Ter sido recenseadora do Censo 2010 foi muito importante pra mim. E eu fui péssima nesse trabalho. Demorei demais e tive de ser substituída. Mas serviu pra aprender que a desigualdade do Brasil é profunda. Na mesma rua vivem duas famílias, uma com 500 reais, e outra com 20 mil.
Também foi no Censo que entendi porque, infelizmente, mulheres dão recenseadores melhores. Não por mérito mas porque as pessoas se sentem menos inseguras em receber uma mulher do que um homem. Coisas da experiência masculina no simbólico da violência.
E também aprendi que a gente, como agente público, tem que se portar como tal. Passava mais tempo explicando a importância do meu trabalho do que fazendo meu trabalho.
Ricos mentiram renda pra baixo por medo de eu torná-los alvo de sequestros. E pobres mentem a renda pra cima para se sentirem menos envergonhados. Recenceei 2 setores vizinhos no meu bairro, que fica na zona sul, bem próximo ao centro expandido de São Paulo.
Fiquei muito tempo imaginando se aquilo não se repetia na cidade inteira, se nossas estatísticas de idh médio das cidades não seriam absolutas ficções escondidas na média.
Teve gente que se recusava, teve gente que não atendia. Mas a maioria esmagadora dos brasileiros é composta por pessoas humildes e receptivas. E bastava um pouco de papo furado para quebrar qualquer resistência.
Algumas tinham vergonha da própria renda, outras tinham dificuldade de responder algumas perguntas porque não eram habituadas a refletir sobre o assunto, como a própria cor por exemplo. Um pena o governo se fazer presente dessa forma somente uma vez a cada 10 anos.
Tanto na casa pobre como na casa rica basta se colocar como um igual que as resistências caem. Se o rico ve o agente como alguém que não tem interessa em reparar em sua casa por dentro, ele vai responder numa boa. O pobre a mesma coisa.
É crime colocar em risco o trabalho de institutos sérios como o IBGE, IPEA, e tantos outros, por causa de uma coisa menor como recursos. É uma "economia" que não vale a pena. O ganho em gestão é maior. Em políticas públicas, mas imprensa também. Sem o Censo somos cegos.
Apesar das resistências pontuais de ricos e pobres em algumas perguntas de renda e raça, e as desconfianças que possam ter dos agentes dentro de casa, a maioria ESMAGADORA dos que responderam o Censo 2010 o fizeram de bate pronto, realmente sinceros em todas as respostas.
E isso me faz ter, 8 anos depois, confiança absoluta na metodologia e na seriedade de todos os estudos e dados publicados pelo @ibgecomunica. Eles são muito rigorosos nos treinamentos e na supervisão. Tanto é que tomei várias broncas, todas justas.
A preferência do recrutamento é por pessoas do próprio bairro, para reduzir ao máximo as resistências. Você já imaginou o que é você contratar temporário e treinar uma pessoa de cada bairro do BRASIL INTEIRO? Todas as fases do processo são colossais.
A real é que a gente não tem dimensão do tamanho desse país. E não tem como ter. É descomunal, inconcebível. A gente não conhece nem o nosso bairro direito.
Conhecer esse país é um esforço pra uma vida inteira.
Conhecer esse país é um esforço pra uma vida inteira.
Só existem duas coisas que unem, como iguais, todos os cidadãos desse país.
Uma é o voto direto para presidente na urna eletrônica. A outra é o Censo do IBGE.
Uma, é como olhamos para o governo. A outra, é como o governo olha para a gente.
Uma é o voto direto para presidente na urna eletrônica. A outra é o Censo do IBGE.
Uma, é como olhamos para o governo. A outra, é como o governo olha para a gente.
