Há 62 anos, em 5 de março de 1960, o fotógrafo cubano Alberto Korda produzia o icônico retrato de Che Guevara intitulado "Guerrilheiro Heroico". Trata-se da imagem mais reproduzida na história da fotografia.

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A fotografia foi feita durante uma solenidade em memória das mais de 100 pessoas que morreram após a explosão do cargueiro francês La Coubre. A embarcação havia partido da Bélgica com destino a Havana levando um carregamento de 76 toneladas de armamentos e munições.

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Em 4 de março de 1960, durante o descarregamento no cais de Havana, o cargueiro explodiu. Uma segunda explosão ainda mais violenta ocorreu meia hora depois. No momento da explosão, Che Guevara, médico formado, estava em reunião no Instituto Nacional de Reforma Agrária.

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Após ser notificado do ocorrido, Che Guevara dirigiu-se até o cais e passou a prestar atendimento médico aos tripulantes e estivadores feridos. Fidel Castro aventou imediatamente a hipótese de sabotagem dos Estados Unidos...

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... afirmando ser "o trabalho de quem não deseja que recebamos armas para nos defendermos". O Secretário de Estado dos EUA, Christian Herter, negou participação no episódio, mas os arquivos produzidos pela CIA acerca do La Coubre jamais foram divulgados.

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A Association French Lines, sediada em Le Havre, França, conserva um vasto dossiê sobre a explosão do cargueiro, mas, por pressão dos Estados Unidos, decretou a confidencialidade dos arquivos por 150 anos.

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Alguns dias depois após a explosão, o jornal Miami Herald publicou um relato de Jack Lee Evans, um passageiro da embarcação que afirmava ter ouvido um estivador anticomunista organizando um complô para explodir o cargueiro, em conluio com William Alexander Morgan.

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Morgan era um miliciano estadunidense a serviço da CIA que havia se infiltrado entre os revolucionários cubanos. Ele tentou organizar um golpe contra Fidel e insuflar um levante anticomunista em Cuba durante a Revolta de Escambray. Morgan foi fuzilado em março de 1961.

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Durante a cerimônia no Cemitério Colón, Korda se impressionou com o semblante de "implacabilidade absoluta" de Che Guevara, "cheio de pura raiva pelas mortes que ocorreram no dia anterior". Foi nessa ocasião que Che verbalizou a expressão "Pátria ou Morte".

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Fotógrafo oficial do jornal "Revolución", Korda tirou duas fotografias de Che Guevara na ocasião. Como nenhuma foi utilizada pelo jornal, o fotógrafo as manteve guardadas por vários anos em seu arquivo pessoal.

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As fotografias só foram publicadas em 1967, após a morte de Che Guevara, quando Korda cedeu gratuitamente as imagens para o editor italiano Gianfranco Feltrinelli, que editou e espalhou as imagens em cartazes.

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Um ano mais tarde, em 1968, o artista plástico irlandês Jim Fitzpatrick usou a fotografia para criar uma imagem em alto contraste e a registrou em domínio público com autorização do autor.

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A imagem passou a a ser reproduzida em larga escala, tornando-se uma das maiores referências visuais da história contemporânea, uma espécie de "Mona Lisa" do século XX. "Guerrilheiro Heróico" ultrapassou largamente as fronteiras do contexto revolucionário.

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Passou a ilustrar camisetas, canecas, cartazes, adesivos e, paradoxalmente, até mesmo anúncios publicitários controversos, como um comercial da Mercedes Benz feito em 2012. Serviu de inspiração para serigrafias de Andy Warhol e foi mimetizada em capa de álbum da Madonna.

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O Instituto de Arte de Maryland considera o retrato "o maior ícone do século XX" e o Victoria and Albert Museum de Londres declarou que a obra é "a imagem mais reproduzida na história da fotografia".

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Partidário do comunismo, Korda nunca cobrou direitos autorais pelo uso da imagem, o que contribuiu para sua popularização. Não obstante, o fotógrafo já interveio algumas vezes entrando com processos legais para impedir a exploração comercial quando julgava o uso abusivo.

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É o caso do processo movido contra a Smirnoff, que tentou reproduzir a obra em garrafas de vodka. Na ocasião, Korda declarou: "Como defensor dos ideais pelos quais Che Guevara morreu, não me oponho à sua reprodução por aqueles que desejam difundir a sua memória...

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... e a causa da justiça social por todo o mundo, mas não posso aceitar que a usem para vender álcool ou insultar a imagem do guerrilheiro".

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