Thread by @PauloVieiraReal

quando eu era muito criança, achei um livro de magia/bruxaria/macumba no lixo, não lembro direito o que era

tava lá de boa lendo minhas magia, quando meu tio pastor chegou com a inquisição

fui arrastado até meu bisavô, que “mexia com essas coisas”, pra que meu tio pudesse esfregar na cara dele sua má influência sobre mim.

Vovô pegou o livro, olhou, olhou… só olhou mesmo porque não sabia ler

não gostou dos símbolos que viu e mandou minha vó ler os enunciados

corta para:

uns 15 adultos da família na sala, alvoroçados, meus primos dependurados de fora da veneziana me olhando com cara de de “o que você fez dessa vez?” e eu, sem entender nada, sentado num tamborete de couro de vaca enquanto meu Biso me perguntava pela milésima vez:

- ESSA ORAÇÃO AQUI, ESSA (apontava), MEU FI LEU?

e eu “não lembro” (lembrava sim)

- PELAMOR DE DEUS, SE MEU FI LEU FALA QUE É MELHOR

a inquisição convocou minha vó chorando (golpe baixo) e eu confessei

- LI, EU JÁ LI FOI TUDO

ELE LEU

Segundo meu bisavô, benzedor de cobra e conhecedor de tudo que há de importante no mundo: depois de ler aquela oração, a pessoa dava 7 mil passos e caía morta

a questão era: quantos passos eu já tinha dado? Quantos faltavam pra eu cair morto?

e foi assim que eu passei dias sendo carregado pela minha família, no colo e numa cadeira - tal qual um menino rei - porque eu estava amaldiçoado e poderia morrer no próximo passo

mandaram minha bisavó voltar correndo de Uberaba pra desfazer a parada

Minha bisavó manjava de todos os paranauês e não havia nada que ela não conseguisse desfazer

na verdade, tinha uma coisa sim: o preconceito do resto da família com a religião dela e do meu Biso.

Vovó chegou, me levou pro quartinho e o resto é mistério.

Tudo isso pra dizer que eu acho que fiquei traumatizado e é por isso que não gosto de fazer caminhada. 😅