1/24
Terceira dose vem ai mas não podemos deixar de lado uma necessidade muito importante. A cobertura homogênea para a 2ª dose. Vou explorar um pouco essa homogeneidade nesse fio. 👇🧵
2/24
Primeiro vamos definir o que eu quero dizer com homogênea. Eu digo homogênea no sentido espacial, ou seja, locais diferentes de um mesmo estado deveriam, idealmente, ter índices de cobertura vacinal iguais. Porque isso é importante?
3/24
Todo modelo que trabalha com imunidade coletiva e proteção coletiva que as vacinas induzem assume que a cobertura vacinal está homogeneamente distribuída na região. Sem isso imunidade coletiva é difícil. Vamos pegar dois exemplos que eu atualizo aqui toda semana para isso.
4/24
Rio de Janeiro e São Paulo são dois estados vizinhos com homogeneidade na cobertura vacinal bem distintas.
5/24
Enquanto São Paulo tem uma cobertura razoavelmente homogênea entre seus municípios o Rio de Janeiro possui uma heterogeneidade, alguns municípios com 19% da população com 2 doses e outros com quase 70%.
6/24
Essa discrepância atrapalha a contenção da transmissão do vírus. É muito importante, especialmente para o Brasil que é um país continental, que o avanço da vacinação ande da forma mais homogênea possível dentro do território.
7/24
Como podemos medir essa homogeneidade? Uma forma é olhar para a distribuição de coberturas dentro dos municípios em um dado estado. De novo, aqui embaixo tem os exemplos das distribuições de coberturas para os municípios de São Paulo (esquerda) e Rio de Janeiro (direita).
8/24
Se a distribuição é muito larga, isso significa que existe muita heterogeneidade, muitos municípios com vacinação mais avançada e muitos com vacinação mais devagar. Podemos quantificar isso usando o intervalo de 2σ das distribuições.
9/24
Esse intervalo abrange 95% da área da distribuição, como ele é proporcional à área, quanto mais larga a distribuição, maior o intervalo de 2σ. Abaixo, eu tenho várias distribuições aleatórias para cobertura vacinal diferentes e a faixa vermelha corresponde ao intervalo de 2σ
10/24
No caso de um estado possuir um intervalo de 0.7 por exemplo, significa que há uma diferença de 70% na cobertura vacinal dos municípios mais baixos para os mais altos, o que é uma heterogeneidade muito alta.
11/24
Sendo assim, eu defino homogeneidade de cobertura em um município (h) como sendo 1 - largura do intervalo de 2σ. h = 1 - 2σ. Assim, quanto mais próximo de 1, mais homogênea é a cobertura vacinal no estado.
12/24
⚠️Importante salientar que um estado pode ter uma cobertura alta na média, mas uma homogeneidade baixa, bem como também pode ter uma cobertura baixa e uma homogeneidade alta.
13/24
Fazendo isso para os estados do Brasil, adquirimos o seguinte mapa de homogeneidades. Quanto mais azul, mais homogênea é a cobertura, quanto mais vermelho, mais heterogênea é a cobertura.
14/24
O DF possui um problema aqui, ele só possui um município, então naturalmente o intervalo de 2σ é igual a 0, já que a distribuição de coberturas só possui um ponto. Isso faz com que h = 1. Seria melhor usar dados por região administrativa para o DF, mas não encontrei dados.
15/24
Dois estados chamam bastante atenção, Ceará e Rio Grande do Norte possuem homogeneidades bem baixas. Isso é um risco grande para transmissibilidade do vírus nessas regiões.
16/24
Olhando para esse mapa, tem 13 estados cujas cores não estão nem perto de azul. Garantir uma cobertura mais homogênea dentro dos estados deveria ser uma prioridade, antes de pensar em dar 3ª dose para população geral, na MINHA OPINIÃO.
17/24
Porque eu digo isso? A eficácia das vacinas contra COVID sintomática diminui sim, o que é normal já que o principal correlato de proteção contra COVID sintomática parece ser anticorpos neutralizantes (severidade envolve outros elementos)
18/24
Mas, justamente pelo fato de os correlatos de proteção contra severidade dependerem mais de outros elementos além dos anticorpos circulando no sangue, as efetividades contra hospitalização e óbito continuam altas.
19/24
Abaixo tem o resumo que eu fiz de alguns estudos que li sobre perda de efetividade para a Pfizer, como exemplo.
20/24
Sendo assim, se torna mais vantajoso impedir a transmissão. Os grupos que mais transmitem são crianças e adultos. Olhando para a pirâmide vacinal do Brasil, adultos são justamente onde tem a maior quantidade de pessoas que ainda não se vacinaram nem com 1ª dose.
21/24
Por isso suspeito que essas heterogeneidades nos estados estejam justamente nessa população. Que inclusive é a mais recentemente vacinada pelo PNI, portanto possui a menor redução de efetividade.
22/24
Visando impedir a transmissão do vírus, me parece ser muito mais vantajoso buscar atingir a homogeneidade nos estados do que aplicar 3ª dose na população que já tomou a 2ª. Claro que dar a 3ª dose não é errado, apenas acho que não é prioritário.
23/24
Porque alguns estados possuem heterogeneidades tão altas? Falta de doses? Má distribuição para os municípios? Resistência da população? Isso precisa ser investigado.
24/24
Nisso tudo, além da homogeneidade na cobertura espacial, ainda tem a homogeneidade na cobertura etária, vacinar crianças que transmitem bastante logo.

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