Ok, finalmente assistimos o Marighella do Wagner Moura - em duas partes e com agradecimento especial a @lukissima , que deu todo caminho da roça pra gente.

E assim: o filme é bom. Não é o melhor filme sobre ditadura que já vi, mas tem muitos méritos.
Tipo, o Bruno Gagliasso, como o delegado Lúcio, é bem interessante. É pra ser o Fleury, mas (ponto positivo), não é o Fleury. Creio que é por motivos de não dar palco pra filho da puta.

E também porque o Fleury do Cássio Gabus Mendes é imbatível.
O Seu Jorge não convence lá muito na parte dramática, mas nas cenas de alívio cômico, ele é bom mesmo.

Gostei do pastor Henrique Vieira e acho que o personagem dele reabilita os dominicanos - algo que o livro do @mariomagalhaes_ já havia feito, com muita justiça.
Adriana Esteves, sensacional, ainda que com pouco destaque. Talvez seja o problema do filme focar só em 64-69.

A história do filme em si tem problemas, recai um pouco na coisa da luta armada como devaneio jovem. Mas aí, outro ponto positivo:
A história da amizade entre Marighella e Joaquim Câmara Ferreira é bem legal. Eu lamento que Câmara Ferreira não tenha ganho mais destaque, mas só de mostrar essa relação, já achei ótimo.

Aliás, dois bons pontos do filme: Marighella aparece como figura hesitante.
As disputas com Ferreira são centrais nesse aspecto e aí entra o segundo ponto: o filme reabilita o massacre que o outro filme, "O que é isso companheiro", fez sobre a figura de Virgílio Gomes da Silva (o Jonas do filme do Bruno Barreto).
No filme de Moura, Virgílio vira Jorge e sua história é contada sem o maniqueísmo bobo que Barreto (e Gabeira) criaram sobre a figura do militante do Rio Grande do Norte que migrou para São Paulo nos anos 1950.
Enfim, essas são algumas coisas boas que eu notei no filme. Teve coisas que gostei menos (ou não gostei), mas no geral é um bom filme.

Mas ainda acho que a melhor representação do Marighella é a da Terreira da Tribo.
A peça "O amargo santo da purificação" é maravilhosa e encenada ao ar livre. Eu sempre recomendo as pessoas, pois ela me comove muito.

Fica a dica para quem puder ver a peça ser encenada. :)
Pô, vacilei, disse que a peça era da Terreira, mas é do grupo "Ói nóis aqui trá veiz".

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Feb 7
Diante dos fios da @safbf e do @erahsfeliz , tenho muito pouco a acrescentar sobre 2013. Concordo com praticamente tudo.

Mas tem um dado que sempre gosto de enfatizar: 2013-2016 foi o período com a maior quantidade de greves da história da Nova República.
O DIEESE registra um aumento considerável já em 2011, então talvez o ciclo seja maior. Mas 2013 é um recorde.

E em 2016 o recorde é superado.

apufpr.org.br/brasil-registr…
Uma leitura importante e necessária sobre o golpe inclusive é entender ele como reação a esse aumento de greves num contexto em que a economia já não ia tão bem.

Por isso também a centralidade da Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e tantas ofensivas.
Read 5 tweets
Feb 1
Hoje discuti Ranajit Guha com os alunos. Em dado momento, a discussão sobre persuasão e coerção entrou na roda.

Afirmei que numa sociedade em que o racismo é estrutural, precisamos entender que o espaço da persuasão é pequeno, minúsculo. Que o que pauta as relações sociais...
... é a coerção, a violência. Ela não é só a violência física, claro. Mas ela é a violência física. A sociedade em que o linchamento de jovens negros é um crime "normalizado" não precisa de uma elite muito sofisticada na persuasão.
Quando ela tenta persuadir, de fato, mais parece coerção - como um certo pasquim, que vive dando palanque para racista e depois, quando acusado, diz que não é racista (pois até tem repórteres negros, veja você).

E racismo é, invariavelmente, coerção.
Read 6 tweets
Jan 31
Espancaram, torturram e mataram um trabalhador negro, congolês, que exigia seus direitos.

A gente deveria estar enojado e puto.
E sempre bom lembrar: umas duas semanas atrás, um punhado de maluco veio com um papo de “racismo segundo a definição clássica, do senso comum e do bom senso, registrada em dicionários..."

Mas nada falam da persistência de linchamentos contra negros na sociedade brasileira.
Por que não falam? Por que silenciam sobre isso, que é fenômeno social notório, reconhecido dentro e fora da academia?

Não sei. Mas é bom lembrar desse projeto, de falar de racismo a partir do senso comum. Porque é justamente no senso comum que Moise foi assassinado.
Read 4 tweets
Jan 24
Que fascinante o texto da nova colunista da Falha, dizendo que questionar o "identitarismo" não é a mesma coisa que relativizar o holocausto porque o segundo é um fato e o primeiro é um conceito.

Não conheço a autora, mas ela tá de parabéns pela coragem em expor sua ignorância.
Eu, por exemplo, sou profundamente ignorante em física. Termodinâmica, elétrica, mecânica... Nem sei como terminei o Ensino Médio.

Aí imagina, eu com todo respeito esse conhecimento que ignoro, ganhar um espaço no jornal para escrever sobre, sei lá, construção de pontes.
Para isso, eu dou uma olhadela rápida no Google e pronto. Vou lá, escrevo minha coluna dizendo qual o melhor método para produzir pontes. Os especialistas vão rir de mim, mas gente tão ignorante quanto eu vai poder me usar como autoridade.

É disso que se trata esse debate.
Read 10 tweets
Jan 24
Se tem um mês culpa que os historiadores precisam fazer é de ter ensinado para os jornalistas o termo "anacronismo".
De uma discussão metodológica sobre leitura de indícios do passado, o termo virou uma simplificação grosseira, do tipo: não posso julgar os Bandeirantes com os valores de hoje pois isso é anacronismo.
Bem, news flash para quem não é da História: desde a geração de Marc Bloch e Lucien Febvre, e já vai aí quase 100 anos, a gente aceitou que inescapavelmente proferimos julgamentos sobre o passado a partir do presente.
Read 15 tweets
Jan 23
Eu tenho uma hipótese, mas não tenho dados pra comprovar:

Acho que desde 2019 (ou talvez 2016), a audiência desse programa só cresce. Tem algo de frustração política do momento que o BBB dialoga.
Mas não acho que é só isso, não. A matéria dá um tiro bom também: nossa cultura audiovisual, treinada pelas novelas, gosta da antecipação, da narrativa em capítulos. O formato do programa aqui ganhou muito de "novela", conversando com a nossa forma de ver televisão.
Pra além de tudo isso, a ideia da autenticidade dos sujeitos é muito cara nos últimos anos. Isso vende muito bem e não é só na tv.

Mas tem outros fatores aí, claro.

Pra mim, contudo, segue sendo meio misterioso. Nunca me envolvi no programa.
Read 4 tweets

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