A Eritreia é um dos países mais jovens do mundo: independente da Etiópia em 1993 após três décadas de guerra, tem o mesmo presidente desde então e é habitado por diversas etnias.
Em 2022, tem um único participante nas Olimpíadas de Inverno: Shannon Ogbnai Abeda.
Após a derrota do Exército Colonial Italiano em 1942, a Eritreia passou para a administração britânica. A ideia inicial era de um país independente, mas a Etiópia a anexou em 1962, levando à guerra de independência.
Mais de 200 mil pessoas morreram nos 30 anos de guerra.
Durante a guerra, muitos eritreus fugiram da região. Entre eles, os pais de Shannon Ogbnai Abeda.
Eles fugiram para o Canadá durante a década de 1980. Abeda nasceu em Alberta e conheceu o esqui com três anos de idade.
Ainda na juventude, Abeda decidiu que resgataria suas origens familiares e representaria a Eritreia no esporte.
Disputou as Olimpíadas de Inverno em 2018, já como o primeiro eritreu a fazê-lo. Carregou, é claro, a bandeira do país.
Nos história dos Jogos Olímpicos de Verão, a Eritrea tem uma medalha: bronze nos 10 mil metros, no atletismo, com Zersenay Tadese em Atenas 2004.
Um atleta de muito sucesso além das Olimpíadas, Tadese talvez seja um dos eritreus mais famosos do mundo.
Mas ter sucesso nas Olimpíadas de Verão faz muito mais sentido do que nas de Inverno para a Eritreia: o país é bastante quente e pouco propício para a prática de esportes como o esqui.
A chance é realmente com atletas como Abeda, criados em lugares muito, muito distantes.
As condições geográficas necessárias para a prática dos esportes de inverno faz dos Jogos de Inverno menos populares: apenas 91 países participam das Olimpíadas de Pequim. Em comparação, 206 estiveram em Tóquio 2020.
Desses, Haiti e Arábia Saudita são estreantes.
A Eritreia só não é estreante por causa de Shannon Ogbnai Abeda, que cresceu no Canadá, mas representa o país de sua família.
Histórias como a dele são as que fazem das Olimpíadas sempre tão interessantes: histórias de refugiados e de migrantes que podem levantar suas bandeiras.
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A seleção de Senegal disputou sua primeira partida em 1959, ainda como colônia, e deu seu cartão de visitas para o mundo em 2002. Hoje, finalmente é campeã continental.
O apelido da seleção é "Leões da Teranga", mas ao contrário do que parece, "Teranga" não é um lugar.
"Teranga", na verdade, é considerado "o valor nacional de Senegal", uma dessas palavras sem tradução. A grosso modo, significa "boa hospitalidade".
Representa sempre tratar visitantes com os braços abertos, oferecendo o que for necessário de todo o coração.
Mas o conceito de Teranga também teve motivos históricos para surgir.
Após séculos de escravidão e de colonização violenta, Senegal enfim se viu independente em 1960. Como vários outros países, era composto por diferentes etnias que pouco se reconheciam como nação.
Em 2018, Polônia e Senegal jogaram pela 1ª fase da Copa do Mundo, com comentários da imprensa sobre como o jogo senegalês era mais “físico e veloz”, o que garantia a vantagem sobre os poloneses.
Mas essas características estavam lá mesmo ou é só o que se diz de times africanos?
Com o início da Copa Africana de Nações, novamente ouvimos comentários sobre “força física” e “velocidade” dos jogadores do torneio, e pouco sobre organização tática e jogo coletivo.
Hora de relembrar um estudo divulgado no final do ano passado, no blog FiveThirtyEight.
A Sportlogiq, empresa canadense que trabalha com dados esportivos, possui uma tecnologia de captura de movimentos que consegue reproduzir o que jogadores fazem em campo em animações 2D.
Nelas, os jogadores podem ser visualizados como bonequinhos iguais, sem diferença de cor.
Mola, o leão, é o mascote da Copa Africana de Nações. Ele já vestiu colete à prova de balas em alguns de seus passeios por Camarões.
Da mesma forma, estrelas como Salah e Mané têm guardas armados durante suas estadias no país.
Afinal, por que tanta preocupação com segurança?
A resposta óbvia é o trauma do ataque terrorista à seleção de Togo, que aconteceu na CAN de 2010, disputada em Angola.
Na ocasião, militantes da Frente para a Liberação do Enclave de Cabinda emboscaram o ônibus que carregava os togoleses.
O ataque de 2010 acabou com três mortos - Mario Adjoua, motorista do ônibus, Stanislas Ocloo, comentarista da televisão togolesa, e Amélete Abalo, assistente técnico.
Atletas ficaram feridos - o goleiro Kodjovi Obilalé teve que encerrar a carreira pelas sequelas.
O cabo de guerra entre Europa e África por causa da Copa Africana de Nações não começou em 2022.
Aliás, podemos traçar a origem da disputa até a 1ª edição da CAN em 1957.
Um ano antes, em 1956, a FIFA vetou a iniciativa africana, considerando o continente “despreparado”.
O mundo ainda estava se recuperando dos eventos da 2ª Guerra Mundial. Já falamos, por exemplo, sobre como a criação da UEFA foi importante para a reintegração da Europa.
Na África, porém, grandes impérios coloniais ainda resistiam.
E uma competição como a CAN era perigosa.
Com a formação da ONU após a guerra, em 1945, os países-membros se comprometeram a respeitar a autodeterminação dos povos.
A África já tinha algumas nações independentes, como Libéria, África do Sul e Egito.
Mas as demais precisariam botar à prova esse compromisso da ONU.
As relações entre Argélia e Marrocos nunca foram boas, e uma apertada vitória argelina nos pênaltis na semifinal da Copa Árabe não ajudou em nada a situação.
Os saarauís, grupo étnico do Saara Ocidental, celebraram a vitória da Argélia.
Lá vem thread.
Como várias tretas africanas, essa tem origem no processo de colonização europeu.
A região do Saara Ocidental era uma possessão colonial espanhola, desocupada nos anos 70 e “doada” a Marrocos e Mauritânia.
Mas isso não foi aceito pelos saarauís, maioria étnica por lá.
Formou-se então a Frente Polisário, um grupo militar que resiste à ocupação marroquina no Saara Ocidental (a Mauritânia desistiu de reivindicá-lo).
Atualmente, cerca de 80% das terras estão sob controle marroquino e 20% pelos saarauís.