizer com homogênea. Eu digo homogênea no sentido espacial, ou seja, locais diferentes de um mesmo estado deveriam, idealmente, ter índices de cobertura vacinal iguais. Porque isso é importante?
3/24
Todo modelo que trabalha com imunidade coletiva e proteção coletiva que as vacinas induzem assume que a cobertura vacinal está homogeneamente distribuída na região. Sem isso imunidade coletiva é difícil. Vamos pegar dois exemplos que eu atualizo aqui toda semana para isso.
1/33
Nesse final de semana eu e 4 amigos (Com @joaoasds e @vitordmeireles) participamos do #hackathon de física da @mcgillu no Canadá. Nosso projeto foi premiado com 1º lugar :)
Nesse fio eu vou explicar o projeto e mostrar os resultados mais legais devpost.com/software/gener…
2/33
Primeiro só para explicar brevemente para quem não sabe o que é, um hackathon é uma competição de desafios entre equipes que dura 24h. As equipes entram com uma proposta de desafio que querem fazer nas 24h do evento
3/33
e são julgadas baseadas no desafio que elas propuseram, em o quanto conseguem fazer dele e a forma como os resultados são apresentados (essa é a parte mais importante, eu acho).
💉🇧🇷Atualização: Pirâmide de vacinação do Brasil até esse domingo (31/10). Dose única entra na contagem de vacinados 2ª dose. #VacinasSalvamVidas
Frame mais recente:
Aqui no Brasil, uns 14% da população tem 0 a 9 anos. Pelo nowcasting do @leosbastos fica claro como essa população está precisando se vacinar também. Espero que as aprovações cheguem nessa faixa etária logo
1/19
Vi algumas pessoas preocupadas com as vacinas porque em locais que já tem muitos vacinados, os vacinados tem uma maior fração nos óbitos e hospitalizações. Vou elaborar um fio aqui explicando porque isso é normal e ainda mostra que as vacinas funcionam 🧵
2/19
Eu comentei sobre isso alguns meses atrás, mas vou pegar um exemplo aqui para deixar isso mais claro e tentar explicar melhor
3/19
Vamos lá, imaginem um cenário lindo onde 100% da população está vacinada com uma vacina 99.99% eficaz em prevenir óbitos. É claro que, já que a vacina não é 100% eficaz, e todo mundo ta vacinado, todos os óbitos vistos serão em vacinados, apesar de serem MUITO menores