Thread by @lucasmafaldo

Terminei o último livro do Taleb. Como falei aqui há alguns dias, apesar de entender quem não gosta dele (pelo estilo, personalidade, persona pública, etc.), achei que tem ótimas lições de sabedoria prática.

Seguem algumas.

A ideia de "skin in the game" é muito boa. Há uma diferença enorme entre discutir ideias gerais e planejar decisões que irão te afetar pessoalmente. A primeira arrisca rapidamente virar a famosa "conversa para boi dormir". Uma característica típica de adolescente e...

... infelizmente, particularmente comum na cultura brasileira. É a diferença entre pose e responsabilidade.

Olhando para a minha experiência de vida, vejo inúmeras vezes quantas vezes a cultura circundante colocava um peso enorme em instituições, cargos, etc, o que era um...

... belo mecanismo para retirar a responsabilidade pessoal. Todo mundo parece imaginar que é preciso investir em um nome pomposo, logomarca e "missão" da empresa antes de ganhar dinheiro. Sem falar, claro, em quem vai para o setor público ou certas profissões liberais...

... e começa a pontificar sempre a partir da autoridade do cargo. Antes de cada proposição, implícita ou explicitamente, vem um "ENQUANTO professor/médico/advogado/etc.... SAIBA que...".

A ideia de "skin in the game" nos ajuda a perceber o vício por trás dessa postura.

Outra boa ideia é a de "distribuição assimétrica de riscos". Algumas ideias parecem ótimas, mas, por trás da sofisticação, escondem que uma das partes está bem mais expostas que a outra.

Lá em nóis, isso se chamava "proposta caracu", porque um entra com a cara e o outro...

Também gosto de um dos seus comentários sobre religião, tocando em algo que eu insistia há muito tempo: o termo "religião" é altamente problemático, pois joga no mesmo balaio coisas totalmente diferente: moral, metafísica, rituais, código civil, comunidade, etc.

Ou seja, criar uma teoria geral das religiões a partir da observação de uma variante específica é totalmente absurdo: você pode estar comparado uma camisa com uma fruta. Simplesmente são tipos de coisas diferentes.

Sem falar que estou totalmente com ele em sua cruzada contra pseudo-argumentos estatísticos. Intuitivamente, sempre me pareceu óbvio que correlações do tipo "probabilidade de ataque terrorista" com "probabilidade de atropelamento" é furadíssimo.

O primeiro fenômeno pode ser um sinal de algo muito pior, de ampla desestabilização social, guerra civil, totalitarismo, etc., enquanto o segundo faz parte dos riscos naturais e constantes da vida. Não entender essa diferença é um tipo sofisticado de burrice.

O conceito de "ruína" também é muito útil -- e um bom remédio tanto para os "otimizadores" que contam os centavos na frente do trilho do trem quanto para os que confundem coragem com insanidade.

Sem falar que o conceito de "soul-in-the-game" é um bom remédio para o dinheirismo dos nossos tempos e que ele transmite um certo orgulho em tomar riscos e assumir responsabilidade -- coisas que estão sempre em falta.

No fim das contas, embora eu não saiba dizer se é uma grande obra à prova do "efeito Lindy", acho que é certamente uma boa contribuição -- em particular, à cultura norte-americana, mas com boas lições para a cultura-br também.

Dito isso, levando em conta a advertência do Tyler Cowen de que indicar livros não é algo que se faz (já que o tempo é muito caro), eu alerto OUVI boa parte do livro em caminhadas, tirando neve, etc., para poupar tempo.