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A cerca de 400 anos navios abarrotados de africanos cruzavam o atlântico para trabalhar como escravos no continente americano. Aqueles homens e mulheres não tinham ideia nenhuma de onde iriam, porém a violência empregada no seu transporte prenunciava um destino.
Muitos morreram no caminho, os números nunca são exatos, nenhum escravagista se preocupou em fazer atestados de óbito para todos, pelo contrário. Desejaram e desempenharam esforços para quem as narrativas dos africanos fossem completamente apagadas da memória do povo.
Em Ouidah, no Benin negros eram obrigados a passar por um ritual em torno do Baobá, na intenção de que toda sua cultura, religiosidade, língua e memória coletiva fosse esquecida e ninguém se rebelasse contra os colonizadores.
Sem suas histórias e nomes, essas pessoas se desconectariam do seu povo ou etnia e seriam reduzidas apenas a escravos submissos. Não parou por aí, uma grande narrativa foi construída, ao longo dos séculos, através das instituições religiosas, políticas e científicas.
Essa narrativa sobrepõe até os dias de hoje a verdadeira imagem dos africanos no imaginário popular, uma visão conhecida como Eurocêntrica. Com várias ideologias que remetiam a pessoa negra às classes mais baixas da sociedade.
O professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, fala que essas ideologias hegemônicas hierarquizou ou subalternizou outros saberes, culturas e memórias, numa lógica dominante e excludente.
O que eles contaram para o mundo é que o negro q embarcou para trabalhar como escravo era indolente à sua condição. Que reconhecia sua inferioridade e entendia seu papel para a construção da sociedade, como para eximar de si e dos seus descendentes as impurezas e a degeneração.
Existiu uma tendência europeia de considerar as sociedades diferentes como inferiores, assim como toda a produção intelectual e cultural proveniente de fora dos países europeus. Durante a colonização da África não havia interesse, então, em registrar e aprender sobre os povos
É triste, mas é realidade que o racismo infectou todas as estruturas sociais e a produção de história. Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Alemão, pensador e filósofo influente do XVIII afirmava “os povos negros são incapazes de desenvolver e receber uma educação”
Muitos outros especialistas não-africanos, sustentaram idéias de que o continente e as pessoas oriundas dele não mereciam a atenção devida. Com a escravidão racial, os estereótipos impregnaram os conceitos de historiografia.
Richard Francis Burton, um dos maiores exploradores do século XIX tinha tanto interesse em sua pesquisa que foi apelidado de "negro branco" pelos marinheiros. Entretanto seu racismo é evidente e na sua obra Mission to gelele, King of Dahomey (1864)
Ele afirma: “o negro puro se coloca na família humana abaixo das duas grandes raças, árabe e ariana”. Esse homem foi o fundador da Sociedade antropológica de Londer, que se tornou a Sociedade Antropológica Real.
A fusão do Darwinismo com as considerações hegelianas impulsionaram a criação de todas as justificativas morais que europeus necessitavam para devastar e dominar o continente sem pudor.
Há indícios de que os antropólogos alemães estavam tão vislumbrados com o que encontraram no reino da Núbia que passaram a procurar uma alucinação, um ancestral branco que teria originado todas as construções daquele império.
Teorias como essa também apareceram no Egito e foram confrontadas por Cheikh Anta Diop em 1954, quando o autor publicou Nações negras e cultura: Da antiguidade negra egípcia aos problemas culturais da África negra de hoje
Até hoje muitos acadêmicos europeus recusam que pessoas negras conseguiram erguer construções e uma sociedade tão sofisticada há mais de 3 mil anos antes das nações européias.
Amparados pelos conceitos da pseudo ciência racial e da eugenia, essas ideologias eurocentradas se espalharam pela mídia de massa, começando pelo cinema nos séculos passados formando.
“um tipo de mal hábito epistêmico presente tanto na produção cultural dos meios de comunicação, quanto na reflexão intelectual sobre essa cultura” afirma a pesquisadora de estudos culturais, Ella Shohat da Universidade de Nova York.
Ale Santos, aka @Savagefiction, é pesquisador de mitologias e narrativas africanas, trabalha há mais de 5 anos com storytelling e se dedica a contar as histórias da Diáspora que os livros tradicionais não contam. Escreve no @interessante às segundas e quando lhe der na telha.
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