É de uma inconsequência vergonhosa inflamar o discurso de que Haddad deveria renunciar em prol do Ciro, desconsiderando questões fundamentais sobre o pleito e mostrando desconhecimento profundo sobre o eleitorado brasileiro.
Primeiro, ignora o fato de que o PT possui um eleitorado fixo (sejam eles petistas históricos ou pessoas que foram diretamente beneficiadas pelos programas sociais do governo Lula) que não se localiza, em sua maioria, na bolha de quem inflama o discurso da renúncia.
Segundo, acredita que haveria uma transferência maciça de votos para o Ciro. Ignoram que, a essa altura, uma desistência jogaria uma quantidade massiva de votos ao vento, que eventualmente iriam para o candidato da oposição ou engordaria o número de abstenções.
Terceiro, parte de pesquisas que aconteceram ainda no primeiro turno, onde o Ciro não era alvo direto de ataques nem do PT e nem do candidato de oposição. Confiam demais no antipetismo e duvidam que o movimento é, na verdade, contra a esquerda como um todo.
Quarto, ignora que a estratégia tem um fundo perigosamente antidemocrático ao desconsiderar o desejo de uma parte significativa da população que votou no Haddad, e não no Ciro.
Duvido que as pessoas que inflamam esse discurso tenham qualquer expectativa de que uma renúncia do Haddad poderia acontecer. Portanto, é um discurso que tenta tirar da esquerda o foco necessário para o momento com o objetivo escuso de alimentar o antipetismo.
Estão literalmente dando continuidade a uma campanha que deveria ter acabado no último domingo, preparando o terreno para soltarem um "a culpa é do PT", acreditando numa provável vitória do Ciro nas improváveis eleições de 2022.
