Ao deixar este apontamento achei que podia fazer sentido deixar umas ideias mais sobre como o nosso sistema elétrico está a funcionar, e como é positiva a existência de um mercado ibérico de #eletricidade 💡 Segue então a #thread ⚡ 1/
2. Conforme o gráfico acima evidencia, as interligações com Espanha têm dado, por estes dias, uma boa ajuda para que as nossas hidroeléctricas se possam reabastecer. E se o fazem importando é porque nessas horas conseguem preços + competitivos na produção do lado de lá.
3. Temos sido essencialmente importadores, mas essa atividade está longe de esgotar a capacidade das interligações, que, como o gráfico da @REN_PT mostra, é variável (para os fluxos comerciais) em função da gestão do sistema:
4. Na passada quinta-feira, aliás, atingimos um pico de importação de eletricidade, que chegou a responder por 68% do nosso consumo nesse instante. Mas têm mais informação e contexto aqui no @expresso: expresso.pt/economia/impor…
5. Serve isto para notar que as interligações são fundamentais, e se noutros anos nos permitiram escoar energia para Espanha, agora permitem-nos ajudar a lidar com o baixo armazenamento nas barragens, cuja situação é esta:
6. Mas a gestão do sistema elétrico implica considerar outras variáveis, como a extremamente variável produção eólica:
7. E considerar também a evolução das pontas de consumo: o sistema tem de garantir potência firme + capacidade de importação que dêem resposta aos cenários de maior procura. Este inverno estamos com pontas consideravelmente menores que há um ano (ver gráfico da direita)8:
8. A base do diagrama de carga da @REN_PT tem contado com um contributo substancial das centrais a gás, complementadas pela estabilidade da biomassa, sendo visível alguma complementaridade entre eólica e hídrica:
9. O contributo da energia solar é ainda reduzido, mas é importante porque pode responder a boa parte do acréscimo de procura durante o dia (claramente superior ao consumo noturno). O boneco deste sábado em Portugal:
10. Agora entra a minha veia artística 😁 No telemóvel foi o que se arranjou: juntemos à produção atual os 2GW de centrais solares dos leilões de 2019 e 2020, que devem entrar em operação nos próximos 3 anos. A fotovoltaica preencherá uma parte maior da procura:
11. Mas se considerarmos também que há 3,5GW de outras centrais solares já com acordos com a REN para serem construídas na próxima meia dúzia de anos o boneco deste sábado ficaria algo deste género, com algumas horas do dia a serem integralmente supridas por energia solar:
12. Uma situação dessas criará excedentes (sejam solares ou eólicos), que podem ser usados na produção de hidrogénio verde, ou armazenados em baterias para injetar na rede horas depois. Mas também tem outras consequências:
13. É que quanto mais horas do nosso consumo forem abastecidas por energia solar (venha ela das grandes centrais ou do autoconsumo) menos MWh precisaremos de produzir durante o dia de outras fontes que se têm revelado tão preciosas por estes dias.
14. Mais energia solar no diagrama de carga permitirá reduzir o recurso às centrais a gás e às hídricas, que serão usadas de forma complementar de madrugada, no pico de consumo matinal e no outro pico de consumo ao jantar, nas faixas horárias toscamente realçadas aqui:
15. Não pretendo fazer a apologia das grandes centrais fotovoltaicas. Elas são ao mesmo tempo fundamentais na nossa transição energética e levantam desafios de gestão do território, como a recente polémica do abate de sobreiros ilustra. expresso.pt/economia/gover…
16. Mas temos de ponderar os recursos que temos e custos e benefícios globais. Por um lado, para gerir um sistema com capacidade limitada de expansão noutras fontes (os pontos com melhor recurso eólico estão já ocupados e as eólicas offshore têm também desafios). Por outro ...
17. Por outro lado, desenhando um sistema que possa permitir preços competitivos de médio e longo prazo. E a energia solar fotovoltaica é hoje um dos recursos mais competitivos (na faixa horária em que está disponível, evidente).
18. O gás natural continuará a ser necessário por longos anos como recurso de backup, a par com a hídrica. São essas duas fontes (e não o carvão) que conferem flexibilidade e potência firme ao sistema elétrico.
19. Finalizando, a gestão do sistema elétrico é complexa, a política energética é fundamental e conciliar os interesses coletivos e desígnios ambientais não é um exercício fácil. Mas é óptimo termos dados à disposição para este debate. Todos os gráficos da thread são da REN. 💡
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#Energia 💡Esta quarta-feira é dia de publicação das tarifas reguladas de #eletricidade para 2022 em Portugal por parte da ERSE 💡 Um pequeno guia para enquadramento. #thread
1. Todos os anos a 15 Outubro a ERSE anuncia uma proposta de tarifas reguladas para o ano seguinte, que é analisada pelo seu conselho tarifário (que dá parecer não vinculativo até 15/11), antes do documento final, apresentado a 15/12. E o que define esse documento?
2. Define as tarifas finais para clientes regulados (~900 mil famílias abastecidas pela SU Eletricidade, ex-EDP Serviço Universal) e as tarifas de acesso à rede para todos os clientes, que influenciam parte do preço final (há ~ 5 milhões clientes no mercado liberalizado).
#Eletricidade 💡 O #Mibel passou de um recorde de €216 por MWh esta sexta para "apenas" €173 por MWh este sábado 💡Vale a pena uma análise com os dados que encontramos em omie.es (1/10)
Primeiro, há um efeito (habitual ao sábado) de redução do consumo, que tende a contribuir para a redução do preço grossista da eletricidade. 2/10
Mas há também uma redução drástica no recurso às centrais alimentadas a gás natural de sexta para sábado, fruto, sobretudo, de maior recurso eólico no mercado ibérico. 3/10
Tempos interessantes no sector da #energia em Portugal ⚡ Ficam umas notas a propósito da notícia avançada pelo @expresso sobre um mega-projecto eólico da Iberdrola no Tâmega que poderá relançar o debate sobre as #renováveis e o impacto no #ambiente ⚡ 1/
Comecemos por pôr em perspectiva. O projeto da Iberdrola é enorme. São 450 MW a instalar próximo das barragens em construção. Vale a pena lembrar que a potência eólica do país está estabilizada há algum tempo perto dos 5500 MW. Vejam a evolução (dados DGEG) 👇2/
Em média cada torre eólica em Portugal tem aerogeradores de 2MW (ver tabela abaixo). Mas a indústria eólica já consegue instalar onshore máquinas + potentes, reduzindo o número de torres na paisagem. Se a opção no Tâmega for de 6MW, serão precisas 75 torres. 3/
Porque é que o preço da #eletricidade este mês teve um dos dias mais caros de sempre e também um dos mais baratos na história do mercado ibérico? 💡 Segue a #thread (longa) para enquadrar quem tenha curiosidade. 1/25
A 8 Janeiro tivemos 🇵🇹🇪🇸 um preço de mercado de €94,99 MWh, um dos + altos de sempre no #Mibel. Mas a 31 Janeiro teremos um preço médio de €1,42 MWh. Porque é que o mercado foi do 8 ao 80 (ou o inverso) em 3 semanas? Chave: o vento. 2/
A falta de vento no início do mês, puxou pela produção hidroeléctrica e pelas centrais a gás. Com pouca chuva, as barragens cobraram mais caro para usar a água disponível. E com os preços internacionais do gás em alta (por causa do frio), as termoelétricas também. 3/
Este domingo a #eletricidade no mercado ibérico 🇵🇹🇪🇸 é (quase) oferta dos produtores 💡 Se tiverem baterias aproveitem para armazenar 😜 Eis um dia de preços historicamente baixos no #Mibel 👇