Você, muito provavelmente, tem amigos negros. Alguns têm apenas um, outros só no trabalho e por isso parece que vivemos em uma grande harmonia das diversidades. Porém, mas se essa fosse a verdade, o racismo não deveria ter sido extinto? Venha entender o que acontece nessa thread 
Podemos ver em vários filmes e documentários americanos que o racismo nos EUA tomou uma proporção intensa da segregação. As leis de Jim Crow instauraram barreiras absurdas, como a proibição de casamentos - relações sexuais inter raciais era considerada coisas de comunistas
Já no Brasil, a história é outra e o racismo se desenvolveu doutra maneira. O país recebeu o maior número de africanos em toda América. Como colônia, poucas mulheres europeias vinham com suas famílias, a convivência através dos estupros (principalmente) tornaram a relação normal
Gilberto Freyre, em “Casa grande & Senzala” chamou a relação entre negros e brancos de Harmoniosa e depois foi extremamente criticado por desconsiderar totalmente o sofrimento dos negros nessa harmonia em que apenas os colonizadores se beneficiavam
Abdias Nascimento, um dos maiores nomes do movimento negro no Brasil confrontou duramente Freyre com sua obra “O genocídio do Negro Brasileiro” (77), apontando o processo de aniquilação da identidade de homens e mulheres negros por mecanismos socioeconômicos
Mas as pessoas continuaram negando e ao mesmo tempo que negavam, o racismo continuava. Isso porque, para manter a hierarquia social no Brasil, desenvolveu-se sem ódios, segregação ou violência constante e explícita - (Revista da Psicologia)
É aquela repulsa sutil, de quem sente carinho pelo amigo negro porque pode “ajudá-lo” com comida e roupa, ou aquele que anda com as amigas negras, mas nunca apresentaria uma delas aos pais. É aquele que chama um negro para um bico, ma paga pouco porque é trabalho de preto
Em 95 uma pesquisa da Folha havia entrevistado vários brasileiros não-negros para evidenciar o quanto seu preconceito era cordial. Uma grande parte concordava com frases como “negro bom é negro de alma branca” almanaque.folha.uol.com.br/racismo04.pdf
Nessa forma de racismo, nosso imaginário herdou uma dezena de estereótipos raciais sobre os negros, que foram construídos durante a pós-abolição, quando o Brasil se tornou polo latino-americano de eugenia (a maioria das pessoas nem percebe)
Como por exemplo o medo e a criminalização que impõe contra homens negros, criadas pelo movimento eugenista no Brasil, através de obras como “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, escrito em 1894, por Raimundo Nina Rodrigues
É possível encontrar trechos de Nina Rodrigues que ressaltam ideias de inferioridade carregadas até hoje: “O estudo das raças inferiores tem fornecido à ciência exemplos bem observados dessa incapacidade orgânica, cerebral”
Segundo essas teorias, as mazelas sociais como a violência e a perversão sexual estavam ligados ao sangue de pretos e índios. Essa desculpa, do crime, foi utilizada em 1941 com a lei da vadiagem - ao invés de segregar diretamente, como nos EUA
E os estereótipos continuam se propagando, sem que ninguém assuma. É por conta deles que youtubers fazem piadas relacionando negros com bandidos. Mas as estatísticas são capazes de tirar a máscara de qualquer ideologia fajuta de democracia racial
Ale Santos, aka @Savagefiction, é pesquisador de mitologias e narrativas africanas, trabalha há mais de 5 anos com storytelling e se dedica a contar as histórias da Diáspora que os livros tradicionais não contam. Escreve no @interessante às segundas e quando lhe der na telha.
