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O que vocês acham de...

1 like = 1 vez que o futebol se misturou com política
1. Genoa vencia o Bologna por 2-0. O goleiro defendeu um chute à queima-roupa, árbitro assinalou escanteio e uma galera invadiu o campo. Quem tava por trás da invasão era um camisa negra colega de Mussolini. Juizão deu gol e BOL empatou no fim. O campeão daquele ano? Bologna.
2. Teve jornal dizendo que o Bologna conseguiu só conseguiu reverter o resultado (foram 5 jogos pra decidir o campeão de 1925) pelo “interesse” desse camisa negra chamado Arpinati. A coincidência foi que ele se tornou presidente da federação no ano seguinte.
3. Vários estádios na Itália foram construídos durante o regime para impressionar e/ou homenagear os fascistas: Nazionale em Roma, Artemio Franchi em Florença, Filadelfia em Turim... o da Atalanta originalmente se chamava Mario Brumana, ex-militar
4. Contam que o general Vaccaro, que conduziu a organização da Copa de 34 com a Fifa, proibiu que o zagueiro Monzeglio continuasse no time titular depois da estreia no Mundial seguinte. Resultado: o preferido Foni começou o jogo e Monzeglio nunca mais atuou pela seleção
5. Itália usou uniforme preto contra a França na Copa de 38 sob ordens de Mussolini -- que inclusive já tinha deixado o clima do Mundial daquele jeito às vésperas do torneio: declarou apoio a Franco e hostilizou o antifascismo francês
6. Casale foi campeão italiano 1x. Um dos craques do time era o meia Barbesino, líder fascista em regiões do norte do país. Na década de 40, ele se alistou nas Força Aérea. Curiosidade: o fundador do clube era um judeu que foi capturado pela milícia e enviado à Auschwitz
7. Os judeus austro-húngaros se lascaram bastante no período que antecedeu a 2a Guerra. A campanha antissemita do regime (aliado às leis que proibiam estrangeiros na Serie A) fizeram com que eles buscassem proteção em outros lugares
8. Por ex: Arpad Weisz foi forçado a virar técnico, lançou um garoto chamado Giuseppe Meazza, venceu o campeonato de 1930 pela Inter, levou o Bologna ao bi, deixou o país e foi capturado pelos nazistas
9. Não foram somente os judeus que sofreram um bocado. Carlo Carcano, técnico tetracampeão com a Juventus, foi demitido por razões pessoais. Os jornais comentavam que ele era gay -- uma das tantas perseguições de um governo que enaltecia a masculinidade e desprezava minorias
10. Conhecem a Lucchese antifascista? Era o time treinado por Erbstein, técnico que sobreviveu ao campo de concentração e foi o líder do Grande Torino. Em 1936 ele montou uma equipe com Neri (da Guerrilha Partisan), Scher (comunista declarado), Callegari e Marchini (anarquistas)
11. Marchini, aliás, é campeão mundial. Ele fingiu coçar o joelho depois da vitória contra a Áustria só pra não fazer o saluto romano. Transgressor pra caralho.
12. Livorno com bandeirão de Stálin e Cuba, aqueles negócios e tal, comunismo e subversão.
13. Mas a curiosidade é que Lucarelli, o ídolo do Livorno, foi criado num conjunto habitacional de classe baixa construído pelo regime fascista.
14. Chega de Itália. Em breve tem texto completo na @calciopedia. Sem spoilers.
15. Só mais uma: Mussolini adorava futebol, esgrima, natação e era ruim em tudo. Não ligava muito em ver sua Lazio perdendo o campeonato para a Juve porque era mais importante manter um relacionamento saudável com a família real que comemorar título
16. O ex-jogador Sollier costumava falar nos anos 70 que não podia chamar os torcedores da Lazio de "torcedores da Lazio". O correto era "os fascistas da Lazio"...
17. Existe uma ilação perigosa nisso, ainda mais agora. Parece que só existe extrema-direita na torcida da Lazio. Tem neofascista em tantas organizadas que, olha... É o terceiro grupo político mais representado entre os ultras
18. Juve, Lazio, Milan, Fiorentina e Reggina punidas. Inter saiu ilesa e ainda ganhou um título de graça. Calciopoli daria uma baita série sobre favorecimentos e coincidências
19. Black Stockings não durou um ano, mas o time marcou o futebol turco: foi o primeiro clube de muçulmanos no país, desafiando o Império.
20. Na verdade, "um ano" foi bondade. O Stockings durou precisamente um jogo: uma derrota contra um selecionado grego encerrado antes do fim porque a polícia invadiu a partida para levar a maioria das pessoas sob custódia
21. No começo do séc 20, somente as minorias do Império Turco-Otomano (gregos, ingleses, judeus, armênios) podiam jogar futebol. Para os muçulmanos, o esporte era uma maneira desprezível de se comportar. O Stockings nasceu da vontade de Fuad Hüsnü Bey, filho de um militar
22. Bey é muito importante para a consolidação do futebol na Turquia. Usando o nome Bobby para escapar do regime, foi campeão por Galatasaray, treinou o Fenerbahçe e recebeu honrarias nos rivais.
23. Lembra daquela treta de Modric de falso testemunho? A história corre pelo futebol croata desde a independência do país... globoesporte.globo.com/futebol/futebo…
24. O crescimento vertiginoso do Dinamo Zagreb está diretamente ligado ao processo de independência da Croácia, a vitória do presidente Franjo Tudjman e ao cartola Zdravko Mamic -- o da treta com Modric. Nepotismo, evasão fiscal, negociações indevidas que beneficiavam o clube...
25. Tudman, como Mussolini (já que ele foi mencionado acima), foi mais um político que usou o futebol como mobilizador social; a luta por uma causa nacional.
26. Esse tipo de nacionalização explica porque o clube mudou de nome para HASK Grandaski (1992) e Croatia Zagreb (1993). O Dinamo precisava deixar a alcunha "stalinista, bolchevique" no passado.
27. Os torcedores nunca aprovaram as mudanças forçadas, e Dinamo voltou em 2000.
28. O Perugia tinha um presidente muito doido que falava uma porção de asneiras. Queria porque queria que falassem (bem ou mal) do clube. Como qq propaganda vale, por que não sair no noticiário internacional por assinar com o filho do ditador Gaddafi? calciopedia.com.br/2018/07/jogado…
29. Contam que Saadi era gente boníssima, mas, como jogador, era ruim pra caralho. Ia falar que dava dó, só que precisava de algo a mais para afetar dessa forma.
30. “As tropas de ocupação de Franco entraram na cidade. A quarta organização a ser expurgada, depois de comunistas, anarquistas e separatistas, era o Barcelona Football Club”. Símbolo de resistência
31. Primo de Rivera, general que instaurou a ditadura pré-Franco, proibiu a bandeira da Catalunha, baniu a língua em lugares públicos, fechou o Camp Nou depois que a torcida do Barça o vaiou e “pediu” para o presidente Gamper deixar o país para nao sofrer “consequências”
32. Sunyol, outro presidente do Barça, foi preso e executado pela milícia fascista durante os primeiros anos do regime de Franco
33. No Estado totalitário, Franco tinha força para punir a região que se opôs ao golpe por tempo demais: mandou matar um monte de gente, exército bombardeou o prédio com troféus do Barça e tentou destituir o clube de toda a identidade -- com nome castelhano e sem bandeira catalã
34. Célebre frase do diretor de segurança do Estado no vestiário do Barça: "não se esqueçam de que alguns de vocês só estão jogando pela generosidade de um regime que lhes perdoou a falta de patriotismo". Semifinal da Copa Generalíssimo Franco. Barça perdeu pro Real por 11x1
35. Não era para falar sobre Itália, mas vou aproveitar o novo decreto do presidente: o meia Re Cecconi era um dos poucos atletas da Lazio dos anos 70 que não portava arma de fogo. Ele foi morto com um tiro no peito ao simular assalto a uma joalheria. calciopedia.com.br/2016/08/re-cec…
36. Essa Lazio é bem significativa, fruto do seu tempo. A maioria dos jogadores carregava as armas pra cima e pra baixo. Costumava usar as pistolas como diversão: atirando em pássaros, lâmpadas (um dos jogadores não queria sair da cama para apagar a luz) e torcedores da Roma
37. O craque da equipe era Chinaglia, atacante troncudo que não levava desaforo pra casa. Chegou a dizer que votaria em Giorgio Almirante, do declaradamente neofascista MSI, porque "ele não era político e estava fora do jogo político vigente" (já ouviu esse papo antes?)
38. Chinaglia era, acima de tudo, provocador. Enquanto o companheiro de time Martini, que também declarou voto no MSI, virou político de direita, o atacante perdeu duas eleições nos anos 90 quando integrava partidos de centro e centro-esquerda.
39. Moderar o discurso não é novidade. Di Canio fez o mesmo depois que virou treinador.
40. Tem jogador na Itália com uma coleção de bustos de Mussolini.
41.
42. Iribar e Kortabarría cometendo um ato proibido: carregar a bandeira do País Basco antes do clássico de 1976. Governo havia banido manifestações semelhantes porque a bandeira estava relacionada ao ETA.
43. Tudo orquestrado por esse senhor. A idealização foi de Uranga, reserva da Real Sociedad, que conversou com os companheiros de time e do Bilbao. Bandeira passou pela revista porque ele a enfiou dentro da mochila -- e a polícia não verificou.
44. Os estádios Camp Nou, San Mamés e Atotxa eram uns dos poucos lugares que catalães e bascos podiam expressar a própria cultura sem ir para a prisão no período franquista.
45. A moda de contratar nigerianos nos anos 2000 era uma afronta, uma humilhação para os ucranianos que quase perderam o futebol após a queda do regime soviético.
46. Lviv é um caso interessante porque o Karpaty abraçou o futebol cosmolita, contratando jogadores de outras nacionalidades para um time tradicionalmente local.
47. Lviv tinha uma diversidade racial grande antes da 1a Guerra. Durante a 2GM, atuaram com os alemães contra inimigos comuns porque achavam que ganharam pouco no período glorioso da cidade. Lviv rejeitava a Ucrânia do Leste, abraçando o sistema soviético.
48. Aí veio 1969 e a Copa da URSS, derrotando o Rostov em Moscou. A alegria de cantar canções ucranianas na casa daqueles que lhes haviam imposto o comunismo. Loucura.
49. Limito-me a dizer que o Basaksehir é o time do governo. Se outros populistas usaram o futebol, por que Erdogan não usaria?
50. Torcedores do Estrela Vermelha conseguiram pertencer às tropas de choque de Milosevic e, anos depois, aderiram ao movimento anticomunista, cantando "mate-se, Slobodan" no estádio
51. A cantora Ceca, presidente do Obilic, afirmando que condenava "qualquer tentativa de transformar esporte em política". Foi colocada no cargo depois que a Uefa baniu o marido dos estádios. Ele foi um nacionalista que liderou tropas para matar croatas e bósnios na Iugoslávia
52. O Obilic chegou a vencer o campeonato na gestão do nacionalista Arkan. Segundo ele, o segredo do sucesso era que o clube pagava os maiores salários do país e que replicava disciplina militar. Segundo outros, ameaçou matar um atacante adversário se marcasse contra o Obilic
53. O estádio Nacional foi usado como centro de detenção para os subversivos e local para tortura durante o regime de Pinochet. Um povo sem memória é um povo sem futuro.
54. Ano passado os jogadores da seleção chinesa foram obrigados a cobrir as tatuagens com bandagens ou similares. Foi o “é muita selfie e chuteira colorida” deles
55. Arsenal viajou à União Soviética em 1954 para realizar alguns amistosos e fortalecer a relação diplomática entre os países. Primeiro jogo: Dinamo Moscou. Tomou um vareio de 5x0
56. A grandeza e a influência da Juventus na Itália está (in)diretamente associada à Fiat. Clube sempre foi caracterizado pela nobreza. Os Agnelli eram como a monarquia não-oficial da Itália; piadas falavam que o papel do primeiro-ministro era polir a maçaneta da família
Turim era o sonho nova-iorquino da Itália nos anos 50: modernidade, sucesso... A Juve se tornou queridinha pelo fluxo sulista para trabalhar na montadora-símbolo. Tornar-se juventino era o passo seguinte - ainda mais vendo conterrâneos no time (Anastasi, Cuccureddu, Causio)
58. Momentos importantes da relação Juve-Fiat: a morte do presidente Agnelli em 1935 fez com que o clube gastão interrompesse os investimentos; os outros italianos a seguiram. Em 78, o Vicenza ofereceu mais que a Juve por Paolo Rossi num período complicado para a montadora
59. Nos anos 90, o braço-direito dos Agnelli foi pego na operação Mãos Limpas, a Fiat se retirou das categorias não-automobilísticos para salvar a fábrica afundada em dívidas e a Juve viu a oligarquia de Berlusconi alçar o Milan a uma concorrência assustadora
60. NYT acabou de publicar uma reportagem sobre os jogadores chineses sendo obrigados a cobrir as tatuagens. As autoridades querem que eles promovam "bons valores" para as próximas gerações: nytimes.com/2019/01/16/spo…
61. O lema "black, blanc, beur" (preto, branco, árabe), famosíssimo quando a França miscigenada conquistou Copa do Mundo e Euro, foi usado para contrapor as ideias do líder da Frente Nacional. Le Pen dizia que nenhum imigrante podia ser considerado francês
62. O mesmo Le Pen continuou a proferir frases racistas durante o Mundial de 2006. Para o extrema-direita, tinha muita gente "de cor" na seleção. No ano seguinte, um dos fundadores foi expulso do partido socialista ao dizer que a seleção era muito preta.
63. Thuram chegou a responder Le Pen, falando que o político "claramente não sabe sobre a história ou a sociedade francesa". Vale a pena assistir Les Bleus (tem na Netflix):
64. Também tem o Bola no Asfalto, sobre futebol de rua e socialização de brancos, negros e árabes da periferia através do jogo
65. "Quando as coisas corriam bem, eu lia os artigos de jornal e eles me chamavam de Romelu Lukaku, o atacante belga. Quando as coisas não corriam bem, eles me chamavam de Romelu Lukaku, o atacante belga descendente de congoleses"
66. Gyula Limbeck, técnico responsável por levar conceitos técnico-táticos europeus para a União Soviética nos anos 30. Foi preso e executado por razões desconhecidas depois de amistosos na Espanha
67. O maior clássico da Jordânia bota frente a frente clubes de ideologias opostas: Al Faisaly, dos jordanianos “puros”, e Al Wihdat, fundado como representação dos refugiados palestinos
68. Times de futebol judeus existiram aos montes na rabeira da 1a Guerra. Era comum encontrar clubes que vestiam o sionismo em Berlim, Praga, Linz, Viena, Budapeste... Vivia-se o nacionalismo judaico, e não o do país onde floresceram
69. Estrela de Davi no peito, uniformes costumeiramente azul e branco, Israel da cabeça aos pés. Se os pais achavam o futebol violento e sujo, os filhos, jogadores, idealizavam a liberdade do antissemitismo pelo esporte
70. Um desses clubes saiu da burguesia de Viena, o Hakoah. Por um lado, era o pretexto perfeita para os torcedores rivais antissemitas gritarem “judeu sujo” ou “porco judeu” durante os jogos
71. Por outro, o Hakoah excursionava pelo mundo como uma equipe atual - 46 mil pessoas assistiram a uma partida em Nova York em 1925! A diferença é que espalhava o sionismo ao invés de vender o nome ou imagem.
72. Essa visita aos EUA foi o começo do fim. Os jogadores ficaram alucinados com NY e nove emigraram para a cidade no ano seguinte. Hakoah ficou enfraquecido e aguentou até 1936, quando a liga fechou o clube e deu o estádio aos nazistas
73. Torcedores argentinos recebendo a Seleção no Sul-Americano de 36-37 aos gritos de “macaquitos”. O apelido racista está associado à Guerra do Paraguai. Era assim que os soldados guranis se referiam aos escravos brasileiros libertos que estavam nas batalhas
74. Getúlio colocou o homem forte, líder do Departamento de Propaganda, como chefe da delegação brasileira na Copa de 34.
75. Lourival Fortes foi quem idealizou a revista de extrema-direita Hierarquia e participou das conversas que resultariam no nascimento da Ação Integralista Brasileira.
76. A presença dele na Seleção se deu pela recomendação para os jornais pararem de criticar o time com dificuldades de formação — a rixa entre paulistas x cariocas, FBF x CBD, profissionais x amadores.
77. Os técnicos soviéticos apropriaram conceitos do socialismo no fim da década de 30; um propósito de rebelião contra as táticas. Sem intercâmbio cultural, os times da URSS permaneciam atuando no 2-3-5 enquanto a Europa continental já tava no WM.
78. Uma fagulha da mudança foi acesa durante uma visita do selecionado basco à União Soviética, turnê para conscientização da resistência anti-Franco. O melhor resultado dos russos foi um empate de um combinado de Leningrado (tomou vários coros...)
79. O governo desejava qualquer resultado positivo e pressionou o técnico Starostin. Ele achava que o Spartak atuava de forma obsoleta e resolveu fazer uma versão defensiva do WM. No jogo, vitória de 6x2 contra os bascos. 🎉
80. Paralelamente, outras equipes soviéticas buscavam repensar o jogo. Enquanto o Spartak ia bem (foi campeão em 38), o rival Dynamo capengava. O líder da KGB e benfeitor do clube pediu resultados rápidos ao técnico Arkadyev.
81. Arkadyev encontrou a solução de uma forma simples: permitiu e encorajou a movimentação dos jogadores. Ao se deparar com marcação individual, os jogadores do Dynamo eram ainda mais ligeiros: passes rápidos, curtos e jogo fluído. Em 40, clube foi campeão
82. Depois que foi contratado pelo CSKA (CDKA, à época), Arkadyev continuou aprimorando seu estilo. Dizem que foi o primeiro treinador a usar quatro defensores em linha. De qualquer forma…
83. O técnico Sebes capturou as ideias dos soviéticos e deu forma à Hungria de 50. "Futebol socialista", chamavam, pois era formado por jogadores que melhor combinavam uns com os outros. Cinco anos de invencibilidade com direito a humilhação inglesa (vencendo em Wembley por 6x3)
84. Old Firm: alguém? Essa é conhecida.
85. Rangers e Celtic revivem uma treta não finalizada em torno da Reforma Protestante: o primeiro, fruto do calvinismo do século 16 que extirpou quem duvidava da existência de Deus e boa parte do papismo na Escócia; o outro, os católicos pobres excluídos da sociedade.
86. Durante a 1GM todos os funcionários do Rangers precisavam ser protestantes. Nem mesmo casamento com católicos era tolerado pros executivos que almejavam promoção. Nos anos 80, torcedores organizaram velórios quando jogadores católicos foram contratados — morte da identidade
87. Teve até uma filial da KKK fundada pelos Billy Boys. O nome é uma associação a uma gangue de Glasgow, nos anos entreguerras, que agredia católicos
88. O clã Gaddafi era parça italiano: estampou Tamoil nas camisas de Atalanta e Juventus, teve ações do clube bianconero e da Unicredit... O presidente da petrolífera Eni era amigo do ditador. Qual foi a surpresa quando Trípoli foi escolhida pra sediar a Supercoppa de 2002?
89. Le Classique é o dérbi das classes: o PSG, de uma Paris patriota/nacionalista, contra o Olympique, da Marselha multicultural e racial. Norte x sul. Burguesia x classe trabalhadora.
89. A torcida do Celtic com bandeiras da Palestina num jogo de Liga dos Campeões contra o Hapoel Be’er Sheva como protesto contra o tratamento do governo israelense. Ato de compaixão de um clube que começou a jogar bola para arrecadar fundos para os irlandeses pobres de Glasgow.
91* porque errei o número

Guardiola e a Catalunha.
92. Salah usou o nº 74 na Fiorentina como lembrança aos torcedores mortos na partida entre Al Masry e Al Ahly, em 2012, no estádio Port Said.
93. Foi algo absurdo. O Al Masry virou contra o então campeão e que ainda estava invicto. Os torcedores do Al Masry invadiram o campo, agrediram os jogadores rivais e o elenco teve de se refugiar no vestiário. Depois, partiram pra cima dos fãs do Al Ahly.
94. O governo do Iêmen usou o futebol para promover a unificação dos povos das repúblicas recém-unidas do norte e do sul e interferiu na cara dura -- desde a escolha de jogadores a administração dos clubes
95. Rengasamy é um jogador mítico na Malásia. Entre os poucos documentos publicados, conta-se que ele foi um goleiro fenomenal. Teve a chance de disputar as Olimpíadas no auge da carreira, mas a seleção aderiu ao boicote americano e não foi à Moscou-80
96. O retrato de uma Itália preconceituosa e a dificuldade em ser um jogador gay: espnfc.espn.com.br/juventus/gazze…
97. O Ajax é produto de uma Amsterdam denominada “Jerusalém do Oeste” antes da 2GM devido a quantidade de judeus na cidade. Torcedores de equipes provincianas tinham o primeiro contato com judeus justamente no caminho pro estádio De Meer, região dos imigrantes
98. O antissemitismo caminha junto. Torcida do Feyenoord cantava “Hamas! Hamas! Judeus para o gás”. Um jogador do Den Haag tomou gancho de 5 jogos que entoou “nós vamos caçar judeus!” depois de uma vitória em 2011.
99. A história que mais gosto: o chute de Boban em um policial, e a meia-verdade simbólica e poética que culminou na queda da Iugoslávia e início da Guerra da Independência.
100. Os clássicos da década de 80 entre Dinamo Zagreb, Hajduk Split, Estrela Vermelha e Partizan já eram bastante violentos. O episódio de 1990 no Maksimir entre Dinamo e Estrela foi só o estopim do vulcão que estava prestes a explodir nos Balcãs.
100.1 O futebol iugoslavo também estava combalido. Era o espelho de um país com inflação alta, risco recorrente de desemprego, insegurança social e pedidos de autonomia por algumas repúblicas (como Croácia e Eslovênia)
100.2 A Croácia vivia um momento de nacionalismo (a nível nacional) e utilitarismo (individual) após a eleição vitoriosa de Franjo Tudjman. No jogo, os croatas cantavam “sérvios ciganos” enquanto os adversários respondiam com “nós vamos matar Tudjman”.
100.3 O jogo foi suspenso. O chute que o capitão Boban deu no policial para ajudar um torcedor que era agredido foi somente um dos atos entre vários que aconteceram dentro do Maksimir e nas ruas de Zagreb. À frente das brigas, as organizadas Delije (Estrela) e BBB (Dinamo).
100.4 Claro que cada um jogou para o lado oposto. Croatas disseram que a polícia protegeu os torcedores do Estrela e atacou somente a BBB. Os sérvios contaram que o evento foi planejado minuciosamente pelo novo governo vizinho.
100.5 Se Boban “iniciou a guerra”, a república acabou cinco meses depois num jogo entre Hajduk e Partizan. A Torcida invadiu o campo e ateou fogo na bandeira iugoslava como uma agressão ao que o símbolo e o estado representavam.
100.6 A mudança política era brusca como em qualquer nação pós-socialista: a troca do totalitarismo para uma democracia, transição do sistema econômico e o processo sóciocultural para aglutinar todas essas substituições.
100.7 As perdas da guerra fez com que o futebol tivesse um papel importante na construção do sentimento de união para o povo croata no pós-guerra — sobretudo com o presidente legitimando o esporte como motivo de orgulho.
Fim da thread.
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