Porque é que o preço da #eletricidade este mês teve um dos dias mais caros de sempre e também um dos mais baratos na história do mercado ibérico? 💡 Segue a #thread (longa) para enquadrar quem tenha curiosidade. 1/25
A 8 Janeiro tivemos 🇵🇹🇪🇸 um preço de mercado de €94,99 MWh, um dos + altos de sempre no #Mibel. Mas a 31 Janeiro teremos um preço médio de €1,42 MWh. Porque é que o mercado foi do 8 ao 80 (ou o inverso) em 3 semanas? Chave: o vento. 2/
A falta de vento no início do mês, puxou pela produção hidroeléctrica e pelas centrais a gás. Com pouca chuva, as barragens cobraram mais caro para usar a água disponível. E com os preços internacionais do gás em alta (por causa do frio), as termoelétricas também. 3/
Nessa primeira metade do mês houve a agravante de uma procura recorde de eletricidade com a vaga de frio. Uma tempestade perfeita para pôr o preço do mercado ibérico lá em cima. Podem ler mais aqui, assinantes @expresso 😏 👇expresso.pt/economia/2021-… 4/
Mas depois o frio amenizou, a procura baixou, o vento voltou, a chuva também e o preço do gás aliviou. Com mais eólica (de injeção garantida na rede) no sistema, passámos a precisar pouco das barragens e quase nada das centrais a gás. 5/
Com menos espaço para vender a sua eletricidade (e + água nas albufeiras e gás menos caro), essas grandes centrais baixaram os seus preços, para tentarem, mesmo a preço menor, vender alguma coisa. Oferta e procura a funcionar. 6/
E isso levou a um extremo este fim-de-semana, com os seguintes preços horários este domingo. Quase zero de madrugada. E menos de €2 MWh durante o dia. Eis os dados do omie.es 7/
Então isso significa que as elétricas conseguem produzir a menos de €2 MWh mas na maior parte do ano cobram muito mais que isso? 🤔 Vejamos, para perceber, o perfil de produção para este domingo. Zero gás, zero carvão. Sobretudo nuclear, eólica e hídrica. 8/
A hídrica é, na maior parte do ano, uma das tecnologias que marcam o preço de mercado (tal como as centrais a gás). Mas a hídrica não é toda igual. Há centrais com albufeiras e bombagem para armazenar + água e outras que não armazenam (as chamadas fio de água) 9/
Uma parte muito substancial da produção hídrica atual em Portugal é fio de água: centrais hídricas que, não podendo armazenar, não podem jogar com o preço, e aceitam produzir a qualquer preço por + baixo que seja (a alternativa seria deixar correr a água sem faturar nada). 10/
A dinâmica do mercado leva a que, com abundância de água e vento (como é o caso), o preço baixe. Inversamente, com escassez de vento e de chuva, as centrais com armazenagem cobram +caro para se desfazerem da (valiosa) água. 11/
E Janeiro teve os dois extremos. Claro que no meio está a virtude... E na média está a leitura mais próxima do impacto de tudo isto para o consumidor. Janeiro terá um preço médio acima dos €60 MWh, o que é um custo relativamente elevado. 12/
Lembremo-nos de que o preço médio anual de 2020 foi de €34 MWh. Mas 2020 também foi o ano + barato da história do mercado ibérico. O que significa então esta volatilidade toda? Pelo prisma do consumidor, diria o seguinte. 13/
O preço grossista, seja 8 ou 80, faz 1/3 dos encargos totais sobre as famílias. Esse preço de mercado reflete o custo de produção de parte da eletricidade. Há que somar o custo das redes e todas as restantes rubricas (remunerações garantidas, rendas a municípios, etc). 14/
Uma analogia. Quando compramos um bife no supermercado pagamos o custo de criação do animal, a conservação, mão de obra, transporte, embalagem, refrigeração, e margem de cada operador económico nessa cadeia. Também a eletricidade tem no seu pvp uma miríade de encargos. 15/
"Tanto Bla Bla Bla mas pagamos a eletricidade mais cara da Europa"... Não é verdade. Temos o oitavo preço mais caro da UE, mas este está em linha com a média europeia. Em paridade de poder de compra estamos em quarto lugar. 16/
É evidente que temos rendimentos mais baixos, mas o custo de produzir eletricidade ou de a transportar é cego quanto a isso: turbinas, painéis solares e demais equipamentos de energia são vendidos a preços similares para qualquer mercado. 17/
Para mitigar o problema, há tarifas sociais, que dão um desconto às famílias de menores rendimentos. Segundo a ERSE, o benefício médio é de €135 por ano por família. Esse desconto é suportado não pelo Estado mas pelos produtores de eletricidade. 18/ expresso.pt/economia/2021-…
A enorme volatilidade do preço em janeiro ilustra a importância da energia eólica: sem ela o preço de mercado viria por aí acima, com ela o preço grossista baixa. Mas também é um facto que toda a produção eólica 🇵🇹 beneficia ainda de preços protegidos. 19/
Em média, estimativa do regulador, a produção eólica recebe €83 MWh de tarifas garantidas. Sim, sai + cara do que os preços médios grossistas. Mas como janeiro nos mostrou... sem ela, o preço grossista poderia ir bem além dos €90 MWh. 20/
Espanha fez este mês um leilão de renováveis em que várias empresas aceitaram uma remuneração abaixo de €30 MWh para novos parques eólicos (a @EdpRenewables ofereceu €25 MWh). Ou seja: é possível, em futura capacidade eólica preços ultra competitivos. 21/
Mas instalar mais eólica não resolve um problema: quando o vento não sopra continuaremos a precisar de capacidade firme. Hídricas, sim, mas também centrais a gás, baterias ou outras soluções que respondam à procura não havendo vento. 22/
A perspetiva para os consumidores é, tudo o indica, positiva. Uma grande parte da eletricidade nos próximos anos será relativamente + barata, fruto da abundante oferta de centrais solares que estão em marcha. 23/
"Mas a eletricidade nunca baixa, é sempre a subir" 🤔 Não é verdade. 2021 é o quarto ano consecutivo de descida dos preços regulados (e no mercado livre também houve descidas). Dados do Eurostat mostram que estamos com os pvp residenciais + baixos desde 2013. 24/
A chave agora será assegurar que a abundante energia renovável a entrar no sistema nos próximos anos continuará a baixar o custo da eletricidade para famílias e empresas. E entramos no campo da política energética e da regulação. Que deixarei para reflexões futuras. 💡25/25
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Este domingo a #eletricidade no mercado ibérico 🇵🇹🇪🇸 é (quase) oferta dos produtores 💡 Se tiverem baterias aproveitem para armazenar 😜 Eis um dia de preços historicamente baixos no #Mibel 👇
#Thread: Na produção de #eletricidade a água vale mais que o gás? 💡 Entre a informação abundante que o sector da #energia nos dá estão os dados do omie.es sobre o mercado ibérico de eletricidade, o #Mibel. E é interessante constatar algumas coisas. (1/12)
No #Mibel os produtores vendem a sua energia e os comercializadores adquirem (para vender aos clientes finais, famílias e empresas). Além dos contratos de futuros (omip.pt), há uma bolsa diária, o omie.es, que casa a oferta e procura. (2/12)
E acontece +- assim: os produtores oferecem a sua eletricidade a um dado preço por MWh; as ofertas são hierarquizadas das centrais + baratas para as + caras; a central que oferecer os últimos MW para preencher a procura numa dada hora marca o preço dessa hora. Ora... (3/12)
Esta é uma mini #thread sobre subsídios na #energia 💡 A @EU_Commission publicou hoje um enorme acervo de documentos sobre o estado da União da Energia. Entre essa documentação está uma interessante análise da subsidiação deste sector (até 2018). (1/5)
Conclusões: de 2015 a 2018 os subsídios na energia cresceram 5% na UE, para €159 mil milhões em 2018. Subsídios às renováveis subiram 4% e à eficiência energética 21%. Ou seja: cresceu + a subsidiação que favorece o consumidor do que a que beneficia os produtores. (2/5)
Mas há mais. As renováveis têm um peso dominante, mas a subsidiação de fontes fósseis é muito substancial. Ora vejam quem + subsidia em valor absoluto na UE, para onde vão os apoios, e qual o peso dos subsídios em % do PIB. (3/5)
#Thread 💡O #WorldEnergyOutlook, da @IEA, a Agência Internacional de #Energia, é uma espécie de guia fundamental das perspectivas globais na área da #energia. Deixo-vos aqui uma síntese das principais ideias na edição agora publicada que me chamaram a atenção. (1/10)
Primeira nota: o consumo global de energia este ano cai 5%, com o consumo de petróleo a baixar 8%, o de carvão 7%, o de gás natural 3% e o de eletricidade 2%. As emissões de #CO2 associadas ao consumo de energia baixam 7%. Só há perspetiva de crescimento nas renováveis: (2/10)
Segunda nota: se qualquer outlook já tem uma elevada dose de incerteza, a #pandemia de #COVID19 veio agravar essa imprevisibilidade quanto à evolução da procura para a década. Eis o gráfico que a @IEA nos deixa: (3/10)
Mais umas notas sobre #energia 💡#Thread 💡 A política energética é um dos temas que mais me interessam como jornalista especializado em energia, porque trata de opções que condicionam o futuro de cidadãos e empresas enquanto consumidores. E não só. (1/17)
Nos últimos 10 anos a escrever sobre o tema houve 5 secretários de Estado da Energia e a minha perspetiva pode estar condicionada por desconhecimento dos anos + longínquos, mas o relatório da CPI das rendas da energia ajuda a fazer a retrospetiva (2/17) 👇app.parlamento.pt/webutils/docs/…
Esse relatório evidencia que a criação de remunerações garantidas aos produtores de eletricidade começou no início dos anos 90 e continuou até hoje. Essas rendas foram concedidas pelos vários governos desde então. Não são um exclusivo desta ou daquela cor política. (3/17)
Foi um bom negócio para o FCPorto? Aparentemente sim. Um jogador ainda com pouca experiência na equipa principal sair por €40 milhões, conhecendo o balanço da SAD, é um importante balão de oxigénio. Também o seria para o #Sporting. Para o #Benfica menos ... (2/19)
porque entre os balanços dos ditos 3 grandes o Benfica tem, de facto, as contas mais robustas. O que mais me interessa no negócio não são tanto os protagonistas, mas antes o contexto da operação: o futebol na Europa continua a viver de intensa especulação. (3/19)