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Não lembro onde li, mas faz muito sentido: nossa personalidade é, em larga medida, a média das personalidades que nos cercam.

As seis pessoas mais próximas de você irão determinar uma parte enorme dos seus sentimentos, dos seus interesses e das suas ações.
Embora tenhamos nossa individualidade, nós somos seres naturalmente reativos. Se todo dia você conversa com alguém que fala da novela, você irá pensar na novela -- mesmo que seja para criticá-la, rejeitá-la, etc.

E há efeitos mais sutis e complexos: se as pessoas são maldosas...
... competitivas, dinheiristas, focadas em status, etc., tudo isso irá te influenciar em certa medida.

Por isso mesmo, acho que é um assunto da maior seriedade escolher conscientemente quem faz parte do seu "círculo íntimo". Essa decisão vai moldar o seu "eu" futuro.
Obviamente, não estou dizendo que devemos expulsar as pessoas do nosso convívio. Ser aberto aos outros é uma grande virtude. Mas essa abertura tem um lugar e uma medida. É importante que ela ocorra de modo controlado, para que você não fique sem tempo para quem é mais importante.
E escolher essas "pessoas-chaves" é muito difícil. O ideal é escolher pessoas que admiramos -- pessoas que possuem tantas virtudes que nos inspiram a nos tornar melhores, para nos tornar mais parecidos com elas.
Partes dessas "pessoas" podem ser até fictícias, ou personalidades históricas e religiosas, ou ainda personalidades culturais que admiramos de longe. Mas é preciso também ter pessoas de carne-e-osso que amamos. Essas interações diárias e diretas são a principal fonte de alegria.
Parte da maturidade é ir refinando uma espécie de "radar de caráter" e ir percebendo com mais clareza quem é admirável e quem não é. No início, e especialmente no Brasil, achamos que amizade é familiaridade, isto é, que amigos são pessoas que vemos com frequência.
Mas amizade é algo muito mais profundo. Sua base é querer o bem do outro. E isso só é possível se houver uma alinhamento de valores -- se você perceber que o outro está do mesmo lado que você, que vocês estão trabalhando pelo mesmo bem comum.
Obviamente, isso é impossível de ocorrer o tempo inteiro. Por isso, há sempre vários níveis de amizade, isto é, círculos sociais fluidos, que se contraem e dilatam ao longo do tempo, na medida em que vamos mudando e que novos aspectos da personalidade dos outros vão se revelando.
É impossível ter esse alinhamento profundo com mais do que uma dúzia -- ou talvez até meia dúzia -- de pessoas. Encontrar só uma já é difícil.
Nós sempre temos várias mini-tribos. E um bom sinal de que estamos em uma tribo é a ausência -- ou ao menos diminuição -- de inveja. É natural algum grau de competição intra-grupo, mas se a competitividade fica alta demais (gerando cutucadas verbais, críticas maldosas, etc.)...
... isso é uma sinal de que o competitor não está mais nos vendo com parte do mesmo time. Ele se tornou um adversário, e não um aliado.

Uma analogia simples: é natural que o jogador perna-de-pau tenha um pouco de inveja do protagonismo do artilheiro do time. Porém, se ele...
... começa a ficar incomodado quando o próprio time faz um gol, só porque o gol não foi dele, isso é um sinal de uma ruptura séria: o sujeito saiu mentalmente da comunidade. Se isso não for remediado, o resultado será a falência de toda a equipe.
Os liberais talvez pensem que estou trocando "individualismo" por "coletivismo". Nada disso. Essas dinâmicas sociais são supra-ideológicas. Sem elas não existiram famílias, amigos e nem mesmo sociedade de confiança, necessária para surgir uma economia de mercado.
Logo, em vez de negar essa dimensão, precisamos construí-la conscientemente. Qual é a nossa comunidade? Qual nosso círculo de confiança? Quais são as pessoas que admiramos e que queremos deixar afetar nossa personalidade? Quais as pessoas que realmente amamos e que queremos...
... ajudar a realizar SEUS objetivos, a fazer com que tenham o maior grau de sucesso possível?

Responder essas questões -- e atualizá-las -- me parece algo essencial para saber como viver.
Resumindo em único tweet: cuidado com quanto tempo você passa nas redes sociais. Seu feed hoje é sua alma amanhã.
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