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Apr 28, 2019 69 tweets 14 min read
– Dog whistle:

O "apito para cães" é uma estratégia de comunicação que envia uma mensagem da qual a população em geral tira um certo significado, mas um grupo específico compreende a mensagem secreta. Muitas vezes envolve palavras de código.
– Cruzadas:

Para a "alt-right", é a guerra que teria salvo o ocidente, ou a "moral judaico-cristã", de um fim precoce. De quebra, resulta na estrutura que permite a espanhóis e portugueses descobrirem e colonizarem a América com a mesma moral religiosa.
Esse entendimento das Cruzadas pode ser conferido neste episódio da série A Última Cruzada, do Brasil Paralelo. No vídeo, depoimentos de Olavo de Carvalho e outros.
Vocês devem conhecer o Brasil Paparelo do filme "1964 - O Brasil entre armas e livros", que revisita o golpe de 1964 e, no último março, causou bastante polêmica. Olavo de Carvalho também é fonte do material.
– Deus vult:

Era o grito de guerra quando a Primeira Cruzada se iniciou, em 1095. Na ocasião, a Igreja Ortodoxa queria ajuda para interromper a expansão islâmica. Hoje, virou grito de guerra da "alt right".
A alt-right entende hoje que a esquerda se articulou com o islamismo para destruir o ocidente. E que cabe a essa geração inspirar-se nas cruzadas para lutar contra o que seria um "genocídio branco".
Em resumo, como os brancos europeus têm cada vez menos filhos, e os imigrantes que para lá se mudam têm cada vez mais, seria uma questão de tempo para que o continente fosse tomado pelos "invasores".
Como o Brasil não é "branco", não fazia sentido importar para cá a teoria do "genocídio branco". Aqui, a mesma missão recebe um verniz ainda mais religioso. Assim, a defesa do branco foca-se mais da defesa da "moral judaico-cristã".
– Direita limpinha:

Esse termo começou a ser usado na campanha de 2018 para se referir pejorativamente a uma direita que tinha escrúpulos, que não tolerava o jogo sujo, como o uso de mentiras e linchamentos virtuais em benefício de um candidato.
Eu vejo na mistura ingredientes explosivos. Porque é tênue a linha que separa a defesa do branco – que me parece legítima como a defesa de qualquer raça – da defesa do branco como uma raça superior.
E entendo que apenas valores morais sólidos podem impedir que um garoto migre da primeira ideia para a segunda.

Contudo, vivemos num tempo em que vencem eleições recriminando qualquer moralismo, vide a expressão "direita limpinha".
– Christchurch:

É como se referem a um atentado cometido por um supremacista branco de extrema-direita contra muçulmanos na Nova Zelândia. Ao todo, cinquenta pessoas morreram, e outras cinquenta ficaram feridas.
Neste atentado, o terrorista publica um manifesto que abre com um poema de Dylan Thomas e faz menção ao Great Replacement, à batalha de Lepanto, ao chan mais famoso da web e ao maior terrorista norueguês.
The Great Replacement é justamente a teoria conspiratória segundo a qual a Europa será destruída com os brancos sendo substituídos por imigrantes.
A batalha de Lepanto é considerada aquela que interrompeu a expansão islâmica no Mediterrâneo. E foi eternizada num poema de G. K. Chesterton.
poetryfoundation.org/poems/47917/le…
Chans são fóruns que, na web e na deep web, permitem discussões protegidas pelo completo anonimato. De uma ferramenta para humor ácido, rapidamente foi tomada para a proliferação das ideias mais extremistas.
Especula-se que Dylan Thomas escreveu o poema "Do not go gentle into that good night" para o pai enfermo. Mas, claro, há como interpretá-lo de várias formas. Eu o entendo como um pedido para que a pessoa não se deixe morrer sem lutar.
Ao matar 77 pessoas, o terrorista norueguês publicou um manifesto que tinha por base um artigo de 1992 sobre o que seria uma "Nova Idade das Trevas".
– Massacre de Suzano:

Atentado ocorrido em Suzano dois dias antes de Christchurch. Ao todo, morreram dez pessoas, a maioria crianças, incluindo os dois terroristas.
O massacre de Suzano foi tramado num chan da deep web. A senha para o início do atentado foi a publicação de Pump It Up Kicks, música do Foster The People que já tinha sido usada como hino de um massacre que matou 60 pessoas em Las Vegas há dois anos.
O refrão de Pump It Up Kicks é lido nos chans como uma homenagem a mass shootings como o de Suzano:

"Todas as outras crianças com sapatos caros, é melhor vocês correrem mais rápido do que a minha bala."
Os ideais que norteiam os terroristas de Suzano são tão extremos que defendem que todos eles se matem. Mas, antes, matem outras pessoas da forma que mais cause indignação. Por isso a preferência por mulheres e crianças.
Neste ponto, eu me pergunto se o verso "do not go gentle into that good night", de Dylan Thomas, não se encaixa como uma luva.
Volto ao significado de dog whistles.

A humanidade não escuta o som do apito para cães, mas os cães escutam.
Da mesma forma, a população consome artistas como Foster The People, Dylan Thomas e Chesterton, mas militantes radicais percebem nas suas obras símbolos de algumas sinalizações de "virtudes", que podemos aqui chamar de "sinalizações de vícios".
Isso, contudo, nem sempre se dá por palavras. Pode ser também uma questão de estilo.
– Fashwave:

É, digamos, uma assinatura estética da alt-right. É uma arte suja, suicida, retrô e futurista. Trabalha poucas cores, como se nascesse de um monitor com problemas. Costuma se focar em personagens como Hitler, Trump e o Exército dos Confederados.
Mas preciso voltar à Copa do Mundo de 2018. A Bélgica enfrentava o Brasil. E a imprensa destacava que 12 dos 23 jogadores belgas eram imigrantes, com nove deles oriundos de nações africanas.
exame.abril.com.br/negocios/mgapr…
Após a derrota do Brasil, Filipe Martins disse que a Bélgica nem seria uma nação, e que Jair Bolsonaro iria lutar contra "tudo o que eles representam".
Jair Bolsonaro venceu a eleição. Filipe Martins, até então celebrado como "melhor aluno de Olavo de Caravalho", tornou-se assessor internacional do presidente. Mas atuaria forte por cargos no MEC e Itamaraty.
Numa das investidas, pontuou o início e o final da crise com trechos do poema de Chesterton dedicado à batalha de Lepanto, a mesma que marcou o fim da expansão islâmica e serviria uma semana depois de inspiração ao terrorista da Nova Zelândia.
Um dos entusiastas de Olavo encaixado no MEC virou notícia por plagiar aquele artigo de 1992 que servira de inspiração ao manifesto do terrorista norueguês, o mesmo terrorista que inspiraria o da Nova Zelândia.
complemento.veja.abril.com.br/pagina-aberta/…
Quando a Catedral de Notre Dame pegou fogo, Martins se pronunciou assim.

"É preciso dar mais atenção e ter mais cuidado com a nossa civilização. O Ocidente está sendo destruído, mas quem quer que diga isso é alvo de chacota."
oglobo.globo.com/mundo/assessor…
E o próprio Jair Bolsonaro, certamente assessorado por Martins, trabalhou a mesma ideia, mas sem ir com tanta firmeza aos termos.
No dia 23 de abril, Martins se reuniu com o embaixador da Nova Zelândia. Sem especificar a data, a Folha percebeu no 26 de abril que Martins estampou no cabeçalho do próprio perfil o poema que abre o manifesto do terrorista da Nova Zelândia.
www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/04/…
Muitos argumentaram que o poema de Thomas permeia a cultura pop há décadas, o que é verdade. O próprio Martins assim se defende. Mas é preciso também atentar à estética usada no cabeçalho de Martins. Pois em muito se assemelha ao fashwave. Comparem.
Não acho correto afirmar que o bolsolavismo fez qualquer coisa em homenagem aos terroristas de Suzano, Noruega e Nova Zelândia. Mas acho razoável concluir – e alertar! – que bebe das mesmas fontes de informação. E que elas, como venho apontando, levam ao extremismo.
"Mas Jesus lhe ordenou: 'Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão!'"

Mateus 26:52
"Fash" de "fashwave" é uma referência a "fascist". Numa tradução literal, "fashwave" significa "onda fascista".
Um adendo importante (obrigado pela intervenção):
Filipe Martins apagou o tweet sobre a Bélgica. Mas eu salvei uma cópia antes.
archive.li/xhoia
Além de apagar o tweet sobre a Bélgica, Martins reagiu a essa thread com... Ironia.
Enquanto isso, estou aqui tentando entender quem é Kevin MacDonald, figura que causou algum nível de interesse no assessor internacional do presidente da República.
Kevin MacDonald é um "professor de psicologia cujos escritos sobre os judeus têm sido usados para apoiar os pontos de vista dos supremacistas brancos".
latimes.com/archives/la-xp…
No resumo que este link apresenta sobre a teoria, MacDonald entende que, por serem uma minoria, seriam os judeus uma força que faz lobby por respeito a minorias, enfraquecendo as maiorias que os governam.
Nesta reportagem de 2012, MacDonald surge dizendo que os brancos serão minoria nos EUA em 2042. E que, "quando os brancos são minorias, há a preocupação de o país não mais ser o mesmo".
huffpostbrasil.com/2012/11/16/kev…
Esta outra matéria de 2017 na New Yorker parece dialogar bem com a thread. Destacarei alguns pontos.
newyorker.com/magazine/2017/…
Sobre um supremacista chamado Mike Enoch:

"Uma de suas páginas é configurada para aceitar doações em dólares ou bitcoins; outra é dedicada a 'fashy memes', canções e imagens que exaltam o fascismo em um tom joking-but-not-joking."
A matéria cita aquele evento com tochas em Charlottesville. Eis um trecho de um discurso lá feito por Enoch.

"Estamos aqui para falar sobre o genocídio branco, a deliberada e intencional substituição da raça branca."
E mais:

"Nós conhecemos a teoria conspiratória do privilégio branco? Este é um conceito que nos foi trazido pelos intelectuais judeus para minar nossa confiança em nós mesmos.”
O tal Mike Enoch tem um podcast cujo nome faz um trocadilho com holocausto. Uma dos memes praticados pelos apresentadores é chamado de "echo". No caso, consiste em pronunciar sobrenomes judaicos com voz anasalada e um efeito de eco.
Esse meme também é feito ao escrever, incluindo o sobrenome judaico em três parênteses.
Em 2015, o livro mais famoso de Kevin MacDonald foi lido no podcast do supremacista. E descrito como "importante e devastador, algo que peço a todos para que leiam".
Eu sigo mais de 3 mil perfis, principalmente de políticos. Quando sigo o assessor internacional do presidente e visito o perfil de Kevin MacDonald, percebo que deste universo de 3 mil, só ele e o Daily Caller, que segue mais de 30 mil, seguem o autor adorado pelos supremacistas.
Em 23 de abril passado, Olavo de Caravalho escreveu uma carta aos "generais e similares", que abre com os dizeres que destaco no próximo tweet:
facebook.com/olavo.decarval…
"Carl Schmitt definia a política como aquele setor da atividade humana no qual, sendo impossível a arbitragem racional das divergências, só restava juntar os 'amigos' contra os 'inimigos'."
No 26 de abril, o Clube Militar, na pessoa do coronel Sérgio Paulo Muniz Costa publicou "Desgravo e alerta". Vou destacar aqui alguns trechos:
clubemilitar.com.br/desagravo-e-al…
"É inadmissível que expoentes dessa linha exótica de pensamento, independentemente de onde estejam, continuem a exibir suas preferências ideológicas sem serem reprovados pela sociedade brasileira..."
...usando saudações fascistas na conclusão de seus discursos ou citando em suas análises desmioladas Carl Schmitt, o teórico constitucional que se colocou a serviço do Terceiro Reich."
"Onde estão os verdadeiros jornalistas, juristas e historiadores do País que não denunciam as terríveis similitudes que existem entre esses valentões de internet e os arruaceiros que tomavam as ruas nos anos 30 do século passado..."
"...enfrentando os comunistas para decidir quem teria a primazia de destruir a democracia liberal que sempre odiaram? Não sabemos onde pretendem chegar esses baderneiros ideológicos que já se sentem seguros o suficiente para não esconderem o que são."
"Sabemos sim que os militares brasileiros, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, souberam repudiá-los, recusando-se a assistir desfiles de camisas verdes integralistas no 7 de Setembro..."
"...ou deixando o auditório da Escola de Estado-Maior do Exército durante a exibição pelo adido militar alemão do filme de propaganda da campanha nazista na Polônia."
"O tempo e os acontecimentos se encarregariam de nos levar a vencê-los nos campos de batalha da Itália, mas, bem antes disso, nossa nacionalidade já havia nos mostrado que teriam de ser enfrentados."
"Portanto, enquanto a sociedade brasileira não desperta para mais um perigo que a espreita, resta aos seus militares, quais sentinelas da Pátria, permanecerem alertas, antes de tudo, àqueles que querem silenciá-los."
O coronel Muniz Costa reclama que usam "saudações fascistas na conclusão de seus discursos". Desconfio que ele se refere a Ernesto Araújo, que concluiu o discurso de posse com "anauê jaci". "Anauê", como explica a Veja, era uma saudação integralista.
veja.abril.com.br/mundo/vamos-li…
Quando escrevi essa thread, alguns alertaram que o emoji 👌 seria outro dog whistle explorado pelos supremacistas. Há quem defenda que não seja. Mas neste vídeo vemos claramente o uso do gesto.
Isso, claro, não quer dizer que todo mundo que faça uso do emoji seja supremacista. Mas que, dentro da “tribo” deles, é mais uma das assinaturas exploradas.

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