Thread by @EricBalbinus

Ainda sobre Romeu Zema e seu polianismo: uma das promessas foi transformar o Palácio da Liberdade em museu. Seu colega João Doria fez a mesma afirmação em São Paulo. O que isto traz de prático para as populações de Minas e São Paulo? Nada.

As residências oficiais exercem sim um papel simbólico, já que abrigam o chefe do Executivo. É assim em qualquer lugar do mundo, sendo que em alguns casos como Nova York até o prefeito possuí sua residência oficial.

A finalidade não é absurda: isso uniformiza o exercício do cargo e o coloca acima de seus ocupantes. Independente de quem for o mandatário, ele se impõe ao rito de sua função. E não poderia ser diferente: o executivo governa por todos e como tal deve se comportar.

Imaginem um mundo sem residências oficiais. Se Temer estivesse nesta condição, poderia receber livremente quem quer que fosse em sua residência. A oficialidade do cargo obriga a identificação do visitante e dá maior transparência as relações do chefe do executivo.

Em residências particulares é diferente. Quem se lembra (ou quem como eu leu sobre o período) sabe que a Casa da Dinda era a verdadeira Casa da Mãe Joana, retrato de uma republiqueta tão vulgar quanto a cidade de Asa Branca de Dias Gomes.

Além da sobriedade, a residência oficial nivela diferenças entre os mandatários. No executivo tanto o professor de ensino público quanto o milionário irão se submeter aos mesmos modos de vida. É a lembrança antropológica de que a função do executivo se assemelha ao sacerdócio.

É evidente que o governador não precisa necessariamente de dispor de um Palácio de Inverno ou residência de verão ou campo, mas a residência oficial na capital não é nenhum capricho infundado.

Isso sem contar que eventualmente uma residência oficial transformada em museu pode representar mais gastos para a população que sua função original. A demagogia tem destas coisas.

É fundamental compreender que este tipo de debate só existe em países desolados pela crise política e crispação social. Não vemos políticos prometendo abrir mão de morar no número 10 de Downing Street.

Essa discussão só ganha corpo aqui pois não há mais fé nas instituições, por isso que suas representações e simbologias são tão questionadas.

Dai até o que há de mais superficial ganha ares de importância a ponto de termos os governadores dos estados mais importantes da federação tratando dessas minudências como se estas soluções rasteiras fossem acrescentar algo na vida do contribuinte.

Claro, se perguntado o contribuinte é o cidadão desiludido que provavelmente acredita que sua vida irá mudar caso o Palácio vire museu.

***Onde se lê Palácio da Liberdade o correto é Palácio das Mangabeiras. O da Liberdade é a sede do governo, não residência oficial rs

@threadreaderapp unroll