O texto de Risério é rico em várias e graves evidências anedóticas de que há racismo da parte de movimentos identitários contra várias etnias, mas não procura demonstrar estatisticamente que este seria um problema para a sociedade priorizar…
Até que se dê a esta missão e nela tenha sucesso, vai apanhar (com certa razão) de quem carimba os episódios de isolados — não dá pra afirmar que são regra ou exceção, mas o ônus da prova cabe a quem acusa.
Este é o primeiro ponto.
Não gosto do uso que fazem da expressão "racismo reverso”. Passa a sensação de que o racismo nasceu com o tráfico negreiro, e só as vítimas desse mal poderiam reclamar do preconceito sofrido. Quando racismo infelizmente existe na humanidade desde que a humanidade existe…
…é praticado entre povos de um mesmo continente, pais ou região, e infelizmente não temos registro de uma terra abençoada ao ponto de não precisar lidar com chaga tão dolorosa.
O argumento parte do pressuposto de que uma vítima de preconceito seria incapaz de ser preconceituosa. Mas eu mesmo, que já sofri preconceito por ser nordestino, preciso constantemente domar meus preconceitos, pois corriqueiramente me pego diante de um novo que estava silenciado.
E tenho certeza de que não sou o único. Até porque já testemunhei várias vítimas de preconceito sendo preconceituosas das mais variadas formas, na maioria das vezes sem perceber o mal que praticavam.
Eu me preocupo com o uso que farão disso tudo. Picotado em cards, o texto de Risério tem toda uma campanha pronta para eleger vários parlamentares de extrema-direita. É só jogar no Telegram e deixar o engajamento dos supremacistas espalhá-los.
Ao mesmo tempo, Risério é apenas o mensageiro do radicalismo de terceiros. O radicalismo, não importa de onde venha, precisa ser contido. E não vejo esforço dos moderados neste sentido. Pelo contrário, partem para a defesa dos radicais, recorrendo a eufemismos e panos quentes.
Eu passei pela direita e confirmei o que falo agora: sempre que a esquerda comete excessos impunemente, a direita se acha no direito de cometer excesso maior. Com a diferença de que os excessos da direita beneficiam grupos mais poderosos, que a protegem de forma mais eficiente.
Sei que muitos dirão que estou culpando a esquerda pelos erros da direita. Mas, ei, foi com vocês que aprendi a medir as consequências sociais do que pratico. Se a agenda que toco rende como efeito colateral alimento para nazista, a primeira coisa que faço é parar e refletir.
Porque, quando o nazismo cresce, todos perdem, principalmente os mais fracos que pretendíamos proteger. O Sars-CoV-2 até deu preferência a quem não se vacinou. Mas não perguntou o voto de ninguém antes de sair matando milhões.
Ainda que tenhamos outras prioridades no momento, é um tema importante e delicado. Mas Risério me pareceu mais interessado em ofender, e as respostas me pareceram mais interessadas em silenciar a ele e ao jornal, o que só mostra a pouca disposição democráticas dos envolvidos.
Paz.
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Já está bom de o antilavajatismo baixar a bola também. Pois todo dia é um festival de “a Lava Jato é a origem de todos os males” como se corrupção desenfreada que a operação combatia não tivesse nada a ver com isso, nem estivesse servindo de sustentação a Bolsonaro.
“Aras não faz nada!”
Exatamente como o antilavajatismo sempre sonhou.
Imaginei que o “também” do primeiro tweet explicitava uma crítica ao lavajatismo, que está com a bola devidamente baixa. Mas de fato era muito sutil a menção, por isso o reforço aqui.
Contudo, a thread não é sobre a Lava Jato, já muito criticada, mas sobre o antilavajatismo.
Eu me lembro de algumas coisas da morte de Renato Russo.
A família anunciou uma insuficiência respiratória como motivo do óbito.
O médico explicou que se tratava de consequência das AIDS.
A banda confirmou que ele era soro positivo.
Para mim, a questão era que outros soros positivos daquela época seguem vivos até hoje. Renato vem a óbito, segundo publicaram na época, por abrir mão do tratamento. A própria mãe diz que não foi suicídio, mas que o filho simplesmente desistiu de lutar.
E chega a citar uma anorexia nervosa como último ato desse drama.
Há uns 15 anos, Narloch descobriu um modelo de negócios lucrativo. Que penso poder resumir como a publicação de pequenos levantamentos que coloquem em dúvida qualquer ponto pacífico da sociedade…
E não que eu ache que bovinamente devamos aceitar qualquer versão histórica que transcende gerações. Mas o método de Narloch tem graves vícios.
Tudo depende da versão que ele quer vender. Em um capítulo, os rumores sobre algo importam. Em outro, não importam, pois nunca foram provados.