Thread by @beruta

Depois da notícia que Bolsolini iria trazer de volta o “eletrochoque 😱” tenho visto muita gente, talvez por desconhecimento, talvez por preconceito, julgar o procedimento como um “método de tortura medieval”.

Vou tentar em alguns tweets falar um pouco sobre isso...

Inicialmente, o nome do procedimento é ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT).

É um método desenvolvido em 1930 que usa uma corrente elétrica CONTROLADA que passa pelo cérebro gerando atividade epiléptica (convulsão) em pacientes monitorizados e sob anestesia.

A convulsão é acompanhada por um aparelho que vê a eletricidade no cérebro, o eletroencefalograma. Ela pode restaurar várias conexões do cérebro que não funcionavam bem.

A ECT também altera os níveis de neurotransmissores que tem papel importante na depressão.

A ECT é um tratamento eficaz e seguro, indicado para algumas doenças psiquiátricas.

É realizado em sessões EM AMBIENTE HOSPITALAR e com o paciente ANESTESIADO para que NÃO HAJA DESCONFORTO ou DOR.

A equipe mínima é formada por psiquiatra, anestesista e enfermeiro.

A taxa de mortalidade da ECT é em média de 4 a cada 100.000 pacientes, sendo que o principal risco é o da própria indução anestésica.

Ou seja, a ECT é mais segura do que medicações para tratar depressão em gestantes ou idosos.

A ECT tá reservada para aquelas situações em que a MEDICAÇÃO NÃO APRESENTA RESULTADOS, podendo ser a primeira escolha em pacientes debilitados, idosos e no paciente que respondeu bem a ECT no passado.

As indicações formais de ECT são:

- DEPRESSÃO: onde ela é melhor indicada. Feita qdo há falha no tratamento medicamentoso e em quadros graves com importantes riscos clínicos, como depressão psicótica ou risco de suicídio

- Episódios de MANIA
- Catatonia
- Esquizofrenia refratária
- Transtorno esquizoafetivo
- Gestantes com transtorno do humor ou psicótico.
- Idosos com complicações clínicas associadas ao quadro psiquiátrico
- Síndrome Neuroléptica Maligna
- Pacientes com comorbidades.
- Crianças

A eficácia da ECT já foi muito bem documentada em inúmeros estudos, chegando a 89% em casos de depressão.

A ECT pode trazer melhora na depressão em poucos dias ou semanas, o que não é conseguido com terapia ou medicações.

Como todo procedimento, a ECT pode ter efeitos colaterais como: cefaleia, náuseas, vômitos, dor muscular, confusão mental, arritmias, amnésia, déficit cognitivo.

A maioria das pessoas se recupera em poucos dias. Raros permanecem com algum sintoma 6 meses após o tratamento.

Apesar da excelente resposta a curto prazo, pacientes podem recair com o tempo, o que ocorre também com medicações e psicoterapias. Em alguns casos, sessões mensais são recomendadas.

Para o tratamento efetivo de um episódio depressivo, 6 a 8 sessões são necessárias, em média.

A ECT só não é tão utilizada por 3 razões:

- Percepção negativa e estigma sobre o tratamento (famoso preconceito)
- Custo elevado (é meio cara)
- Necessidade de profissionais especializados e treinados para realizá-la (tem poucos)

Alguns filmes retrataram a ECT como algo perverso e desumano e criaram a ilusão de que ela pode ser usada para “castigar”pacientes que se comportaram mal.

Tortura medieval?
Isso é um MITO!

A ECT é um tratamento APROVADO pela ANVISA e realizado no mundo todo!

No Brasil a ECT é regulamentada pela resolução número 1640, de 10 de julho de 2002, do Conselho Federal de Medicina.

portalmedico.org.br/resolucoes/cfm…

Ou seja: a ECT já existia e já era regulamentada e aprovada muito antes do bolsolini querer mandar no fiofó alheio porque não saber o que fazer com o dele...

Resumidamente: a ECT tem total embasamento científico da sua eficácia nas condições em que ela é indicada.

A falta de informação (que leva ao preconceito), o custo e necessidade de uma equipe especializada são os fatores que dificultam que ela seja mais largamente utilizada.

O nosso medo não deveria ser a ECT em si.

O nosso medo deveria ser a banalização da coisa toda.

Ou seja, o tratamento começar a ser usado em condições que ele não é indicado apenas para benefício de poucas pessoas interessadas (o que, convenhamos, esse governo tá craque).

Outro problema é esse governo atrasado e preconceituoso querer colocar não-doenças (como a homossexualidade) dentro do pool das doenças, aventando uma cura para algo que não precisa de cura.

Isso sim seria cruel!

Ainda dentro desse tema, também não concordo com o retorno dos manicômios.

Numa época que o mundo está fazendo a desospitalização de pacientes psiquiátricos na tentativa de reintroduzi-los a sociedade (vide reforma psiquiátrica), é um retrocesso querer fazer o caminho inverso...

Pra finalizar: vivemos numa época em que a desinformação e a subinformação está tomando conta das nossas vidas e redes sociais.

Devemos tomar muito cuidado com o que lemos por aí.

Não dá pra simplesmente criticar tudo que parece “feio aos olhos”.

Que o governo bolsolini é o sinônimo de intolerância, radicalismo, preconceito e retrocesso, todo mundo sabe! Então, não nos rebaixemos ao nível deles.

Antes de criticar, pesquisem!
Antes de comentar, leiam!

Afinal, é a nossa desinformação que da forças para eles.

E é isso...

Para quem quiser se informar mais sobre ECT, seguem os links abaixo:

scielo.br/pdf/rbp/v31s1/…

ajp.psychiatryonline.org/doi/10.1176/ap…

www8.tjmg.jus.br/presidencia/pr…

pepsic.bvsalud.org/pdf/pcp/v28n2/…

Conhecimento nunca é demais!